Cultura & Lazer Titulo
Dia de orgulho e reflexão
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
12/06/2004 | 20:22
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Este domingo é dia de Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) na Avenida Paulista, em São Paulo. Dia em que milhares de pessoas vão às ruas para fazer outros milhares refletirem sobre a condição atual dos homossexuais no país. Outra revolução, um pouco mais silenciosa, acontece no campo cultural. Produção de livros, filmes, documentários, teses acadêmicas; participação em simpósios; conquista de espaços públicos; a cada ano a população assiste a um crescimento constante da visibilidade GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Os números impressionam. Nos Estados Unidos, o turismo GLS movimenta a quantia anual de US$ 55 bilhões (R$ 171 bilhões).

A única pesquisa a esse respeito, feita em 2000 pela Secretaria Estadual de Esportes e Turismo, mostrava que, na semana da Parada Gay, São Paulo tinha um crescimento da demanda por serviços e negócios que totalizava R$ 50 milhões. No ano em que foi feita a pesquisa, 100 mil pessoas participaram da Parada.

Com base nestes números, se a Parada reunir 1 milhão de pessoas neste ano, é possível imaginar que o turismo em São Paulo tenha recebido uma injeção financeira de R$ 500 milhões. O Brasil, é bom lembrar, tem 7 milhões de consumidores gays e lésbicas, na faixa dos 20 aos 50 anos. O número reflete um consenso mundial de que 10% da população entre 20 e 25 anos é homossexual.

Se a iniciativa de São Paulo torna a capital um centro de atração econômica e cultural, quanto o Grande ABC, que não tem um movimento GLS organizado, deixa de lucrar?

Essa pergunta foi feita ao agente de turismo Franco Reinaudo, 41 anos, que tenta transformar o Brasil em um circuito gay-friendly (algo como amistoso ao gay), para atrair clientes homossexuais da Europa, Estados Unidos e países vizinhos.

Reinaudo disse que é difícil precisar, mas, se a região não criar atrativos para chamar a atenção do turista GLS, possivelmente, toda a clientela ficará restrita a São Paulo.

O especialista em turismo deu como exemplo a cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, que registrava, no mês de agosto, seus piores números em termos de ocupação de hotéis e restaurantes. “Essa realidade mudou completamente depois que Juiz de Fora passou a fazer a sua Parada Gay em agosto. O resultado é estimulante: os hotéis e restaurantes têm ocupação máxima naquele mês.”

Reinaudo disse que falta aos empreendedores do Grande ABC “planejamento estratégico” e “chamarizes” (como o exemplo de Juiz de Fora), para atrair o turista GLS. Enquanto isso não ocorrer, hotéis, restaurantes, bares do Grande ABC vão perder dinheiro.

Medo – A moradora de Santo André e militante do Coletivo Feministas Lésbicas, Marisa Fernandes, 51 anos, acha complicado criar um circuito gay-friendly no Brasil, enquanto o país continuar registrando números impressionantes de assassinatos de homossexuais. “O Brasil é o primeiro país do mundo no ranking desses crimes”, ela alerta, citando uma pesquisa, feita em todo o país pelo Grupo Gay da Bahia, com base em boletins de ocorrência.

Reinaudo contesta esses números. “Morre muita gente no Brasil, vítima de violência, mas isso não significa colocar tudo como crimes de ódio pela condição sexual da vítima.” Reinaudo considera a pesquisa sensacionalista e afirma que o país “melhorou muito”. “As pessoas aceitam com mais tranqüilidade a diversidade sexual. No shopping Frei Caneca, em São Paulo, casais homossexuais de mãos dadas.”

Avanço – Essa é também a opinião da editora Laura Bacellar, que dirigiu a Editora GLS. “Eu participo há 10 anos do movimento gay e posso dizer que nessa década tudo mudou.” Segundo Laura, os avanços são inegáveis: “em 1994, era inimaginável acreditar que a Prefeitura de São Paulo fosse patrocinar uma Parada Gay.” Laura cita outros exemplos: “além da Editora GLS, há outras editoras investindo no mercado gay. Estão sendo publicados novos livros, teses acadêmicas e as livrarias começam a expor esses títulos.”

Laura é uma das criadoras do grupo Umas e Outras, que reúne 200 lésbicas, e colabora com a organização da Dike Parade (uma caminhada de lésbicas, que acontece sempre um dia antes da Parada Gay).




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