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Tamanduateí já foi usado para pesca e passeios
Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
24/01/2009 | 07:00
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Quem tem 20 anos de idade pode não imaginar, mas as águas que jazem em torno de Mauá, Santo André e São Caetano, margeando a Avenida dos Estados até a Capital, até a década de 1940 serviram à pesca, aos banhos, aos passeios de barco e para matar a sede dos animais. Anos dourados em que o Tamanduateí podia ainda ostentar o título de rio antes do nome.

O rio de muitas voltas, como era chamado pelos índios que habitaram a região, mais adiante passou a servir aos portugueses que se aproveitaram da conexão que o leito proporcionava entre a Serra do Mar, o Rio Tietê, na Capital, e consequentemente com o Interior do Estado.

Com o tráfego intenso de mercadorias por suas águas, o Tamanduateí foi fundamental ao progresso da Vila de Piratininga, como era chamada a cidade de São Paulo.

A famosa Ladeira Porto Geral, na Capital, deve seu nome ao Tamanduateí. O caminho levava direto para um porto onde atracavam embarcações vindas pelo rio. O porto resistiu até o início do século 20, quando o poder público mudou o curso das águas.

Antes do batismo oficial, a ladeira levou os nomes de Beco dos Barbas, Beco da Barsa e, claro, Caminho para o Tamanduateí. Naquela época, as cheias periódicas do rio davam aviso muito claro da limitação para ocupar suas várzeas, um sinal desobedecido ao longo dos anos. Só os pobres moravam perto das margens e as lavadeiras disputavam espaço nas águas.

As casas mais modernas que foram se instalando e faziam fundos com o rio possuíam escadarias onde os moradores atracavam seus barcos.

O Tamanduateí foi ainda o eixo condutor para a construção da estrada de ferro Santos-Jundiaí, em 1867. Trem e águas foram um chamariz e as primeiras indústrias começaram a se instalar no Grande ABC, desde então. Com as várzeas conferidas à iniciativa privada, o rio abandonou a possibilidade de ser dedicado ao uso público.

Em 1894, com a implantação do Projeto Carlos Bresser de retificação do Rio Tamanduateí, suas sete voltas começaram a desaparecer. Nos anos 1930 o rio ficou retilíneo.

"No Tamanduateí eu nadava, pescava, a gente bebia água, passeava. Na década de 1950 começou a poluição. Naquela época não tinha subsídio nenhum para denunciar aquela agressão ecológica, aliás, nem se falava em ecologia", relata o artista plástico Sergio Longo, 62 anos, que frequentou até a adolescência com o rio, em Mauá, onde é nascido. "Na minha cabeça de menino aquilo (a degradação) ficou muito marcado porque de repente nós perdemos nosso ponto de referência", diz.

A convivência com o Tamanduateí, sua morte anunciada, e a inércia das autoridades em recuperá-lo inspiraram Longo a escrever Aqui tinha um rio, livro que conta a história das águas na qual ele é personagem real, lançado há um ano e meio.

Exemplares podem ser adquiridos pelo e-mail correiodolongo@gmail.com.




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