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MAM inaugura centro de estudos Luís Martins
Do Diário do Grande ABC
26/05/2000 | 15:40
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A biblioteca do Museu de Arte Moderna de Sao Paulo (MAM) tornou-se, nesta quinta-feira, uma importante fonte de pesquisa documental para os interessados na história das artes plásticas brasileiras. Com a inauguraçao do Centro de Estudos Luís Martins, parte considerável do material guardado em vida pelo escritor, jornalista e crítico de arte Luís Martins (1907-1981) está aberta ao público.

"É o primeiro grande acervo de documentos do MAM", afirmou na solenidade de quinta-feira o curador-geral da instituiçao, Tadeu Chiarelli. Segundo ele, a criaçao do centro de estudos mostra "um inequívoco amadurecimento da instituiçao". Uma centena de pessoas ocupava o auditório do museu, entre elas a escritora Lygia Fagundes Telles. O material, que vem sendo catalogado e classificado desde 1997 pela pesquisadora Cristiana Bertazoni, já serve de apoio para as pesquisas realizadas pelo museu.

A formaçao dessa base de dados e textos é resultado da doaçao feita pela escritora Anna Maria Martins, viúva de Martins e pela publicitária Ana Luísa Martins, filha do casal. "Parte do meu pai está aqui; espero que seja bastante útil aos pesquisadores", disse Ana Luísa. Cerca de 1.300 cartas guardadas por Martins e dez mil crônicas escritas por ele fazem parte do acervo, além de fotografias e recortes de jornais e revistas.

É só uma parcela dos arquivos de Martins, que escreveu no jornal "O Estado de S.Paulo" por 34 anos: uma parte de seus papéis foi doada pela família, nos anos 80, à Casa de Rui Barbosa, no Rio, e sua biblioteca foi vendida à Universidade Federal de Sao Carlos.

Martins foi um importante nome da cultura brasileira. Nos anos 30, acabou perseguido pelo Estado Novo, regime ditatorial estabelecido por Getúlio Vargas. Motivo: seu romance "Lapa" foi considerado imoral. Teve de deixar o Rio, onde vivia. Mudou-se para Sao Paulo, em 1938. Em 1957, o poeta Carlos Drummond de Andrade classificou, em crônica no Correio da Manha, o episódio como "uma perda deplorável para o Rio".

Em Sao Paulo, Martins tornou-se referência no circuito de artes plásticas. Foi o primeiro a defender a criaçao do MAM publicamente, em 1946, em texto no 'Diário de Sao Paulo". No fim da ditadura getulista, participou da formaçao do Partido Socialista Brasileiro.

Em 1947, passou a escrever no Estadao. No jornal, assinaria a maior parte de suas crônicas assinadas com as iniciais L.M. - "sigla pela qual me tornaria mais conhecido do público do que pelo meu próprio nome", escreveu. Também dirigiu o arquivo da publicaçao. Seus textos nao tratavam apenas de artes plásticas, mas também de assuntos relacionados ao cotidiano da cidade, à literatura, ao rádio e teatro.

Martins viveu com a pintora modernista Tarsila do Amaral por quase 20 anos, mas o gosto do crítico pela arte moderna foi muito além dessa relaçao iniciada na juventude. Dos 36 livros que publicou, boa parte trata dessa produçao. Alguns deles estao expostos na biblioteca Paulo Mendes de Almeida, do MAM, como "Di Cavalcanti e A Pintura Moderna no Brasil". Entre seu amigos, estavam Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet, Di, Portinari, Moacir Werneck e o prórpio Paulo Mendes de Almeida.

Em 1963, Francisco Matarazzo decidiu doar o acervo do MAM à Universidade de Sao Paulo (USP), dando origem ao Museu de Arte Contemporânea. Martins criticou a medida. O MAM seria reconstituído e, nos anos 70, o jornalista participaria de sua direçao e de seu conselho. Ontem, Chiarelli ressaltaria a "abnegaçao de homens e mulheres que se desdobraram para manter o museu".

Como escritor, Martins recebeu duas vezes o Prêmio Jabuti, pelos livros "Noturno da Lapa' (1964) e "Girafa de Vidro" (1971). Intregou a Academia Paulista de Letras, ocupando a cadeira 28, que pertencera a Julio de Mesquita Filho. Atualmente, Anna Maria também é integrante da instituiçao.

Ana Luísa gosta de contar que, graças a seu pai, a instituiçao inovou no chá da tarde, passando a servir também uísque aos acadêmicos. A bebida, cuja apreciaçao reunia os amigos Sérgio Buarque e Paulo Mendes, foi, por sugestao da filha servida após a cerimônia de inauguraçao do novo centro.




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