“Tinha acabado de fazer O Beijo do Vampiro e estava exausta. Mas o Gilberto veio com a conversa de eu e o Alexandre vivermos uma história de amor na novela e não tive como recusar”, conta. A recatada Noêmia, aliás, vai começar a deixar de lado o jeito acanhado e partir para o ataque na conquista definitiva do desligado jornalista Cristiano.

Júlia fez muitos outros trabalhos ao lado do marido. No cinema, por exemplo, os dois também formaram casais em Até que a Vida nos Separe, de José Zaragoza, e em Um Copo de Cólera, de Aluizio Abranches.

No teatro, subiram juntos ao palco em Eu Sei Que Vou te Amar e Hamlet. O casal também protagonizou a série Joana e Marcelo, realizada pelo canal Multishow nos anos de 1997, 1999 e 2002. O romance dos dois, aliás, começou depois que Júlia conheceu Borges na novela Guerra sem Fim (Manchete, 1993).

Filha dos atores Lilian Lemmertz e Linneu Dias, já mortos, Júlia chegou a pensar em não seguir a profissão dos pais e se tornar veterinária ou fonoaudióloga. Dezesseis novelas, cinco minisséries e 13 filmes depois, a gaúcha ainda se considera uma atriz em construção.

Praticamente emendando uma novela na outra desde que estreou em Os Adolescentes, na Band, Júlia já provou ter estofo para dar vida a tipos bastante diversificados. Mas há tempos ela não ganhava um papel como Noêmia, que exige uma performance mais naturalista da atriz.

PERGUNTA – O que fez você aceitar fazer Celebridade após uma novela cansativa como foi O Beijo do Vampiro?
Júlia Lemmertz – Foram vários os motivos. Um deles é que a Noêmia é completamente diferente da Marta. Além disso, a Noêmia é “do bem”. Meus últimos personagens foram muito caricatos. A Noêmia era a minha chance de fazer um papel mais humano na TV.

PERGUNTA – Você se desgasta menos como atriz com este tipo de papel?
Júlia – É um trabalho mais delicado, pois o ator tem de ser mais sutil. Para mim está fazendo bem. Parece bobagem, mas quando você faz um personagem “do mal”, dá uma canseira dupla. Fora gravar uma novela, que já é uma loucura, a personagem que carrega emoções negativas tem uma carga muito grande. Mesmo a Marta, que depois virou vampira e com a qual eu me diverti muito. Eram horas de maquiagem, por exemplo. Fiquei pensando, “pô, a Marta era maravilhosa, mas não teve um dia que falei um bom pensamento para alguém”. Ela estava sempre querendo maltratar. Já a Noêmia tem um certo refresco. Ela tem a relação com o filho, com o Cristiano, com o trabalho. Celebridade é um novelão. Ao mesmo tempo que se aproxima da realidade, tem uma crítica por baixo da história, que é esta corrida pela fama e para se tornar uma celebridade. A fome de aparecer.

PERGUNTA – Você lida bem com isso?
Júlia – Sou uma atriz, uma trabalhadora. Aparecer na mídia vem no pacote. O meu objetivo final não é esse. É trabalhar e me exercitar como atriz. Ter papéis bacanas para fazer, crescer pessoalmente dentro do que faço. Agora, a fama, o sucesso, o que falam de mim fora do trabalho, realmente não me importa. É mais difícil por ser casada com um ator, porque somos duplamente expostos. Mas eu e o Alexandre tentamos levar de uma forma bem pacífica. A gente não foge de tudo, mas tenta não se expor. Não para preservar uma intimidade, mas porque dá uma canseira mesmo. E ficar falando da vida pessoal é chato.

PERGUNTA – Mas você concorda que cada vez mais aparecem atores querendo falar de sua vida pessoal?
Júlia – Concordo. Até porque o mercado televisivo, especialmente, ficou mais aberto para gente nova. E gente que está começando, inexperiente, que foi pinçada sem preparo para aquele negócio e que de repente confunde a fama com o que a estrada dá para você. Porque isso tudo que vem junto com uma novela confunde um pouco a cabeça das pessoas. Não tenho nada contra quem foi modelo e agora é ator. Tem espaço para tudo, principalmente na TV, mas é algo muito mais descartável. Mas acho que quem tem competência se estabelece.

PERGUNTA – Mas você e o Alexandre não aparecem em notícias de fofoca. O que você faz de diferente das outras atrizes?
Júlia – O que não falo e não faço. Eu e o Alexandre também vamos pouco a estes eventos de estréias. Não pela imprensa, mas porque estréia é sempre tensa. Se não tivesse de ir como atriz, não iria. Até prefiro que meus amigos vão ao meu teatro depois da estréia. Porque é tenso. Também ficamos na nossa, mesmo quando tentam criar boatos. Porque tem isso. Às vezes inventam uma nota do nada. É uma coisa chocante porque vira um rastilho de pólvora. Sai um negocinho e vai aumentando, aumentando... Chega uma hora que você própria começa a duvidar: “será que aconteceu realmente?”. É uma loucura. Eu e o Alexandre somos normais, reservados e não posamos de casal feliz.

PERGUNTA – Você teve algum momento de deslumbramento na carreira?
Júlia – Não, porque venho de uma família de atores. Fui criada no meio. E sou uma atriz que está construindo uma carreira. Não tive aquela coisa de fazer a primeira novela, virar um sucesso e me tornar estrela. Não tem isso. Fui degrau por degrau. A minha carreira é de construção. Não é melhor nem pior que a de ninguém. É diferente.

PERGUNTA – Você e o Alexandre estão fazendo par pela primeira vez na Globo, mas já tinham feito outras parcerias anteriores. Tem casal que não gosta muito...
Júlia – Cada um tem o seu esquema. A gente gosta, se identifica no trabalho e depois tira férias juntos, o que é uma vantagem. Para mim, Celebridade é duplamente bacana pelo fato de ser com o Alexandre. A gente consegue levar a imprensa sem problemas também. Não tenho muito esta coisa de “não falo sobre isso”. Depende de como a pessoa pergunta. E não é preciso falar tudo, esmiuçar a minha vida pessoal. Minha vida com o Alexandre é muito boa, somos felizes e ponto.

PERGUNTA – Trabalhar com o Alexandre é o que mais te motivou a fazer Celebridade?
Júlia – Foi. Na verdade, contar esta história de amor entre o Cristiano e a Noêmia é muito motivante para mim como profissional. E é mais legal ainda, porque vai rolando aos poucos. Também sempre quis fazer uma novela do Gilberto e só tem amigos na novela. Não é que não tinha nas outras, mas nesta são amigos muito próximos. Conheço a Malu Mader desde a estréia dela na TV. Eu fazia a irmã mais velha dela em Eu Prometo, em 1983. Claro que pesou também o fato de contracenar com o Alexandre pela primeira vez na Globo num trabalho realmente juntos. Como par romântico mesmo. A relação da Noêmia com o Cristiano é a história mais bonita e romântica da trama.