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Carnavalesco faz mágica na avenida
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
06/02/2007 | 23:44
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Eles são diferentes. Alguns exibem passos desajeitados na avenida, e mesmo assim são aplaudidos ao final do desfile. Os carnavalescos sambam com a cabeça, não com os pés. Idealizam e coordenam desde a comissão de frente à última ala da escola. Transformam desenho e idéias em ritmo, harmonia, brilho. Cada vez mais rara, a figura do carnavalesco no Grande ABC faz tudo isso e ainda opera milagres: estica a curta subvenção para colorir os sambódromos.

São poucos, e por isso muito requisitados, os carnavalescos da região. Assinam o Carnaval de mais de uma escola por ano. Agremiações com mais dinheiro em caixa ‘importam’ profissionais de São Paulo, que concebem os figurinos e carros alegóricos, mas dificilmente pisam no barracão para acompanhar o trabalho da comunidade.

Os ‘sobreviventes’ fazem tudo à moda antiga. Como tem de ser: onipresentes.

O carnavalesco e ‘mágico’ Jurandir de Sousa, 42 anos, há dez anos faz o desfile da Unidos da Vila Alice, de Diadema, que este ano disputa a segunda divisão do Carnaval. Em janeiro, muda de endereço: chega de malas ao barracão da escola. Só volta para casa depois da apuração.

“Temos R$ 14 mil para fazer o desfile. Muita gente não vai poder desfilar porque não há verba e o número de partcipantes vai ter de ser menor. É uma pena. É única comemoração da comunidade”, lamenta Jurandir. Professor de dança-de-salão, Jurandir chora quando ouve a sirene que anuncia a entrada da Vila Alice na avenida. Reza até perder a conta.

Quase nunca vê as performances que centenas de vezes imaginou. Sonha com um Carnaval brilhante. Quando não precisará contar as moedas nem as lantejoulas. Nesse dia, a Vila Alice vai entrar com tanto brilho e luxo na passarela que o sambódromo nem vai precisar ligar os refletores.

Porta-voz de uma comunidade pequena e humilde, formada por quatro ruas lotadas de pequenos, Jurandir não vai receber salário. “O respeito das pessoas é o melhor pagamento.”

A fama da carnavalesca Sonia Ciriano, 44 anos, extrapolou os limites de Diadema e da Estopim da Fiel, agremiação que há 9 anos contrata a profissional para montar o desfile.

Vitoriosa, já ganhou três títulos pela escola. Apesar da falta de recursos, pensa grande. Transformou a casa em oficina de costura. “Não abro mão da qualidade. Saímos com menos componentes, mas caprichamos nas alegorias”, diz Sônia, que não sabe sambar. Mas levita. E do céu planeja o colorido do asfalto.




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