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Nicolò Paganini era o astro do século XVIII
João Marcos Coelho
Especial para o Diário
20/10/2001 | 17:19
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Paganini começa onde a nossa razão termina – a frase de Meyerbeer cabe como uma luva para qualificar este que é, sem dúvida, o primeiro e maior virtuose da história da música ocidental. Esse instrumentista italiano era tão bem tecnicamente dotado que infundiu em platéias de todo o tipo – tanto as da elite quanto as populares – o mito de que tinha um pacto com o diabo. Nicolò Paganini (1782-1842) sofreu com a posteridade, mas a gravadora italiana Dynamic lhe dá tratamento diferenciado em uma série de CDs que se encarrega de trazer à luz a verdadeira dimensão do seu talento.

Violinista e compositor nascido em Gênova, na Itália, e morto em Nice, na França, Paganini criou vários concertos para violino e inúmeros caprichos. É conhecido como o insuperável mago do violino, dono de um virtuosismo jamais superado, tido como um artista legendário. Estendia a seu instrumento preferido dificuldades as mais espetaculares, que ele inventava para encontrar-lhes a melhor solução: notas duplas no agudo, modificação do acorde, execução na quarta corda etc.

Hoje, temos uma imagem bastante distorcida desse músico admirável. Paganini teria feito somente música superficial, pirotécnica, sem maiores qualidades. Nada mais distante, sobretudo atualmente, quando se tem a chance de ouvir sua produção em condições excepcionais.

A gravadora Dynamic acaba de lançar o primeiro de uma série de três CDs com os concertos para violino e orquestra com um diferencial importante: pela primeira vez, eles são gravados obedecendo-se estritamente ao manuscrito do compositor. Mais: na tonalidade certa, mi bemol maior. E com outro diferencial ainda mais importante: o violino afinado meio tom acima da orquestra. Além disso, o solista, Massimo Quarta, ex-aluno do notável Salvatore Accardo, toca o próprio violino de Paganini – um precioso e raro Guarneri del Gesù de 1742. Quarta, vencedor do concurso Paganini de 1991, rege e é o solista nos dois primeiros concertos, ao lado da Orquestra do Teatro Carlo Felice de Gênova.

Em ambos os casos, uma experiência duplamente extraordinária. De um lado, a virtuosidade de Massimo Quarta, esplêndida, acoplada ao empenho da competente Orquestra do Teatro Carlo Felice de Gênova. De outro, a própria música de Paganini emerge com uma força impressionante, em conseqüência dos diferenciais que representam a obediência ao próprio manuscrito (bem diferente das edições convencionais) e da afinação do solista meio tom acima. Mais do que dançante, mais do que virtuosística, ela flui com uma espontaneidade que torna a escuta uma formidável experiência.

Ofertas – Além deste CD, a Dynamic italiana promove uma verdadeira enxurrada de ótimos lançamentos que levam a assinatura de Paganini e agora já podem ser encontrados com facilidade em lojas como a Saraiva, Siciliano e Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, em São Paulo.

É verdade que o preço não é muito convidativo – anda pela casa dos R$ 50 o CD –, mas há ofertas interessantes. Assim, por exemplo, uma das criações mais originais de Paganini – os 15 quartetos de cordas com violão – estão disponíveis numa caixa com cinco CDs Dynamic (em oferta pelo preço de quatro). Como se sabe, ele não era diabólico só no violino, mas também na viola e no violão. Esses quartetos são encantadores e exploram com rara sabedoria o encontro de timbres das cordas percutidas com as cordas tocadas com arco. As gravações estão a cargo do extrovertido Quarteto Paganini, formado por Bruno Pignata (violino), Lorenzo Lugli (viola), Pino Briasco (violão) e Paola Mosca (violoncelo).

Centone – Mais característicos ainda – e originais para nossos modernos ouvidos – são os “centone” de sonatas para violino e violão. São 18 delicadas sonatas que brincam com as sonoridades num perfume típico do improviso. Luigi Alberto Bianchi toca um Stradivarius de 1716, e Maurizio Preda o violão. Eles são vendidos em três CDs separados ou então em uma caixa da Dynamic.

Se não encontrar estes CDs nas lojas, uma opção encomendar pela internet no e-mail atlantis_musica@ig.com.br ou pelo telefone 3898-3278.




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