Em alta velocidade, o Palio cinza da técnica de segurança do trabalho Valquíria Augustinho dos Santos, 41 anos, seguiu pelas ruas que ligam a Vila Linda, em Santo André, à região central da cidade, rumo ao Centro Hospitalar de Santo André, por volta das 20h30 de domingo. Ela guiou o carro com o vidro da porta traseira esquerda estilhaçado e um buraco na lataria em decorrência de dois tiros, furou faróis vermelhos, provavelmente foi flagrada por radares fotográficos e percorreu ruas na contramão. Seu desespero era mais do que justificável. Ela estava com a filha única, a estudante Vitória Augustinho Rodrigues de Almeida, 5 anos – que completaria 6 anos no próximo dia 19 –, baleada na cabeça sentada no banco traseiro do carro.

Os tiros partiram da arma de dois ladrões ainda não identificados pela polícia que supostamente tentaram roubar o Palio, na rua Agudos, Vila Linda, às 20h20 de domingo. A menina não resistiu ao ferimento e morreu. O desespero de Valquíria foi o mesmo de pais em outros dois casos semelhantes em que crianças foram mortas em tentativas de roubo, num período de 72 horas.

Horas antes, mãe e filha passaram a tarde e o princípio de noite agradáveis na casa de amigos, na Vila Linda. A tragédia ocorreu quando Valquíria e Vitória dariam carona para três pessoas até a Vila Luzita e depois seguiriam para casa, num condomínio de prédios na capital, divisa com Diadema.

Além de mãe e filha, no carro ainda estavam os caronas, dois jovens, um de 17 anos e outro de 12, além da aposentada C.A.S., 48, amiga de Valquíria – nenhum se feriu. C. tentou proteger as crianças do carro quando viu um dos criminosos sacar a arma, e foi a primeira a perceber que Vitória estava ferida.

“Quando entramos no carro vimos os dois rapazes descendo a rua. Um ficou na frente e o outro atrás do carro. Vi quando o de trás sacou a arma e mandei todos abaixarem. Ouvimos os tiros e quando o carro já estava um pouco longe pedi para que todos levantassem, mas a Vitória não se mexeu”, disse. “Vi o sangue escorrer da cabeça dela”.

Nesse momento, Valquíria iniciou sua busca desesperada pelo hospital. Um dos tiros quebrou o vidro da janela, o outro furou a lataria. Segundo a mãe, os ladrões não disseram nada antes de atirar, tampouco anunciaram o roubo. “Apenas ficaram parados. Quando soltei o freio de mão, atiraram”, disse a técnica.

Um Peugeot à frente do Palio com um grupo de amigos de Valquíria – que faria o mesmo itinerário – seria, a princípio, o alvo de roubo, porém o veículo saiu do raio de ação dos ladrões.

Segundo a polícia, os criminosos atiraram desnecessariamente. Não houve reação por parte de Valquíria. “Devem ser adolescentes viciados em drogas. Um crime desqualificado mesmo no meio dos bandidos, pois mataram uma criança. Acreditamos que sejam moleques da região”, disse o chefe dos investigadores do 3º DP de Santo André, Milton Pereira, responsável pelas investigações. Informações sobre os autores podem ser feitas no telefone 4972-3127.