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Gênio ruim, não voltava atrás em nenhuma decisão, definiu-o Américo Jacoto, pai de um de seus melhores amigos. O amigo em questão, Júnior, acabou se envolvendo num boato criado pelo maior desafeto de Senna, o piloto Nelson Piquet, que insinuou uma relação homossexual entre os dois.
O tempo e uma extensa lista de beldades como namoradas se encarregaram do boato. Senna, no entanto, nunca o esqueceu, e se vingou da provocação dois anos depois. Em entrevista à revista Playboy, em agosto de 1990, afirmou ter conhecido, “como homem”, a então esposa de Piquet, Katerine, antes de eles se casarem.
As reações do brasileiro nem sempre eram tão demoradas quanto sua resposta à provocação de Piquet. Que o diga a equipe de reportagem da Folha da Tarde agredida pelo piloto em maio de 1993, após interrogá-lo sobre a suposta filha com a modelo Marcella Prado. A filha não era dele, revelou exame de DNA — Senna não deixou herdeiros.
Romances – Experiências para achar a mulher de sua vida não faltaram. Conservador, o filho mais ilustre da zona norte da capital paulista não escondia seu machismo e a conseqüente dificuldade em se relacionar. Amigos revelam que para escolher uma pretendente, virgindade sempre foi um quesito importante. Muito acanhado quando garoto, sua iniciação sexual deu-se com uma prostituta, aos 13 anos. “De repente, o Fábio (um colega na época) veio com uma loiraça de 1,80 m. Prendi a respiração e pensei: tudo isso para mim”, contou Ayrton à Playboy de março de 1994.
Era ele quem ditava as regras. As namoradas seguintes ou aprendiam a dividi-lo com a já instaurada obsessão pelos carros ou desistiam dele. A maioria desistiu. O jornalista Ernesto Rodrigues ouviu centenas de pessoas ligadas ao esportista para escrever a recém-lançada biografia 'Ayrton Senna, O Herói Revelado. Entre as quais Sofia Aidar, uma de suas primeiras namoradas. O envolvimento durou pouco e ela explica o motivo: “ele se mostrou um namorado extremamente possessivo e conservador... Para mim não foi difícil perceber a influência nos gestos, idéias e reações da postura provinciana de sua família e no estilo autoritário do pai.”
Em seus relacionamentos seguintes, proibia as namoradas de uma série de coisas, era autoritário. Uma modelo holandesa foi impedida de aceitar emprego no paddock da Fórmula 1. Adriane Galisteu, enquanto esteve ao seu lado, não pôde posar para a Playboy. E quase todas eram vigiadas no que vestiam, com quem falavam. As que queriam privacidade não tiveram do que reclamar. Ao contrário de outros pilotos, nunca propagou suas conquistas. Não se sentia bem no papel de Don Juan.
Aos 20 anos, Senna casou-se com Lilian de Vasconcelos, “um erro” admitido por ambos mais tarde. Separaram-se oficialmente em 1983.
Entre um e outro caso fortuito, namorou, por quatro anos, a modelo Adriane Yamim, namoro sério e comportado no qual cobrava fidelidade, mas não correspondia. A partir do final de 1988, protagonizou romance digno de família real inglesa com a apresentadora Xuxa Meneghel. O piloto, em poucos dias, estava perdidamente apaixonado pela Rainha dos Baixinhos. Os problemas, entretanto, logo começaram a surgir. Segundo apurou Ernesto Rodrigues, a empresária de Xuxa, Marlene Mattos, escondia a apresentadora de Ayrton. O namoro durou um ano, mas eles jamais deixaram de se falar – e de se encontrar –, apesar dos novos parceiros. A ducha de água fria ocorreu no Natal de 1989. Xuxa estava em Nova York e Ayrton resolveu fazer-lhe uma surpresa, fantasiando-se de Papai Noel para visitá-la. Foi maltratado: ela não quis vê-lo, contaram os amigos próximos do piloto. A apresentadora, por sua vez, nega que o episódio tenha ocorrido.
