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A vida em volta da Praça da Riqueza
Henrique Munhos
Especial para o Diário
28/02/2011 | 07:36
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André Henriques/DGABC


Um local onde a maior parte da população é idosa, todos se conhecem e quase tudo é concentrado em volta de uma praça. Parece cidade do interior, mas não é. O bairro Prosperidade, em São Caetano, sempre foi diferente dos outros. Mas quem vive há anos no local alerta: o cenário tranquilo está mudando.

As fábricas estão cada vez mais presentes no Prosperidade. "Antes, conhecíamos qualquer pessoa que passava por aqui. Hoje, por conta desse monte de empresas, 20% da população nós não sabemos nem de onde vem", calculou o aposentado Henrique Valério Filho, conhecido como Riquinho, que está no bairro desde 1959. A dona de casa Irene Domingues, 80, também está insatisfeita. "Não tenho mais vizinhos. É fábrica de todos os lados da minha rua."

De acordo com a Prefeitura de São Caetano, são 111 as empresas instaladas no bairro. Os sons provocados pelas indústrias também incomodam quem estava acostumado com o silêncio. "É muito barulho a qualquer hora do dia", contou Sonia Domingues, nora de Irene. A senhora de 80 anos, entretanto, sabe a ajuda que as fábricas trouxeram região. "O lado bom é que nossos filhos têm chance de se empregaram aqui perto."

Em breve, o bairro deverá receber mais ‘desconhecidos'. Dia 12, serão sorteados 97 apartamentos do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), construídos na Rua São José.

VIDA PACATA
Apesar das reclamações dos moradores mais tradicionais, a calmaria ainda é a principal marca do Prosperidade. Quase tudo está concentrado em volta da Praça da Riqueza. Um mercadinho, dois bares, uma padaria, uma igreja, um posto policial e uma farmácia. Banco não tem, mas caixas eletrônicos foram instalados no mercado.

Quem já está há muito tempo morando ali aprecia a vida interiorana. "A gente vem para a Praça, conversa, lê o jornal e espera o Bar do Castelo abrir para jogar um dominó", contou o aposentado Miro Delvis, 72, que conhece o Prosperidade desde 1943.

Ele, assim como outros antigos no bairro, tiveram de se despedir do Prosperidade por conta das enchentes constantes. "Em 1993, quando a água na minha casa chegou a 1,80m, fui embora. Voltei somente no ano passado", relembrou. Hoje, os alagamentos causam menos estragos.

SERVIÇOS
Um dos serviços mais elogiados pelos moradores é o prestado pelas equipes da Unidade Básica de Saúde. "Acho que nossa principal qualidade é a humanização nos atendimentos, que fazem com que os pacientes se sintam menos desconfortáveis ao vir ao hospital" declarou a coordenadora da UBS, Vânia Barbieri, 48.

Vânia afirmou que a UBS do Prosperidade conta com os serviços de clínico geral, pediatria e odontologia, além de vacinas e exames como eletrocardiograma e papanicolau. A UBS realiza cerca de 700 atendimentos por mês.

União Jabaquara acumula conquistas

O União Jabaquara Futebol Clube poderia ser considerado um time de futebol amador como outro qualquer. Porém, poucos times de várzea têm história tão rica quanto o Leão da Vila, como é conhecido a equipe que tem as cores vermelha e amarela.

Fundado em 1944, o Jabaquara tem sete títulos da Liga Sul-Sancaetanense de Futebol. "E temos vários títulos de quando éramos filiados a Liga de Santo André. Só que eles inexplicavelmente não registraram nada", protestou o presidente do clube, Francisco Nieto, 62. O presidente foi jogador do clube de 1963 até 1984. Depois assumiu como técnico, cargo que ocupou por 17 anos antes de assumir a presidência.

Mais do que uma rica história no futebol amador, o Jabaquara tem ligação com o São Caetano. Quando foi fundado, em 1989, o Azulão só conseguiu disputar os campeonatos da Federação Paulista ao ter a filiação cedida pelo Leão da Vila.

E não fica só isso. Carlos Roberto Polastro, 57, compôs o hino que ficou conhecido no país inteiro quando o São Caetano foi um dos protagonistas do futebol nacional no início dos anos 2000.

"Fui vice-presidente do São Caetano quando o time foi fundado. Até assumiu a presidência por seis meses. Quando fomos campeões da terceira divisão em 1990, percebi que não tínhamos um hino. Daí comecei a compor", recordou Polastro. Segundo o aposentado, o hino do Azulão ficou pronto em maio de 1991.

O presidente do Leão da Vila disse que a equipe tem a maior torcida da cidade. "Agora diminuiu um pouco. Porém, nas finais dos torneios, levamos 1.500 pessoas para o campo", afirmou Nieto. O dirigente declarou que no começo da década de 1990, cerca de 8.000 pessoas compareciam aos jogos do time.

Além do Jabaquara, o bairro Prosperidade conta com o Creua, que tem um título do futebol amador da cidade.

Bairro vence o drama de ser periférico

Localizar-se, ao mesmo tempo, na periferia de São Caetano e Santo André, a poucos metros da Zona Leste de São Paulo, trouxe graves problemas à pioneira Vila Prosperidade, loteada em meados da década de 1920 por empreendedores de São Paulo da família Alcântara Machado.

De um lado, a ocupação urbana de uma larga faixa do vale do Tamanduateí, entre os córregos do Moinho e Oratório; de outro, as disputas entre os dois municípios vizinhos; por fim, a característica mista do residencial e do industrial, com vantagens - de ter emprego à porta - e desvantagens, provocadas pela poluição industrial.

Pior que a poluição, as enchentes cíclicas, historicamente o maior problema de Vila Prosperidade; também os benefícios públicos chegaram com lentidão, pois a oficialização do bairro demorou - a pioneira vila somente foi oficializada em 1944, conforme o decreto nº 51, que foi assinado pelo prefeito de Santo André, José de Carvalho Sobrinho, não sem muita luta por parte dos moradores, organizados em torno de uma das mais antigas Sociedades Amigos de Bairro do Grande ABC.

Ao ser aberto, o loteamento fazia parte do Distrito de São Caetano, ligado ao Município de São Bernardo; permanece ligado a São Caetano em 1938, como integrante da Segunda Zona do Município de Santo André; em 1949, com a instalação do Município de São Caetano, fixa-se como bairro andreense; em plebiscito, realizado em 1963, é anexado a São Caetano.

Ao lado da SAB (Sociedade Amigos do Bairro), a organização em torno do futebol, com dois clubes: Vila Prosperidade (fundado em 1929) e União Jabaquara (de 1944). A Igreja Católica nasce de movimento popular e é inaugurada em 1952; dois anos depois é criada a paróquia; somente em 1952 foi construído o primeiro grupo escolar; por causa das ruas não pavimentadas e esburacadas, a linha de ônibus passava de hora em hora.

ETNIA
Mesmo com os problemas, que o desenvolvimento urbano tratou de encaminhar e resolver - ou amenizar -, o bairro Prosperidade manteve grupos de moradores pioneiros, entre eles membros da família Fiorelli, cujo patriarca, o italiano Romeu Fiorelli, comprou em 1925 um dos primeiros lotes do bairro. Brochin, Manduca, Loureiro, Segato, Tranquilo, Pereira, Trovão, Santos e Valério são outras famílias de raízes do bairro, com representantes perpetuados nas páginas do futebol do bairro.

Na música, a presença de Jair, um jovem cantor que foi escriturário da Coferraz (empresa extinta) e que ganhou projeção nacional com o nome de Jerry Adriani, o italianinho dos tempos da Jovem Guarda.




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