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Que soe o gongo
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
28/03/2010 | 07:03
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De um lado do ringue, Douglas Wilson, apologista cristão, pastor da Christ Church, nos Estados Unidos, bacharel em Estudos Clássicos e mestre em Filosofia. Do outro, Christopher Hitchens, jornalista britânico, ateu convicto, analista político, articulista das revistas Harper's, The New Yorker e da brasileira Época. Em vez de socos, eles se confrontam no campo das ideias para que o leitor tire suas conclusões. O resultado desse debate, ocorrido na vida real, rendeu um documentário e o livro O Cristianismo é Bom para o Mundo? (Garimpo Editorial, 80 págs., R$ 21,90), que acaba de chegar às livrarias.

Dividido em seis capítulos chamados de rounds em alusão ao boxe, tem leitura rápida e atende interessados em se municiar de argumentos consistentes, seja para fortalecer sua crença ou descrença. Com a visibilidade obtida por neoateus na última década, torna-se indispensável para qualquer ser humano de primeira classe adotar posturas mais consistentes e maduras, além do ‘achismo' ou do radicalismo apaixonado.

Tanto Hitchens (o ateu) como Wilson (o cristão) colocam-se sem um pingo de condescendência, mas com respeito ao intelecto do interlocutor. Isso torna o debate de alto nível uma aula, seja qual for a posição pessoal do leitor. Tanto que os pensadores se tornaram bons amigos após o primeiro encontro promovido em 2007 pela Christianity Today, revista de circulação nacional nos Estados Unidos.

Como bem observa o autor do prefácio, Jonah Goldberg (um judeu), o livro é escrito em tom de alegria. Fica claro que os dois autores adoram discutir o assunto e debater um com o outro. Talvez resida aí o prazer da leitura fluida.

Já na apresentação o ateu Hitchens deixa clara a importância do duelo entre cristianismo e ateísmo, comparando a batalha entre liberdade e totalitarismo. Hitchens considera desconcertante imaginar que uma pessoa possa desejar um senhor supremo e inquestionável, e ainda sua eterna vigilância. "Esse estado do Big Brother celestial seria o cúmulo do totalitarismo, muito mais hermético e tirano do que o Estado visto em 1984 (o livro de George Orwell), pois os ‘crimes de pensamento' (...) seriam detectados no momento em que ocorressem."

Wilson, por sua vez, inicia sua apresentação falando na importância da gratidão, para ele o assunto central em todo debate sobre a existência de Deus. Desenvolve dizendo que o ateu ao rejeitar Deus põe a árvore abaixo, mas ainda deseja que a fruta seja colhida. Também pede explicação a Hitchens sobre o porquê do uso da razão. "Se Deus não existe, o que é a verdade?" e continua questionando o ‘adversário' sobre sua indignação moral. "Se Deus não existe, quem está preocupado com moral?". E segue assim, equilibrada, essa boa briga.




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