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'Iremos a Beirute' chega a SP 2 anos após a estréia
Do Diário do Grande ABC
06/01/2000 | 15:33
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Um pênalti parado no tempo, suspenso no espaço por 20 anos. E decisoes que dependem dele. É o centro dramático de Iremos a Beirute, longa de estréia de Marcus Moura que estréia nos cinemas depois de passar na Mostra Internacional de Sao Paulo em 1998. Nao é nenhuma maravilha e até pode ser demolido por quem estiver interessado somente em apontar suas falhas. Mas Iremos a Beirute possui qualidades regeneradoras para quem estiver disposto a garimpar o que há de positivo nas imagens assinadas pelo mestre fotógrafo Mario Carneiro. Merece ser visto.

Embora estreante no longa, Marcus Moura tem um currículo apreciável de curtas, que começou com Panderos e Emboladas, em 1984. É o autor da história original e co-autor (com Orlando Senna) do roteiro de Iremos a Beirute. É uma história realmente interessante. Desenvolve-se em dois tempos e espaços. Uma cidadezinha no interior do Ceará, nos anos 70, e Fortaleza, nos 90. A Beirute do título nao é capital do Líbano e sim a mercearia de Gibran, que tem dois filhos, Aziz e Salma, e treina um time de futebol mirim.

Na história, Gibran faz uma aposta elevada em dinheiro quando seu time, o Ajax, enfrenta o Cruzeiro numa partida decisiva. O jogo também é fundamental para Salma porque ela, no ardor dos seus 15 anos, flerta com todos os rapazes e anuncia para o final da partida a sua decisao sobre com quem vai ficar. Uma morte interrompe o jogo que está empatado justamente no momento em que será cobrado um pênalti. Vinte anos depois, Salma defende uma tese sobre futebol. Ainda presa à decisao que deveria ter tomado no passado, ela consegue reunir os jogadores dos dois times para retomar a partida do ponto em que foi interrompida.

Há acertos indiscutíveis. O maior deles é a escolha do elenco, que faz com que os garotos do passado se assemelhem extraordinariamente aos atores que os interpretam quando adultos. Na retomada do jogo, o foco do interesse está em alma, que vê, em montagem paralela, os jogadores de ontem e de hoje. Eles seguiram vidas diferentes. Um virou detetive particular, outro é empresário de sucesso na área de plásticos, o terceiro é ladrao de carros e o quarto permaneceu ligado à terra. O quinto, pois se trata de um time de cinco, é o irmao de Salma, Aziz.

É um filme que parte do futebol para falar sobre escolhas afetivas e sobre a atraçao do incesto, que o diretor trata com discriçao, sem escândalo. Giovanna Gold é Salma, Ilya Sao Paulo é Aziz e Guilherme Karam rouba a cena como Gibran. Giovanna é linda. Pode nao ser uma atriz excepcional (e nao é mesmo), mas segura a intensidade dos momentos dramáticos e na cena do chador é perfeita. Nao é difícil imaginar que o diretor talvez a tenha escolhido pela expressividade dos olhos.

Iremos a Beirute teve sua primeira exibiçao no 7º Cine Ceará, em 1998, no qual ganhou a Mostra Internacional de Novos Talentos. Depois, incursionou por diversos festivais e mostras de cinema, no país e no exterior. O fato de estar estreando em apenas uma sala de Sao Paulo, quase dois anos depois da estréia nacional, ilustra bem as dificuldades que se oferecem para quem faz cinema no Brasil.




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