Cultura & Lazer Titulo
Ela lutou para ser vilã
Da TV Press
25/05/2008 | 07:36
Compartilhar notícia
Divulgação


Alinne Moraes não se conformou. Ao ler na sinopse de Duas Caras que sua personagem seria mais uma menininha apaixonada, a atriz decidiu se rebelar. Para isso, aproveitou a ausência de grandes vilões que existia no início da história de Aguinaldo Silva e transformou sua personagem, a mimada e charmosa Sílvia, em uma malvada capaz de matar criancinhas.

O autor conseguiu, em sete meses, fazer da menina esnobe e rica do roteiro inicial uma depressiva, psicopata e, enfim, ninfomaníaca. "Me livrei de todos os preconceitos e mostrei um lado meu que ainda não tinha sido explorado na TV, mais sexy e despudorado. Pelo visto, deu certo", opina.

A busca pelo sucesso nesse trabalho se explica facilmente se analisarmos as últimas aparições de Alinne em novelas. Em 2004, a atriz ganhou o papel de mocinha na trama insossa Como uma Onda, que não emplacou. No ano seguinte, foi escalada para interpretar Penny Lane, uma espécie de Julieta às avessas da mal-sucedida Bang Bang. Alinne teve de discutir com os diretores da Globo para dar a volta por cima e conseguir um papel marcante. Ela queria interpretar uma vilã, mas todos a consideravam "princesinha" demais para um papel como esses. "A solução foi dar um jeito, junto com o Aguinaldo, de apimentar a Sílvia e tentar mudar essa imagem", explica.

No início da novela, sua personagem parecia ser mais uma mocinha em sua carreira. Hoje, às vésperas do último capítulo, a situação se inverteu. O que ocasionou essa mudança?
ALINNE MORAES - Sempre achei que o título da novela sugeria que os personagens não fossem nem muito bonzinhos nem muito maus. A primeira cena que recebi da Sílvia mostrava ela discutindo com a mãe por telefone. De cara, enxerguei uma sensação de revolta ali, porque a mãe não queria que ela fosse ao velório do pai. Além disso, ter estreado no teatro me deu uma força diferente e outra noção de atuação. O tempo é outro no palco. Trouxe as lições e toda a disciplina que aprendi ao fazer a peça Dhrama, O Incrível Diálogo entre Krishna e Arjuna para a novela. Resolvi trabalhar a Sílvia de um jeito diferente do que eu costumava usar nos meus papéis.

De que jeito?
ALINNE MORAES - Hoje consigo trabalhar mais a técnica, observar o que funciona e o que não funciona. A Sílvia não tinha nada de vilã, era uma garota sofisticada e com temperamento normal que se casaria com o vilão e a mocinha, Maria Paula, detonaria o casamento. Mas comecei a pensar em estratégias para mudar isso. Decidi construir uma garota mais seca e, é claro, conversei com o Aguinaldo. Achei melhor não trabalhar muito o carisma da personagem. Como o autor topou, fui fundo. Experimentei um tom de voz mais grave, até bem próximo do meu. Até porque eu só tinha feito mocinhas totalmente do bem e adotava um tom mais romântico e agudo. Os detalhes funcionaram e o papel cresceu e tomou proporções que eu não imaginava. Mas também me deu muito mais trabalho e me deixou arrasada no início.

Qual foi a parte mais difícil dessa composição?
ALINNE MORAES - Sou muito ansiosa e isso é um problema. Toda atriz precisa encontrar a melhor forma de conduzir a personagem para onde você quer. Optei pelo mau humor, nervosismo e raiva, que foi o mais difícil. Eu sempre achei que esse tipo de sentimento você só passa através do olhar. Então fiz vários exercícios, como morder uma toalha durante horas e deixar o resto do corpo parado. Apostei todas as minhas fichas nesse trabalho. E acho que está funcionando, percebo isso nas ruas através das manifestações do público.

