A GCM (Guarda Civil Municipal) de São Caetano deteve ontem dois adolescentes, ambos com 13 anos, acusados de furtar uma motocicleta no Centro. Segundo a guarda, a dupla admitiu o delito, e indicou ainda a localização de outra motocicleta roubada, que foi apreendida com um terceiro garoto, este com 15 anos, na Capital, onde mora o trio.

Para especialistas ouvidos pelo Diário, a participação cada vez mais frequente de adolescentes em crimes é reflexo da ausência de políticas públicas para a juventude.

O primeiro veículo apreendido, uma Honda Biz amarela, foi furtado pelos meninos de 13 anos por volta das 9h, na esquina das ruas Baraldi e Manuel Coelho, em São Caetano.

Os garotos estavam empurrando a motocicleta pelo Viaduto Independência, sentido Avenida dos Estados, a cerca de um quilômetro e meio do local do crime, quando foram encontrados pela GCM.

Em busca pela Vila Industrial, conforme indicação dos adolescentes, a GCM encontrou a segunda motocicleta, que estava sendo empurrada pelo garoto de 15 anos. Sobre este veículo, os adolescentes disseram que o adquiriram "de um noia na segunda-feira (dia 16), por R$ 55."

O dinheiro, segundo os garotos, foi conseguido com entrega de panfletos. O furto da moto foi justificado pelos adolescentes simplesmente pela "vontade de dirigir."

"O argumento não me parece convincente. Deve haver outro motivo. Muitos desses jovens têm dívida ou compromisso com tráfico e ainda não são capazes de medir as consequências de seus atos" afirmou a assistente social da Pastoral do Menor Ruth Pistori.

"Esse é um problema que se agrava. A população está cada vez mais desassistida, e os programas sociais não alcançam esses jovens, deixando-os mais suscetíveis a se envolver em atos criminosos", completou o ex-secretário Nacional de Segurança Pública José Vicente da Silva Filho.

Os adolescentes foram liberados depois da chegada de seus pais. O inquérito será remetido à Justiça.

Três casos chamaram a atenção em 2008

Em 2008, ao menos três casos envolvendo a participação de adolescentes em atos em conflito com a lei despertaram a atenção das autoridades e causaram espanto na opinião pública. O choque não se deveu somente pela pouca idade dos jovens, mas também pela reincidência da prática criminosa.

Durante todo o ano passado, um garoto de 11 anos, identificado apenas como F., foi detido inúmeras vezes pela polícia na Zona Sul de São Paulo, acusado de roubo de carros.

Como ainda era considerada uma criança pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o menino não pôde ser internado na Fundação Casa e era devolvido aos pais após cada detenção, voltando, pouco depois, a cometer os mesmos crimes.

Em maio, em Diadema, um trio formado por um adulto de 18, um adolescente de 15 e outro de 12 - apontado como o líder do grupo -, foi preso em flagrante roubando um posto de combustível utilizando um revólver de videogame.

Os jovens assaltaram o estabelecimento mais de 100 vezes. Destes crimes, 31 foram registrados em boletins de ocorrência. Em único dia, a caixa registradora do estabelecimento, instalado no Parque Real, foi esvaziada pelo trio cinco vezes.

Cerca de três meses depois, a polícia prendeu, em São Caetano, outro grupo especializado em roubos a postos de combustíveis. O bando, que contava com a participação de um adolescente de 15 anos, era suspeito de praticar 75 assaltos a sete estabelecimentos diferentes na cidade.