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Travesti do Grande ABC ganha prêmio federal
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
29/01/2011 | 07:49
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A travesti Daniele, 25 anos, de Santo André, ganhou prêmio do Ministério da Saúde pela sua história de vida. A experiência de Daniele foi contada pela educadora social do Ambulatório de Referência de DST/Aids de Santo André Cecília Peres Barucco na crônica Mulher, Nordestina e Positiva.

A história foi inscrita no concurso da terceira edição do Vidas em Crônicas, que premiou ontem seis experiências de relatos de travestis que vivem ou convivem com o HIV. Além de ganharem netbook, os contos serão adaptados para uma publicação que ainda não tem data definida.

Cecília conheceu Daniele há dois meses, quando iniciou o tratamento, e as outras 11 meninas que vivem na mesma casa, na Vila Metalúrgica, em Santo André. "Falei do convite do Ministério da Saúde e apenas Daniele se mostrou interessada em contar sua história."

A equipe do Diário conversou ontem com Daniele, que contou o motivo de aceitar o convite. "Foi uma forma de desabafar tudo que já vivi e tentar diminuir o preconceito que ainda há na sociedade. Sou uma pessoa que guardo muito as coisas, por isso, me fez bem dividir tudo que aconteceu comigo. Travesti é como se fosse marginal para a sociedade. Mas hoje vejo que o homossexualismo e o HIV estão sendo vistos de outra forma. Mesmo assim é preciso mudar a mente de muitas pessoas", ressalta.

Daniele nasceu em Santo André, mas foi criada pela avó, em Pernambuco. "Minha mãe me levou quando eu tinha 2 anos, voltou para São Paulo e morreu quando eu tinha 13."

Ela diz que foi diferente das outras crianças. "Gostava de brincar de boneca. Aos 13 anos, comecei a me vestir como mulher e, aos 14, me prostitui. Minha avó não gostou, mas não criticava", explica Daniele, que passou a usar esse nome no lugar do verdadeiro, Daniel Juarez da Silva.

Sem terminar os estudos, voltou para Santo André, aos 18 anos. "Pensei que seria diferente, mas já fui logo presa (acusada de assalto, que ela nega) e fiquei cinco anos na cadeia. Me envolvi com um homem de 40 anos. Não usei preservativo e depois descobri, aos 22 anos, que tinha HIV e tuberculose."

Ao sair da prisão, morou com uma cafetina em São Bernardo e há oito meses vive em Santo André, em uma casa com mais 11 meninas. "Continuo me prostituindo para pagar as minhas coisas, mas quero sair dessa vida. Não conto para os homens que tenho HIV e confesso que uso drogas, mas não sou viciada. Já apanhei muito, tenho o rosto deformado e quero construir uma família e ter um emprego . O que ganhei com a prostituição? Nada, além da doença", finaliza.




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