Sem casa e sem família, o ajudante desempregado Luiz Carlos da Silva, 25 anos, resolveu fixar residência em uma das regiões mais nobres e de metro quadrado dos mais caros de Santo André. Há 15 dias, o misto de Tarzan e sem-teto improvisou uma casa em cima dos galhos de uma árvore da praça Ettore Nobeschi, no bairro Jardim. Algumas telhas velhas de plástico para se proteger da chuva, pedaços de madeiras e até mesmo uma campainha dão forma ao novo lar de Luiz Carlos.

“É aqui que eu repouso. Depois, levanto 100%”, disse Luiz Carlos, que a cada frase faz uma louvação a Deus. Ele disse que, em princípio, improvisou uma simples madeira apenas para sentar. Após alguns dias, passou a recolher materiais e sucatas pelas ruas, como telhas, espumas e lonas de plástico colorido. Até mesmo uma lanterna – em forma de abajur – está pendurada em um dos galhos. Contudo, à noite, quando necessário, o jovem acende uma vela.

Luiz Carlos, que disse ter ficado órfão aos 9 anos, morou no Tatuapé, em São Paulo. “Depois que meus pais morreram, vim para Santo André, onde fiquei com a minha avó até uns 18 anos, na rua das Goiabeiras. Aí, saí de casa. Ela morreu e passei a repousar onde Deus queria”, afirmou, ao ressaltar que “é um antigo morador do bairro Jardim”.

A idéia de morar em cima de uma árvore surgiu, segundo Luiz Carlos, após ter visto uma reportagem na televisão. “Estava dentro de uma farmácia, quando vi que um homem tinha construído uma casa parecida”, disse o desempregado, que sobrevive de alguns bicos e da ajuda da vizinhança, que lhe dá alimentos, água e pão.

Mas Luiz Carlos sonha mais longe. Quer montar, um dia, uma empresa de jardinagem. “Aqui só tinha três árvores, e estava tudo abandonado. Fui eu que plantei as outras da praça. Adoro mexer com flores e plantas”, afirmou, ao apontar para uma trepadeira que diz ter plantado no pé de uma das árvores.

Em breve, o discípulo de Tarzan pretende pular para outro galho. De uma árvore mais forte, vizinha ao atual endereço, na mesma praça. “Vou trazer uma poltrona mais forte, regulável, que até deita”, afirmou Luiz Carlos, que na casa atual improvisou uma tábua de madeira para esticar os dois pés em um dos galhos e dormir, sentado.

Luiz Carlos disse que aproveita para cuidar do local. A praça está com a grama alta e um aspecto de abandono. “Gostaria que a Prefeitura construísse aqui uma minirrampa de skate para a diversão da rapaziada”, reivindicou o ex-skatista e fã de Sandy, foto que pode ser vista em um porta-retrato improvisado de uma parede que circunda a praça.