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Favelados protestam duas vezes na Anchieta
Danilo Angrimani e Mário César de Mauro
Do Diário do Grande ABC
29/11/2002 | 19:26
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Moradores da favela do Oleoduto, no Jardim Silvina, em São Bernardo, que tentavam fechar pela segunda vez no dia a marginal Norte da via Anchieta se enfrentaram nesta sexta com policiais militares por volta das 18h30, próximo ao Km 24,5 da rodovia. A pista não chegou a ser bloqueada, mas o choque assustou motoristas. Os policiais formaram um cordão com escudos e disparam balas de borracha contra os manifestantes, que, por sua vez, atiravam de volta paus e pedras. A chuva dispersou o conflito por volta das 20h.   

À tarde, mais de 150 moradores da favela haviam iniciado às 14h45 uma manifestação a cerca de 800 metros do local onde aconteceu o segundo enfrentamento. Eles atearam fogo em pneus, sacos de lixo, restos de móveis e pedaços de madeira para reivindicar providências da Prefeitura da cidade quanto à falta de água há quatro dias e o projeto ainda emperrado de urbanização do bairro.   

A paciência dos moradores terminou após a inundação da parte baixa da favela durante a forte chuva de quinta. O protesto interrompeu o tráfego na pista e foi parcialmente encerrado horas mais tarde. Houve congestionamento de cerca de dois quilômetros em ambos os sentidos da rodovia. Um desvio para a pista central – normalmente usada na operação descida – serviu para escoar emergencialmente os veículos bloqueados que seguiam em direção à capital.   

A operação para desbloquear a pista e conter os manifestantes contou com pelo menos 60 policiais. O primeiro militar que chegou ao local, poucos minutos depois do início do protesto, desceu da viatura atirando para o alto. O policial deu cerca de quatro tiros. Ninguém foi atingido. Aos poucos, chegaram mais 26 carros das polícias Militar e Rodoviária, além de um carro do Corpo de Bombeiros, para apagar o fogo.   

Manoel Domingos, morador da favela do Oleoduto há quatro anos, disse que a manifestação foi “um pedido de socorro”. “As famílias perderam eletrodomésticos e móveis. Tem gente com 50 centímetros de barro dentro de casa.”   

Uma comissão de cinco moradores foi levada durante a manifestação para se encontrar com o secretário de Obras de São Bernardo, Otávio Manente. Na reunião, Manente garantiu o envio de três carros-pipa para aliviar o problema de falta d‘água no bairro e marcou para a próxima semana um novo encontro dos moradores, com a presença também do secretário de Habitação e Meio Ambiente, Osmar Mendonça.   

Quem ficou quase uma hora dentro do carro, sob sol forte, parado na estrada, passou mal. A auxiliar de administração Denise Bonavolha, 23 anos, reclamava: “Estou há 40 minutos debaixo desse sol, sem água para beber”. O vendedor Osvaldo Batelochi, 43 anos, contou que se sentiu aliviado ao verificar que se tratava de uma manifestação: “A gente não sabe o que pode acontecer. Poderia ser um arrastão, alguma coisa assim. Quando vi que era um protesto, fiquei aliviado.”




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