As obras do Gasan 2, gasoduto da Petrobras que corta cidades da região, já removeu mais de 400 mil metros cúbicos de terra e 38 quilômetros lineares da Mata Atlântica, que tem apenas 7,5% do bioma original. Para se ter ideia, um metro cúbico equivale a uma caixa-d'água de 1.000 litros. Isso significa que a quantidade de terra removida daria para encher mais de 400 mil caixas.

A extensão da mancha de devastação passa por Santo André, São Bernardo, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Para mitigar o impacto ambiental da obra, a empresa terá de fazer compensações.

Em Mauá, a previsão é que as compensações ambientais aconteçam fora da zona urbana. Porém, o secretário de Meio Ambiente do município, José Afonso Pereira, disse que negocia com a Petrobras e a Cetesb (Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental) para garantir os retornos para a cidade.

Conforme informou o gestor, as compensações foram definidas em 2006, pela companhia estadual. A decisão foi para que a estatal arcasse com o reflorestamento. "Mas a cidade não possui áreas para essa finalidade. O adensamento humano é muito forte, e os espaços livres são para arborização urbana", apontou Pereira.

Conforme o secretário, a Petrobras está procurando áreas para reflorestar fora do município. "Mas estamos conversando com a Cetesb, para que a compensação mude e a empresa possa fazer a arborização no município", disse.

RETORNOS
Nas outras cidades, a luta por compensações tem apresentado resultados. Em Santo André, por exemplo, o investimento inicial da empresa será de aproximadamente R$ 1,9 milhão. Esse valor engloba a compra de equipamentos de fiscalização ambiental, aporte a projetos voltados para a Vila de Paranapiacaba e duas pick-ups Agrale, entre outros. Além disso, a petrolífera se comprometeu a arcar com as despesas da cobertura da Rua Coronel Oliveira Lima, no Centro.

Em Ribeirão Pires, a Petrobras se comprometeu a bancar o levantamento de contaminação do solo no aterro de inertes e também vai plantar mudas pela cidade. O secretário de Meio Ambiente e Saneamento Básico, Temístocles Cardoso Cristofaro, estimou que as compensações podem gerar mais de R$ 1 milhão. "Esse valor não é repassado diretamente à Prefeitura, pois corresponde aos investimentos em serviços", explicou.

Além do replantio de mudas na área do Rio Perequê, São Bernardo conseguiu junto à Petrobras um curso de educação ambiental, que será estendido para a rede municipal. A empresa repassou à Secretaria de Gestão Ambiental imagens dos animais silvestres e plantas encontrados na zona de obras. Uma cartilha será elaborada para os alunos. Em nota, a Petrobras informou que fará o reflorestamento de 131,22 hectares de Mata Atlântica como forma de mitigação pela intervenção em 69,72 hectares do território verde.

Impacto é grave, aponta ambientalista

Para o ambientalista e geólogo Vinicius Madazio, a faixa de obras do Gasan 2 prejudicou ainda mais o bioma da Mata Atlântica. Além disso, os mais de 400 mil metros cúbicos de solo removidos somam-se ao impacto já causado pelas obras do Trecho Sul do Rodoanel. "É mais uma baixa para a Mata Atlântica, que conserva apenas 7,5% da vegetação natural", ressaltou.

Outro problema apresentado pelo ambientalista foi a divisão da floresta. "A linha que vai receber os dutos fragmenta a mata, o que não é positivo para os animais. Isso é menos danoso que uma rodovia, por conta da travessia, mas não deixa de ser grande impacto."

A preocupação de Madazio é quanto à conservação da área verde. "Precisamos lembrar sempre que a Mata Atlântica é um dos biomas mais devastados do mundo. Qualquer remoção de terra, mesmo que seja um hectare, é uma grande baixa para esse meio ambiente", defendeu.