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Jogadores se viram para complementar salário
Thiago Silva
Do Diário do Grande ABC
22/08/2011 | 07:45
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Orlando Filho/DGABC


Treinar diversas vezes à noite e em campos de terra, jogar em estádio com gramado de péssima qualidade e enfrentar viagens de mais de sete horas. Se fossem apenas esses percalços que alguns jogadores do Esporte Clube São Bernardo enfrentassem, estava de bom tamanho.

Com os salários baixos que recebem do clube, cerca de R$ 600 a R$ 800 - a maioria das agremiações da Segunda Divisão do Campeonato Paulista paga quantias parecidas -, alguns buscam outros trabalhos para complementar o salário e não abrir mão de abandonar a carreira de jogador de futebol, realidade completamente diferente dos famosos como Neymar, do Santos, e Ronaldinho Gaúcho, do Flamengo, para não citar exemplos da Europa.

Mas alguns atletas do Esporte Clube, que hoje têm outra profissão, até tiveram chances de jogar por uma equipe considerada grande no cenário nacional. O atacante Chuck, 23 anos, por exemplo, passou por Palmeiras e Cruzeiro e hoje trabalha em uma loja no Shopping do Coração, no Centro de São Bernardo.

"No ano passado eu me machuquei (rompimento no ligamento cruzado posterior do joelho) e fiquei dez meses afastado dos gramados. Para não ficar parado e sem receber, preferi buscar um emprego", recordou o atacante, artilheiro do Esporte Clube na Segundona, com nove gols.

O cotidiano do jogador é desgastante. Dependendo da hora do treino, ora à noite ora de manhã, ele troca o horário na loja. "Meus gerentes entendem o que faço e me dão a maior força. Sou muito grato a eles", afirmou o atacante, que recebe praticamente o mesmo salário na loja.

Rotina pior, no entanto, é do lateral-direito Ranses. Ele trabalha em uma empresa de logística, no Jardim Lavinia, em São Bernardo, das 22h às 5h. Várias vezes, sai do jogo ou do treino e vai direto para o trabalho. "Antigamente era de dia, mas mudei por causa dos treinamentos. Estou lá desde o início de 2010, e comecei no EC São Bernardo apenas em meados do ano passado", recordou o lateral.

Segundo Ranses, 20 anos, a busca por outro emprego aconteceu após decepção no futebol. Em 2009 ele estava em fase de testes nas categorias de base do Vasco da Gama, quando atrasou em um dia a reapresentação e foi demitido.

"Fiquei muito chateado com a situação e preferi voltar para São Paulo e começar a trabalhar. Depois que surgiu a oportunidade no São Bernardo, graças a convite do (técnico) Júlio (César Passarelli)", recordou o jogador, que recebe cerca de R$ 1.500 a mais pelo trabalho extra. "A empresa em que trabalho até ajudou o clube porque tratei de uma infecção na perna esquerda pelo convênio", brincou.




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