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Devanir Leite: de gráfico a jornalista
Adriana Feder
Especial para o Diário
29/05/2010 | 08:24
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A trajetória profissional do aposentado Devanir Leite converge com a história da modernização gráfica do Diário. O gráfico, que completa 70 anos na terça-feira, começou sua carreira operando as antigas máquinas de linotipo do jornal. E só foi capaz de permanecer no emprego durante 23 anos por sua curiosidade em aprender e sua paixão por novas tecnologias, que fizeram com que ele não se tornasse obsoleto tal qual a máquina operava originalmente.

Leite entrou na empresa no cargo de linotipista, em 1966, quando o jornal ainda se chamava News Seller. E participou da primeira impressão do Diário do Grande ABC. Como tinha conhecimento em mecânica, passou a ajudar na manutenção do aparelho.

"Eu tinha de manter dez máquinas de linotipo, e nunca nenhuma ficou parada. Todo dia tinha uma quebrada, e eu ia consertar", afirma. Ficou no cargo até o sistema ser alterado com a instalação da rotativa offset. Então, foi encarregado de implantar o sistema de fotocomposição, tecnologia recém-chegada no Brasil.

Os computadores Photon Microdata e as máquinas perfuradoras de fitas Varicomp vieram na sequência. O profissional testemunhou o salto do sistema de perfuração para as paginadoras Harris, que já produziam páginas inteiras. "Participei de todas as mudanças que ocorreram à medida em que a informática foi se desenvolvendo e a tecnologia da informação passou a voltar seus olhos para a área gráfica."

Quando o Windows foi lançado, Leite orientou seus funcionários a conhecerem os aplicativos. Era chamado sempre que aparecia um produto novo. Fazia cursos, aprendia a operar, e em seguida transferia o conhecimento aos funcionários. "Comecei a assimilar a tecnologia. Eu virei, digamos assim, um nerd na área. Passei a querer aprender tudo. Fiz cursos técnicos. Convivi com diretores e engenheiros de grandes jornais do País. Comparecia a todos os encontros de tecnologia", conta.

Sem entender direito o inglês para ler os grossos manuais que explicavam as máquinas, Leite aprendia os comandos de informática. "Uma parcela considerável dos funcionários que trabalhou aqui, assim que as tecnologias eram sendo incorporadas à produção do jornal, pedia a conta e ia embora", comenta.

Leite passou então a atuar como supervisor industrial, contribuindo para a conquista do Diário no prêmio principal do concurso internacional de qualidade de impressão Run For The Money, da Kodak.

Quando deixou o jornal, fundou sua própria empresa, a gráfica Plano Piloto. Depois, sua curiosidade fez com que, de impressor e linotipista, passasse a exercer a tarefa de jornalista. De 2000 a 2008, comandou um jornal em Suzano, o Integração. Hoje, por hobby, reúne assuntos curiosos que saem na mídia e os publica na internet.

Ainda inserido no mundo moderno, Leite critica quem tem medo de se abrir ao progresso. "É uma pena, porque o computador veio para facilitar nossa vida. Conheço software de tratamento de imagem, faço paginação, navego na internet, estou em sites de relacionamento, sei fazer pesquisas na rede. O que for tecnologia, estou dentro."

 

 

Profissional reformou linotipo que decora Diário

 

Devanir Leite liga e demonstra, com intimidade, como é o funcionamento do linotipo que decora o saguão de entrada do Diário, na Rua Catequese, que ele próprio restaurou.

Ele conta que aprendeu a operar o linotipo de forma autodidata. "Na época eu desmontei ele inteiro e montei de novo para entender seu mecanismo", diz Leite, que até hoje se fascina com a complexidade da máquina.

O linotipo foi inventado por Ottmar Mergenthaler em 1890, na Alemanha. Funde em bloco cada linha de caracteres. As matrizes que compõem a linha-bloco descem do magazine onde ficam armazenadas e, depois de usadas, voltam a ele para nova utilização. Suas três partes - composição, fundição e teclado - ficam unidas em uma mesma máquina.

A composição rápida, de baixo custo, promoveu revolução no ramo da publicidade e da educação. Antes da invenção, os jornais e revistas eram escassos, finos e caros. Como resultado do linotipo, os horizontes da indústria de publicação tiveram grande expansão.

 




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