Para Alinne Moraes, tanto o sucesso de Sílvia em Duas Caras quanto o desenvolvimento da personagem se deram por conta do apoio de vários colegas de trabalho. A atriz garante que várias das cenas em que a ‘patricinha' esnobe ganhou espaço contaram com pitacos e dicas de colegas como Susana Vieira e Betty Faria. "As duas conversavam comigo escondidas do diretor e me ajudavam a incluir palavras e atitudes que depois faziam toda a diferença no ar", garante. Além da ajuda no set de gravação, Alinne contou também com seu instrutor de interpretação particular, Roumer Canhães. "Desde minha estréia faço exercícios com ele. Sempre me preocupo com minha carreira, mesmo quando não estou no ar", valoriza.

Como foi a reação nas ruas às vilanias da personagem Sílvia?
ALINNE MORAES - É engraçado porque não acho que as pessoas confundem ator e personagem, mas percebi que certos papéis intimidam mais os telespectadores. Hoje em dia as pessoas me olham torto nas ruas, me deixam esperando nas filas em lojas, enfim, mantém uma certa distância. Recentemente, rasgaram o meu rosto em diversos cartazes de uma campanha de uma marca de jeans no Sul do Brasil. Isso mostra que a Sílvia pegou como vilã e que não é esse tipo de mau caráter carismática da TV. Acho que o próprio texto do Aguinaldo deixou isso claro, ela não tinha de ser simpática. A Sílvia se tornou uma personagem má para valer, capaz de atitudes que eu jamais imaginei interpretar. Por isso mesmo precisei me despir de vários preconceitos para conseguir o resultado que hoje se vê no ar.

Quais preconceitos?
ALINNE MORAES - Nunca me deixei ser tão sensual na televisão antes. Nessa reta final da novela, além de se mostrar uma verdadeira psicopata, a Sílvia ganhou características um tanto quanto ninfomaníacas. Pela primeira vez na minha carreira não estou ligando. Já vi que está me favorecendo no ar, então não vou ficar pensando se está certo ou errado.

Mas no início da novela você foi bastante criticada por conta da sua atuação...
ALINNE MORAES - Nossa, sofri muito nessa época. Lia nos jornais e via as pessoas falando em programas de TV que eu estava dura e seca demais, que a voz estava errada e era horrorosa. Sinceramente, não estava acostumada com isso. Desde a minha estréia, que foi sem preparo algum, eu era elogiada.

Por que você queria tanto que a Sílvia mudasse sua personalidade?
ALINNE MORAES - Tive várias discussões na Globo porque queria ser escalada para fazer uma mulher louca ou sem escrúpulos e ninguém acreditava em mim nessa posição. Sempre me diziam que eu era princesinha demais e que não iria convencer o público. Nunca fui de reclamar de beleza, até porque sei que foi isso que me abriu portas e me fez ter condições de levar a vida que levo hoje. Estreei na TV sem a menor experiência por conta da minha trajetória como modelo e sei que era fundamental ser bonita para isso. Mas talvez eu tenha dado um toque tão angelical aos meus trabalhos que fosse mesmo difícil acreditar que eu era capaz de fazer outras coisas. Desde o início percebi que Duas Caras teria de marcar esse diferencial na minha carreira. E marcou. Foi meu maior sucesso na TV.

Como você avalia sua carreira hoje, sete anos depois?
ALINNE MORAES - Há pouco tempo reprisaram Coração de Estudante, que foi minha primeira novela. Não assisti a muitos capítulos, mas o pouco que vi já deu para perceber como eu era fraquinha. Nossa, bate um certo constrangimento de ver aquelas cenas, mas também era normal. Não sabia nada da vida, tinha 17 anos e de repente consegui a vaga. Mas já naquela época batalhei, me empenhei e o papel cresceu bastante. Agora já fiz algumas novelas, consegui protagonizar um folhetim, fazer uma menina com um tumor, interpretar uma homossexual e viver uma psicopata. Acho que preciso só de um próximo trabalho que fuja desse lado tão polêmico ou vilão.

Que tipo de personagem?
ALINNE MORAES - Agora seria bom ter um papel mais leve e divertido, que faça o público rir.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;