Cultura & Lazer Titulo Araguaia
'Osvaldão' resgata comandante negro do Araguaia
11/12/2015 | 08:00
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Teria sido um ganho simbólico se o documentário Osvaldão houvesse estreado apenas duas semanas atrás, no feriadão do Dia da Consciência Negra. Pois o que o filme resgata é justamente um personagem pouco conhecido e até desconhecido da história recente do Brasil. Ou você vai jurar que já ouviu falar do comandante negro da Guerrilha do Araguaia? A ditadura militar fez o que pôde para apagar seus vestígios, mas ele ressurge com força no documentário de Ana Petta, André Michiles e Fábio Bardella.

Vamos logo esclarecendo que a forma não é a mais brilhante nesse trabalho coletivo. Osvaldão não busca novas formas narrativas, como faz Lúcia Murat em seu ensaio poético Em Três Atos, que mistura mídias - dança, teatro, cinema e literatura. Osvaldão até que não deixa de ser aristotélico, armando sua tragédia em três atos, mas o relato não foge muito do de outros documentários - entrevistas, material de época etc. E é justamente uma raridade de arquivo que faz a diferença. A produção descobriu um filme feito na antiga Checoslováquia, em 1961.

Encontro na Antibabilônia é sobre jovens de todo o mundo no país comunista. O personagem principal é justamente Osvaldo Orlando da Costa, o mineiro que se tornaria o mítico comandante do Destacamento B da Guerrilha do Araguaia, no Pará, onde se travou um dos capítulos mais sangrentos da resistência armada à ditadura militar. Foram três ofensivas do Exército e, somente na terceira, a mais brutal de todas, os militares lograram derrotar a guerrilha. Não lograram, contudo, apagar a figura de Osvaldão no inconsciente coletivo. Negro, atlético, campeão de boxe, guerrilheiro. Osvaldão foi da estirpe de Zumbi dos Palmares e Antônio Cândido, celebrado como o Almirante Negro na voz de Elis Regina por sua luta no episódio que ficou conhecido como ?Revolta da Chibata?.

Mineiro de Passa Quatro, foi o primeiro combatente a chegar ao sul do Pará, em 1967, com a missão de implantar uma frente da guerrilha. Tornou-se mítico por sua identificação com a floresta - mateiros contam como virava árvore, pedra. Morreu em 1974, aos 35 anos. Seu corpo foi pendurado num helicóptero que sobrevoou a área para mostrar a todos que estava morto. Depois, o cadáver sumiu. No Araguaia, entre 1972 e 75, houve a maior ação do Exército desde a Guerra de Canudos. O filme não é um registro jornalístico. Impossível cobrar ?objetividade? ou ?isenção?. O conceito é ?fordiano?, estabelecido pelo mestre John Ford em seu western crepuscular O Homem Que Matou o Facínora. Quando a lenda supera a realidade, o que faz o jornalista? No filme, Edmund O?Brien publica a lenda. A grandeza dos derrotados. Osvaldão permanece vivo na lembrança. Os povos da mata contam sobre ele histórias que perpetuam o mito. São elas - e o documentário checo - que estruturam o relato. O texto é dito por Criolo, Leci Brandão e Antônio Pitanga, três militantes da consciência negra. Osvaldão recoloca seu personagem na história. Não é pouca coisa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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