Depois de Xuxa, ligou-se a uma antiga amiga, Cristine Ferraciou, com a qual ficou dois anos. Cristine acompanhava o piloto por toda a temporada quando sua mãe, em 1990, descobriu ter um câncer. A namorada então avisou Ayrton que teria de voltar para perto da mãe, no Rio. O comportamento insensível de Senna a surpreendeu. “Ele ficou bravo, de mau humor, sem falar comigo. Foi a gota d’água”, disse. Cristine contou ainda que Ayrton Senna era de tal forma desconfiado das pessoas, que teve dificuldade até em apresentar seus pais ao piloto.
O amigo Ron Dennis o definiu de maneira curiosa (está no livro O Herói Revelado): “ele era capaz de sentar na beira da cama e ficar duas horas pensando que calças iria usar. E isso também valia para escolher namoradas, amigos, tudo.” Seu último relacionamento sério, com a modelo Adriane Galisteu, foi uma mistura de ciúme, insegurança, e teve como episódio final uma fita gravada que teria abalado Ayrton um dia antes do nefasto GP de San Marino de 1994. Um grampo telefônico em seu apartamento em São Paulo flagrou Galisteu conversando com um antigo namorado. Sem saber que estava sendo gravado, ele a provocou e disse ser “melhor de cama do que Ayrton”. Nada no diálogo comprometia a hoje apresentadora da TV Record. Senna não teve tempo, no entanto, de conversar com ela sobre a fita.
Fora dos relacionamentos oficiais, inúmeros casos fortuitos. Segundo o jardineiro Fernando Leite, da casa onde costumava ficar em Portugal, era muito raro Senna dormir sozinho quando estava por lá. Um dia, ao acordar bem cedo, flagrou duas mulheres saindo do quarto do piloto. Em maio de 1992, a revista Interview enumerou algumas possíveis conquistas: Luma de Oliveira, Virginia Novicky e as internacionais Carol Alt e Cindy Crawford, entre outras menos famosas.
Inimigos – Não foram poucas as pessoas que definiram Ayrton com adjetivos nada lisonjeiros. Antes de se tornar patrão do brasileiro, o chefe da McLaren, Ron Dennis, o qualificou como arrogante. Senna era ainda piloto da Fórmula Ford 2000 em 1982 e foi procurado para fechar contrato para correr dois anos depois pela forte equipe da Fórmula 1. Dennis ofereceu um bom dinheiro e ouviu em troca algo inacreditável: “ele queria 100% de garantia que, em 1984, a McLaren seria capaz de vencer o campeonato.” O brasileiro estreou na equipe em 1988 e, por ela, conquistou três campeonatos mundiais. Ron Dennis teve uma péssima impressão inicial, mas, com a convivência, tornou-se um dos grandes amigos do piloto no automobilismo.
O relacionamento entre Senna e Alain Prost, seu companheiro de McLaren, não era nada amistoso. Uma coisa em Senna sempre irritou Prost: considerava o brasileiro egoísta, antiético muitas vezes e demais obstinado pelas vitórias. Em 1988, os dois pilotos combinaram só brigarem pela posição após o fim da primeira volta. Dada a largada, Prost, na pole, foi ultrapassado por Senna. O francês ficou furioso e, pela primeira vez, o chamou de mau caráter.
Senna agrediu o irlandês Eddie Irvine, por pouco não fez o mesmo com o japonês Satoro Nakajima, barrou a contratação de Derek Warwick pela Lotus e, logo ele, que nunca pensou duas vezes em fechar o carro de um adversário, criticou publicamente a postura agressiva de um jovem talento que começava a despontar: o alemão Michael Schumacher.
Nelson Piquet nunca se importou em esconder a raiva pelo compatriota. Para ele, Senna era um na frente das câmeras, mas outro, intragável, fora dela. “Vai perguntar para os mecânicos que trabalharam com ele como era o Senna. Ninguém gostava dele”, disse recentemente. Alguns atribuem o comportamento de Piquet ao ciúme. Com a chegada de Ayrton, em 1984, seu posto de ídolo-mor do automobilismo nacional se viu ameaçado. Quando Senna morreu, no dia 1º de maio de 1994, Piquet não foi ao velório nem ao enterro. Dizia não ser hipócrita a tal ponto. Prost, o outro inimigo nas pistas, carregou uma das alças do caixão.
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