Unidades funcionam com número de profissionais inferior
ao estipulado pelo ministério; Prefeitura reconhece problema
Cinco das seis Unidades de Pronto Atendimento de São Bernardo funcionam atualmente com quantidade de médicos inferior ao que estipula o Ministério da Saúde. Nesta semana, o Diário percorreu todas as unidades da cidade. A única UPA que está de acordo com os padrões exigidos é a do bairro Baeta Neves. A Prefeitura reconhece o problema.
De acordo com a administração, atualmente 80 vagas estão abertas por falta de médicos na rede de emergência. A cobertura médica na rede de UPAs (e também dos prontos-socorros de bairro) atinge atualmente 70% do ideal.
Usuários afirmam que a situação é pior aos fins de semana e segundas-feiras. A quantidade de médicos por plantão é determinada segundo o porte da UPA. É exigido o mínimo de dois (para a unidade de porre 1), quatro (porte 2) e seis médicos (porte 3), distribuídos entre pediatras e clínicos gerais.
Essas unidades têm papel intermediário entre as Unidades Básicas de Saúde e hospitais e devem oferecer resolução aos casos de baixa e média complexidade. Já os casos graves são estabilizados e transferidos.
A Prefeitura defende que as UPAs devem, ou pelo menos deveriam, absorver parte da demanda do problemático Pronto-Socorro Central, para onde inúmeros pacientes ouvidos pelo Diário ainda recorrem quando há demora no atendimento por carência de médicos. Com as inaugurações, a situação melhorou, mas ainda está longe do ideal.
Em uma unidade tipo 2, como a do Demarchi/Batistini, a capacidade de atendimento é de 300 pessoas por dia. Pelo menos quatro médicos teriam de estar de plantão. Nesta semana, apenas um profissional de cada especialidade atendia os pacientes, que chegavam a aguardar duas horas por atendimento. O quadro de médicos foi informado, assim como em todas as unidades, pelos próprios funcionários. "Criança não pode ficar doente de fim de semana. Minha filha teve estomatite e corri para cá num domingo. Não tinha pediatra. Peguei o ônibus e fui ao PS Central" disse a dona de casa Anderlúcia de Souza, 33.
Na UPA do Riacho Grande, tipo 1, na quarta-feira à tarde, apenas uma médica socorrista estava de plantão. A sala estava cheia. "Mas ela atende criança, adulto, todos", esquivou-se a atendente.
No dia anterior, a dona de casa Rute de Fátima Jesus, 46, criticou a morosidade no atendimento na UPA Paulicéia/Taboão. "Tem médico. Mas se chega alguém em situação mais grave, esquece. Há uns dez dias minha filha estava com febre alta, mas desisti de esperar. Fui embora e dei antibiótico. Isso acontece com frequência. A estrutura é boa. Mas, o atendimento fica pela metade, né?", comentou.
Em São Bernardo, a remuneração oferecida ao pediatra, por plantão de 12 horas, é de R$ 860 durante a semana e R$ 1.020 aos sábados e domingos. Já para clínicos gerais, o salário é de R$ 720 e R$ 856, respectivamente.
DIADEMA
Na única UPA de Diadema, que funciona no bairro Paineiras e é tipo 2, a situação é semelhante. Apenas uma médica atendia na segunda-feira. Pacientes confirmaram à reportagem que o problema é recorrente. "A estrutura é melhor, mas ainda está aquém do que precisamos", observou o desempregado Antonio Luis da Silva, 44.
A Prefeitura informou que, no dia citado, o quadro de médicos foi preenchido à tarde e que novas contratações estão previstas para abril.
Prefeitura alega dificuldade na contratação
A Prefeitura de São Bernardo reconhece o problema da carência de médicos nas portas de emergências da cidade. A administração prevê a contratação de até 30 profissionais (entre socorristas, pediatras e clínicos gerais) até o fim do mês, de acordo com o assessor técnico do Departamento de Atenção Hospitalar, Morris Pimenta de Souza.
Metade desses profissionai deverá atuar aos fins de semana, quando a demora se acentua. Enquanto o corpo clínico ideal não é preenchido, a Prefeitura opta por reforçar a rede de atenção básica, para minimizar o acesso desenfreado às UPAs, além de ajustar a demanda com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, que faz a transferência de pacientes graves pela rede.
No entanto, mesmo com as novas contratações, o deficit está longe de ser zerado. "Com certeza ainda irá faltar. Nossa expectativa é que os novos médicos possam ampliar suas cargas horárias. Não há solução mágica, mas a perspectiva da Prefeitura é positiva. Em até dois anos esperamos alcançar, pelo menos, 95% da cobertura", prevê o assessor, que emendou: "Temos quadro reduzido, mas garantimos que não há desassistência".
A dificuldade para contratação, especialmente de pediatras, é nacional. De acordo com Souza, há falta de interesse em atuar pela rede pública principalmente porque há vantagens financeiras no setor ambulatorial privado.
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