Carlos Boschetti Titulo Análise
Das promessas ao caos econômico
Carlos Boschetti
17/09/2015 | 07:11
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Eu iria continuar falando da China hoje, mas considerando as notícias da última semana, decidi voltar a falar do Brasil. Depois retomamos a análise do mercado chinês. O fato é que somos realmente um País ingênuo, malformado e informado sobre a situação macroeconômica de nosso próprio País. Prosperamos durante uma década à sombra do crescimento da economia mundial, exportando minério de ferro e soja para o mercado asiático a preço de ouro.

Toda essa riqueza que nos alimentou durante 12 anos proporcionou um plano de governo que surfou com muita habilidade na distribuição de renda e no incentivo ao consumo por meio da oferta de crédito abundante e barato a varias classes sociais, até mesmo a fundo perdido.

O governo abusou da renúncia fiscal, reduzindo por várias vezes impostos a diversos segmentos econômicos para também aumentar o acesso da população a bens duráveis, tais como linha branca, material de construção, setor de automobilismo e outros. Isso diminuiu a receita e não houve uma preocupação com o impacto disso a médio prazo nas contas públicas.

Como todo plano populista ao redor do mundo, gasta-se mais do que se arrecada. Gastamos aproximadamente 9% ao ano, enquanto nosso PIB (Produto Interno Bruto) crescia em media de 3% no mesmo período. Nos últimos dois anos, por conta das eleições, aceleramos as despesas e escondemos os gastos, através de um programa de governo bem maquiado que conseguiu até o último momento desviar a atenção para a bomba relógio que foi armada com data e hora para explodir.

Os agentes econômicos por várias vezes estudaram e anunciaram os riscos que estávamos correndo de perda do selo de bom pagador dos juros da dívida, bem como a administração dos gastos públicos, por meio de uma política fiscal que fosse refletiva na proposta entregue ao Congresso Nacional que, no frigir dos ovos, as despesas seriam menores do que as receitas em aproximadamente 1%, o que manteria a mesma classificação de grau de investimento e o País permaneceria em um patamar que atrairia aportes por parte da comunidade financeira internacional.

Apesar de todos os alertas e recomendações, os gurus de Brasília, mais uma vez, deram uma demonstração total de alienação quanto aos riscos e o custo dessa entropia. Tiveram até mesmo uma dose de arrogância perante as leis de diretrizes fiscais, subestimando o Congresso.

Nunca na história recente do País foi enviado ao Congresso uma LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) com deficit primário de R$ 30,5 bilhões de uma forma totalmente inconsequente e irresponsável. Acreditaram que esse blefe seria assimilado passivamente pelos parlamentares e agentes econômicos, anunciando-se que todos os gastos e economias foram analisados e implantados sem nenhuma outra possibilidade de ajuste. A surpresa foi tão grande que alertou e assustou a todos, gerando total afastamento entre o governo e seu papel de assegurar o superavit fiscal definido pelo próprio governo assim que foi reeleito.

A reação das instituições financeiras internacionais foi fulminante e fugaz. Em menos de dez dias, a agência de avaliação de risco Standard & Poor’s veio a público e anunciou o rebaixamento do grau de investimento para o patamar de grau especulativo, o que representa dizer que podemos não honrar o pagamento de nossas obrigações no curto e médio prazo. Com isso, imediatamente o dólar disparou e ultrapassou o nível de R$ 4.

O governo, tomado de surpresa e totalmente atordoado com os golpes, reuniu os cacos e anunciou uma revisão com redução substancial de gastos e descartando o aumento de impostos, mas anunciando a volta do imposto mais cruel aos humildes que é a CPMF, ou o famoso imposto do cheque.

As trapalhadas e mentiras terminaram no dia 14. Os ministros caras de pau anunciaram plano de ajuste ao orçamento para 2016 com ajuste de aproximadamente de R$ 65 bilhões, onde R$ 38 bilhões serão pagos pelo retorno da CPMF, aumento de Imposto de Renda sobre a venda de imóveis e postergação de reajuste dos funcionários públicos, que proporcionará uma economia de R$ 7 bilhões.

Se eu não estiver com amnésia, tudo o que foi prometido há exatamente 11 meses atrás foi uma enorme e gigantesca mentira. Mais uma vez, vamos pagar o preço de um governo frágil politicamente, incompetente e corrupto nas relações institucionais.

O que vamos viver nos próximos três meses eu não sei dizer, mas uma coisa é certa: teremos mais desemprego, inflação e aumento de impostos.




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