Outro dia vi, numa clínica odontológica, uma secretária que carregava, com alguma dificuldade, uma velha máquina de escrever. Fiquei a observá-la, pensando na hipotética utilidade daquele objeto em tempos modernos que, maldosamente ou por força das circunstâncias, decidiram pela sua aposentadoria. Talvez tivesse sido guardada ali para ornamento de alguma sala. – pensei. Um dentista antigo e nostálgico a teria preservado como recordação do tempo em que montara seu primeiro consultório. Considerei ainda a possibilidade de ser utilizada no preenchimento de fichas de clientes, uma vez que não consigo imaginar aplicativo que tenha sido criado para o cadastro de gente que faz tratamento dentário. Não este aplicativo que está na crista da onda, logicamente. Com certeza, aquele que, ao contrário do que se imagina, ainda consta dos antigos catálogos de software, e que dava conta da sua singela atividade diária de cuidar da relação de nomes de pessoas dispostas a qualquer coisa. Remonta mesmo os tempos da criação e implantação dos microcomputadores no seio desta sociedade digital. Usado para controle disso e daquilo, até hoje, estou certo de que tem o seu lugar garantido na informatização do trabalho.

Entretanto, o termo aplicativo tornou-se recentemente moda e caiu na boca do povo como arroz e feijão. Algo que não se sabe bem o que significa, embora do qual muito se fale. Bastante útil, transformou-se em sinônimo de informação na palma da mão, lugar de destaque para se usar o instrumento utilizado quando se pretende fazer uso desta maravilha. E é neste pequeno e maravilhoso universo, até há pouco usado somente para chamadas telefônicas, que se convencionou colocar o tal ou os tais aplicativos.

Hoje os temos para verificar o trânsito, a previsão do tempo, a planta da cidade e do planeta, as previsões do zodíaco, a conta bancária e uma infinidade de atributos dos quais se serve o cidadão comum, talvez até aquele que necessite cadastrar o cliente para um tratamento dentário. Se bem que desconfio de sua capacidade de executar serviço de tal monta.

Mas são aplicativos, afinal, que enchem de dados úteis o dia a dia das pessoas. Há um, aliás, de utilidade indiscutível, que mostra a posição dos astros no cosmo. Imagine! Comparável a ele em praticidade e importância na vida, somente aquele serviço que algumas operadoras de telefonia celular oferecem, que consiste em deixar o usuário a par de tudo o que ocorre na carreira e na intimidade de seus astros terrenos prediletos. Por um precinho acessível, é possível saber das fofocas reais e irreais sobre aquele.

É a tecnologia, enfim, essa fabulosa ferramenta, a deixar repleto de facilidades o cotidiano de quem não consegue mais se imaginar um ser humano completo sem ela. Reveste-se mesmo, essa gente, de alguma estranheza ao imaginar o ser que um dia habitou este planeta, viveu à mercê da máquina de escrever e da esferográfica e, ainda assim, prosseguiu respirando. Inadmissível!

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com.