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‘Rei Lear’ inspira fita inglesa sobre crime
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
20/06/2002 | 18:23
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Foi-se o tempo em que havia honra entre gangsteres e que ser da máfia era um mero negócio de família, segundo Francis Ford Coppola e Mario Puzo na trilogia O Poderoso Chefão. Agora é a vez da Inglaterra cultivar uma maneira romântica de encarar o crime e seus personagens, mas o diretor inglês Don Boyd precisou de um clássico britânico para tratar do assunto em Uma Questão de Família, que estréia nesta sexta no circuito paulistano.

A tragédia Rei Lear, de William Shakespeare, serve de inspiração para esta história de um velho rei do crime de Liverpool que passa o comando de seus negócios escusos para suas filhas ao ficar viúvo e se vê abandonado à própria sorte por elas em uma disputa fratricida. O velho criminoso é o veterano irlandês Richard Harris, que foi o feiticeiro de Harry Potter e a Pedra Filosofal e o lorde posto à prova pelos índios americanos em Um Homem Chamado Cavalo.

Um Questão de Família é um título apropriado. E que família! Ao ficar viúvo de sua mulher, Mandy (Lynn Redgrave), o sr. Sandeman (Harris) decide passar seus bens para sua amada filha mais nova, a ex-viciada em drogas Jo (Emma Catherwood), que recusa tudo e sai de cena. Sobram as gananciosas Kath (Louise Lombard), dona de um bordel, e Tracy (Lorraine Pilkington), dona de um clube de futebol, fachada para lavagem de dinheiro. Por trás delas, os respectivos e violentos genros de Sandeman, que passam a comandar os capangas do ex-chefão.

Mandy era o elo que mantinha o equilíbrio da família, mas morre logo no início do filme em um assalto, que Sandeman acredita ter sido armado para ele. Sua decisão de retirar-se afeta toda a família, mas ele acaba solitário, exceto pela companhia de seu neto, chamado apenas de Garoto (Reece Noi), filho bastardo de Kath que era criado por Mandy. Kath deseja mais do que a parte que lhe cabe e arma um plano de vingança junto com o corrupto sargento da polícia Puttnam (Aidan Gillen).

O épico de Shakespeare é uma sombra sobre o filme. Ao mesmo tempo em que lhe dá substância, limita-lhe em criação. O diretor não se vale dos diálogos do bardo inglês mas fica retraído na estrutura central de Rei Lear, em uma narrativa irregular, que passa longe da intensidade impressa pelo mestre Akira Kurosawa sobre o mesmo tema em Ran. Em que pese o diretor Boyd ter feito o roteiro com um jornalista, Nick Davies, que conhece melhor o submundo local, a realidade ficou menos realista do que o filme tenta aparentar.




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