Cultura & Lazer Titulo
Tragicomédia 'Silêncio' estréia no CCSP
Do Diário do Grande ABC
18/05/2000 | 16:03
Compartilhar notícia


Acomodados com os atores ao redor de uma espécie de mesa de reunioes, 40 espectadores vao poder participar bem de perto da açao de "Silêncio", peça de Peter Handke, que estréia nesta sexta no Centro Cultural Sao Paulo (CCSP).

Matteo Bonfitto e Yedda Chaves integram o espetáculo dirigido por Beth Lopes, responsável pela premiada montagem de "A Margem da Vida", com Regina Galdino. Mas "Silêncio" promete uma linha de estranhamento mais próxima da recente direçao de Beth da peça "O Jantar", monólogo no qual um marido falava aparentemente com as panelas enquanto preparava um jantar cujo prato principal, o público descobria no fim, era a esposa por ele assassinada.

O estranhamento, nesse caso, nada tem a ver com emoçoes fortes ou assassinatos, mas nasce da estrutura da peça de Handke. "Criado na década de 70, esse texto representou uma ruptura na dramaturgia tradicional", diz Beth. Nao há personagens definidos no texto. O autor escreve na forma de monólogo, mas indica, no texto, que deve ser representado por dois atores. "E ele avisa que divisao das falas entre os atores fica a cargo de cada diretor", diz Beth.

Metalinguagem - O teatro é o tema tratado pelo autor. "Na verdade, ele faz uma grande reflexao sobre a vida a partir da atividade teatral", afirma a diretora. Beth optou por ambientar a discussao numa mesa de reunioes ao redor da qual sentam atores e público. Espalhados pelo cenário, arquivos de metal e outros objetos que remetam ao ambiente de uma sala de reunioes, seja de uma empresa ou escola. Fiel à linguagem da metalinguagem que perpassa todo o texto, Beth optou por brincar com as diversas linguagens da representaçao.

"No início, eu trabalho com o excesso, com hiperatuaçao e sobreposiçao de gêneros", diz. Os atores se atritam, partem da discordância. Em vez de fazerem anotaçoes em bloquinhos de papel - como seria de se esperar no ambiente onde atuam -, escrevem nas paredes e no chao. "Aos poucos, as açoes vao dando lugar às palavras", explica a diretora. Os gestos vao ficando mais harmônicos e eles conseguem compreender-se dialogando. "Finalmente, eles chegam ao ponto de entenderem-se mesmo em silêncio".

Segundo a diretora, o autor brinca com as palavras. "Como em Beckett, ele trabalha com as várias significaçoes de uma palavra, com o duplo sentido, o que resulta numa obra aberta e poética". Segundo a diretora, embora a encenaçao tenha potencial para encantar o mais simples espectador, a peça deve atrair principalmente espectadores envolvidos de alguma forma com a atividade teatral. "A montagem é lúdica, mas nao é um texto fácil".




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;