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UBSs divulgam doação de urina
Deborah Moreira
Do Diário do Grande ABC
24/01/2010 | 07:26
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As UBSs (unidades básicas de saúde) do Grande ABC estão divulgando uma campanha de doação de urina de gestantes, o Programa HCG. O hormônio HCG (Gonadotrofina Coriônica Humana), produzido pela placenta durante a gravidez e expelido pela urina, é usado para a produção de medicamento usado em tratamentos de infertilidade feminina.

O programa, criado na Holanda, existe há 24 anos em cidades dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Na região existe desde 2005, pelo menos, e, a partir de fevereiro, vai financiar tratamentos de fertilidade para mulheres com dificuldade em engravidar e em pagar o tratamento, que tem alto custo. A iniciativa é em parceria com a Faculdade de Medicina do ABC.

A coleta da urina é realizada pela Diosynth, uma empresa do grupo Shering-Plough, que comercializa medicamento para o tratamento de fertilidade. Em contrapartida, a Diosynth oferece kits para as UBSs com testes rápidos de gravidez, material educativo, impresso e áudio-visual, de campanhas como planejamento familiar.

O Diário esteve nas UBSs e constatou que o programa existe em todas as cidades, com exceção de São Caetano, onde, segundo enfermeiras ouvidas, não houve adesão. "Desde outubro de 2009 pararam de enviar os testes de gravidez sem nos avisar. Nem vieram buscar a pasta com as últimas fichas das gestantes", relatou uma funcionária de uma UBS, que preferiu não se identificar. Ela contou, ainda, que as gestantes não demonstravam o mesmo interesse das de outras cidades. "A empresa dá um enxoval para o bebê e quem é de regiões mais carentes acaba se interessando", disse a enfermeira. A empresa decalrou que a coleta constante em algumas cidades são mais difíceis por isso o programa não continua. A prefeitura de São Caetano afirmou que o programa terminou há cerca de 2 anos.

A divulgação nos postos é feita a partir de panfletos expostos nos balcões das unidades ou em murais. Em algumas UBSs não havia divulgação mas funcionários confirmaram a existência do programa. Em Diadema, onde há enfermeiros do próprio programa que aplicam os testes rápidos de gravidez, as doações são feitas desde 2009, quando 2.100 mulheres foram cadastradas e cerca de 1.800 se tornaram doadoras. Em São Bernardo, onde existe desde 2005, como contrapartida são dados além dos testes de gravidez, material informativo sobre pré-natal e planejamento familiar. Santo André não informou desde quando existe, mas recebe recursos áudio-visuais para trabalhos educativos. Os demais municípios não se manifestaram.

COMO FUNCIONA - A gestante que concordar em doar, preenche uma ficha no posto com seus dados. Depois, a empresa entra em contato e explica o programa. Oito dias depois, ela recebe em casa os frascos para coleta, um penico, instruções e um termo de compromisso. De quatro em quatro dias é feita a coleta da urina. Na 18º semana de gestação acontece a última visita, onde ela entrega os últimos frascos e recebe um kit para o bebê.

Tratamento gratuito começa em fevereiro

O Centro de Estudos da disciplina de Reprodução Humana, da Faculdade de Medicina do ABC assinou um convênio com a empresa Diosynth, responsável pelo Programa HCG. Pelo acordo, a empresa irá financiar o tratamento de dois ciclos de reprodução humana em fertilização in vitro por mês, a partir de fevereiro, na faculdade. Isso equivale a dizer que duas pacientes por mês vão fazer o tratamento de um ciclo, cada uma, gratuitamente - um ciclo é o mesmo que uma tentativa para engravidar.

O Centro atende 20 pacientes novas todos os dias e, dessas, cinco fazem o tratamento de fertilização, entre elas a in vitro (fecundação do óvulo pelo esperma fora do útero). No ano passado, aproximadamente 900 mulheres realizaram fertilizações. O valor do tratamento na faculdade é de R$ 4.500 (em média), no mercado chega a custar R$ 15.000.

"Aqui serão fornecidos dois tratamentos por mês. Eles possuem um negócio e não temos nada a ver com isso. Provavelmente estão sendo cobrados. As prefeituras devem estar cobrando essa contrapartida para continuarem a divulgar a campanha nos postos de saúde, que é um canal direto com quem eles querem atingir", afirmou Caio Parente Barbosa, responsável pela disciplina de Reprodução Humana da faculdade.

Já a empresa, quando questionada porquê somente agora está financiando o tratamento de fertilização para quem não pode pagar, não respondeu e não confirmou a parceria com o Centro de Estudos. "Sobre o questionário que nos enviou, muitas perguntas não puderam ser respondidas porque a política da empresa não permite", declarou, por meio de sua assessoria de imprensa.

Além dos tratamentos, o Centro de Estudos fornece há pelo menos dois anos um treinamento técnico para os agentes que coletam a urina.




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