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Câncer na laringe
atinge mais homens

Consumo de cigarro e de bebida alcoólica potencializa riscos
de se contrair doença; por ano, são confirmados 10 mil casos

Angela Martins
Do Diário do Grande ABC
01/11/2011 | 07:30
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Diagnosticado no sábado, o câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe à tona a discussão sobre esse tipo de tumor. No Brasil, são confirmados 10 mil casos da doença por ano, sendo 16 para cada 100 mil habitantes na Região Metropolitana - número quase três vezes maior que a média mundial, que é de seis a sete casos por 100 mil pessoas. Dos 3.594 diagnósticos registrados em 2008, 3.142 foram em homens e 452 em mulheres, segundo o Instituto Nacional do Câncer.

Causado sobretudo pelo uso contínuo do cigarro e bebida alcoólica, o câncer de laringe representa 25% dos tumores malignos que acometem a região da cabeça e pescoço. "Esse é um tipo de câncer que não tem incidência alta, mas os sintomas demoram a aparecer. O mais comum é a rouquidão anormal", explica o diretor executivo do Centro de Pesquisas de Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC, Daniel Cubero.

Para os fumantes, a chance de desenvolver o tumor é dez vezes maior do que em pessoas que não têm o hábito de fumar. Se aliado ao álcool, a chance de aparecer o câncer é 43 vezes maior do que o restante da população. Como não há, hoje, programa de computador capaz de detectar precocemente o tumor na laringe, os médicos precisam ficar atentos aos sinais e ao histórico do paciente quando surgem os primeiros sintomas.

"Caso o paciente se queixe de rouquidão e tosse há mais de uma semana e for fumante, há um sinal de alerta. No entanto, é comum que o próprio paciente negligencie os sintomas e não busque o diagnóstico, o que pode levar o tumor a estágios mais avançados." 

ESTÁGIOS E TRATAMENTO
A ocorrência da doença pode se dar em uma das três porções em que se divide a laringe: supraglótica, glote e subglote. Aproximadamente dois terços dos tumores surgem na corda vocal verdadeira, localizada na glote, e um terço acomete a laringe supraglótica (acima das cordas vocais), como é o caso do ex-presidente Lula. O tipo mais prevalente, em mais de 90% dos pacientes, é o carcinoma epidermoide.

Além da rouquidão e tosse, os sintomas podem aparecer também na forma de alteração na voz, disfagia (dificuldade de engolir) e sensação de caroço na garganta. Nas lesões avançadas das cordas vocais, podem ocorrer dor na garganta, disfagia e dificuldade para respirar ou falta de ar. Os tumores são classificados em quatro estágios, sendo o primeiro (T1) o menos agressivo e localizado, até o mais avançado (T4).

"Em todos os casos há possibilidade de perda da voz, mas isso não é regra. Em geral, 60% a 80% dos pacientes conseguem sobreviver", afirma o oncologista e cirurgião de cabeça e pescoço do Inca Roberto Araújo. O tratamento dura em média três meses e pode ser feito com cirurgia a laser (nos casos iniciais), radioterapia, quimioterapia ou os dois tratamentos de uma vez. "Estudos comprovam que a cirurgia e a radioterapia têm o mesmo índice de cura, por isso os médicos estão optando pela radioterapia, que traz menos sequelas ao paciente", revela Cubero.

Mesmo após o tratamento, ainda pode haver alterações no timbre da voz, perda do paladar e secura na boca. A perda total da voz só se dá quando há completa destruição das cordas vocais, seja pelo tumor ou pela retirada com cirurgia.

 

Pacientes criam coral no Centro Hospitalar 

Pacientes com câncer de cabeça e pescoço que já não têm parte da mandíbula ou dos lábios não deixaram de lado os prazeres da vida, inclusive cantar. Esses verdadeiros heróis da resistência formam o Coral de Reabilitados de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Centro Hospitalar Municipal de Santo André, grupo que surgiu a partir das sessões de exercícios de fonoaudiologia.

O coral existe desde 2005 e conta com 24 integrantes. A idealizadora do projeto, a fonoaudióloga Sonize de Albuquerque Gimenes, da Fundação do ABC, organização contratada pela Prefeitura de Santo André para serviços clínicos no Centro Hospitalar, explica que já passaram pelo grupo aproximadamente 100 pessoas.

"O objetivo não é cantar, mas devolver a autoestima desses pacientes e promover a ressocialização. No coral eles trocam experiências e liberam suas emoções", afirma. Muitos dos pacientes têm lesões irreversíveis na laringe ou na audição causadas pela quimioterapia, mas reaprenderam a falar e a cantar pelo esôfago. As reuniões ocorrem toda última quarta-feira do mês, no anfiteatro do Centro Hospitalar. 

VENCEDORES
Integrantes do coral, os aposentados Waldemar Dias de Oliveira, 54 anos, e José Pereira, 66, podem se considerar vencedores de uma doença que todos os anos derrota milhares de brasileiros. Ambos foram diagnosticados por duas vezes com tumores na região da garganta e enfrentaram o câncer com fé e otimismo.

"Quando recebi o primeiro diagnóstico, meu mundo desabou. Fiquei desesperado. Mas com o tempo e o tratamento, vi que podia vencer o câncer", relata Oliveira. Fumante por 30 anos, ele passou por duas cirurgias na laringe, além de quimio e radioterapia. "Após três anos, o tumor voltou, desta vez no canal do esôfago. Hoje faço acompanhamento médico uma vez por mês e não está descartado o surgimento de um novo tumor. Mas nem por isso eu desanimo."

Embora tenha perdido quase totalmente a voz, Oliveira leva vida normal. Para se comunicar, ele busca aparelhos tecnológicos. "Envio mensagens de texto pelo celular, uso a internet. A gente aprende a se virar", brinca.

Para José Pereira, a fé e o apoio da família foram fundamentais para superar o câncer, que surgiu na faringe há sete anos e reapareceu recentemente, na laringe.

"Estou fazendo os exames para decidir o tratamento. Mas não estou assustado, já que tenho fé em Deus que ficarei bom novamente." Em ambos os casos, o coral é apontado como forma de superar a doença e redescobrir o prazer de viver. "Lá encontramos pessoas que tiveram o mesmo problema e nos ajudamos a superar nossos medos", conclui Pereira.

 

Outubro Rosa foca tratamento para reduzir a mortalidade 

Em 2010, o Instituto Nacional de Câncer direcionou para a campanha Outubro Rosa a necessidade das ações de prevenção contra o câncer de mama. Neste ano, o foco estará no tratamento, a fim de reduzir a mortalidade e proporcionar melhor qualidade de vida.

A expectativa do órgão é fortalecer a mobilização das políticas públicas em todas as esferas para contribuir com o controle do câncer de mama no País, já que a doença é responsável pela morte de 12 mil mulheres ao ano.

Estimativas mostram que o Brasil terá 50 mil casos de câncer por ano. Desses, 49.240 são relativos aos de mama. As maiores taxas de ocorrência estão nos Estados: Rio de Janeiro (88,3 casos de câncer de mama por 100 mil mulheres), Rio Grande do Sul (81,57 por 100 mil), Paraná (54,46 por 100 mil) e São Paulo (68,04 por 100 mil).

Não há dados relativos ao Grande ABC, mas informações repassadas pelas prefeituras mostram que em Santo André são diagnosticados 15 casos por mês, número que se repete em São Caetano. (Kelly Zucatelli)




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