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Comissão denuncia Volks ao MPF pela colaboração com a ditadura

Órgãos entram com ação que aponta possíveis
crimes praticados pela empresa situada na região

Fabio Martins
Do Diário do Grande ABC
22/09/2015 | 07:00
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Grupo formado a partir da encerrada Comissão Nacional da Verdade vai entrar hoje com representação no MPF (Ministério Público Federal) por possíveis crimes praticados pela Volkswagen do Brasil, na planta de São Bernardo, durante a ditadura militar (1964-1985). O fórum, criado por entidades de trabalhadores e centrais sindicais, aponta cumplicidade da empresa alemã com o governo em práticas de violação de direitos humanos cometidas no período. Documentos – levantados no Arquivo Público do Estado – mostram fornecimento de dados pessoais de funcionários. Essa é a primeira vez que uma companhia é denunciada formalmente no País por participação com o regime.

No relatório aparece lista negra entregue ao Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) com nome de funcionários ligados ao Grande ABC. Os registros mostram seções de trabalho a que pertenciam, endereços de residências e funções. Tratam-se de trabalhadores considerados subversivos por conta, principalmente, de suas posições políticas. O rol circulava entre as empresas para evitar que eles fossem contratados. Na ação, que traz depoimentos às comissões nacional, estadual (Assembleia Legislativa) e municipal (São Bernardo), ex-operários relatam organização de sistema próprio de segurança, monitoramento do movimento sindical e até tortura dentro da companhia.

Ex-deputado federal e funcionário da Volks entre 1974 e 1977, Expedito Soares afirmou ao Diário que ficou quase 15 dias em cárcere privado na empresa devido à atuação de agentes infiltrados. Segundo ele, um coronel do Exército integrava equipe de atuação no departamento de vigilância da companhia. “Fui sequestrado lá dentro. Ficava confinado o dia inteiro em uma sala, com dois seguranças na porta. Isso tudo porque liderei movimento de greve por melhores condições de trabalho. Havia tortura psicológica”, relembrou, ao frisar que, depois desse período, foi demitido por justa causa, sem receber seus direitos trabalhistas. “Fiquei mais de um ano desempregado.”

Hoje, há poucos testemunhos das vítimas, uma vez que muitos funcionários da época já morreram. Filiado ao PCB, o Partidão, o ferramenteiro Lúcio Bellantani também sofreu com situação semelhante à de Expedito. Em junho de 1972, ele foi capturado no local de trabalho e levado ao Dops para sessões de tortura e de acareação com outros trabalhadores a fim de identificá-los. Tudo isso com “colaboração e cooperação” da Volks. O operário contou à comissão que chefe de seguranças da empresa o levou para o departamento pessoal e lá começou a ser “espancado”.

Representante da IIEP (Intercâmbio Informações Estudos e Pesquisas), uma das organizações que assinam a denúncia, Sebastião Neto alegou que a iniciativa pode gerar obrigatoriedade de reparação coletiva, caso o MP considere procedente a ação – a Volks deve ser ouvida no caso. “Os documentos constatam a arbitrariedade desnecessária, com trabalhadores presos dentro de ambiente de trabalho, sendo algemados na seção, envolvimento direto, e informações de empregados cedidas ao Estado de acesso interno”, disse, ao acrescentar que o ressarcimento sugere indenização à sociedade. “Pode ser programa educativo à memória ou monumento em lembrança às vítimas, por exemplo.”

Procurada, a Volks não se pronunciou sobre o assunto.




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