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MST promoverá marchas contra descentralizaçao
Do Diário do Grande ABC
04/04/1999 | 15:38
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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), segundo um de seus coordenadores nacionais, Delwek Matheus, decidiu realizar marchas e intensificar as invasoes de terras para protestar contra o desemprego, a miséria e a política de descentralizaçao da reforma agrária, o "Novo Mundo Rural", que será anunciada oficialmente até o dia 15, pelo governo federal. Delwek disse que o MST já está "definindo o trajeto" de marchas, uma que sairá rumo ao centro de Sao Paulo, no próximo dia 16, e outra rumo a Brasília, a ser realizada no segundo semestre. Deliberaçao da Coordenaçao Nacional decidiu que o MST nao participará das discussoes em torno da nova linha de crédito da reforma agrária, segundo o coordenador nacional.

Delwek Matheus disse que a intençao do MST é realizar três marchas rumo ao centro de Sao Paulo. A primeira marcha sairá de Presidente Prudente, 550 quilômetros a noroeste da capital, rumo à Avenida Paulista. Segundo Delwek Matheus, esta marcha sairá de Presidente Prudente dia 16, com chegada dos sem-terra ao centro de Sao Paulo no dia 31, quando será realizada grande manifestaçao em defesa da reforma agrária e contra o desemprego, a miséria e o Novo Mundo Rural.

As outras duas marchas sairao de locais a serem definidos. Uma alternativa em estudo pelo MST é a realizaçao de apenas uma marcha, com um número maior de filiados do movimento.

A marcha rumo a Brasília deverá acontecer no segundo semestre, nos mesmos moldes da marcha realizada há dois anos, que acabou levando mais de 30 mil pessoas para o centro da capital do País. Na época, os sem-terra conquistaram apoio da sociedade civil e de vários movimentos sociais e representaçoes sindicais.

Delwek Matheus disse que o MST, a partir das marchas, pretende atrair o apoio de desempregados e pessoas pobres. O coordenador nacional afirmou ainda que faz parte da luta do MST intensificar as ocupaçoes de terras em todo o País, a exemplo do que vem acontecendo em Alagoas e Pernambuco, onde ocorreram invasoes em massa de fazendas.

O MST, a partir de reunioes dos coordenadores nacionais, deliberou que nao vai participar das discussoes em torno do Novo Mundo Rural nem da nova linha de financiamento da reforma agrária, que irá unir o Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária (Procera) e o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). "É definiçao de toda a organizaçao nao participar das discussoes sobre esta nova linha de crédito e isto já foi deliberado", disse.

Segundo Delwek, a Coordenaçao Nacional entende que "a reforma agrária nao vive com as mudanças nos juros". Pelas novas regras que o governo deverá anunciar, os assentados somente terao acesso a juros subsidiados no primeiro empréstimo oficial que fizerem. Depois disso, terao o mesmo tratamento que os pequenos agricultores, pagando juros de 5,75% ao ano, mas sem desconto sobre o dinheiro emprestado.

"Esta nova linha de crédito acaba com um dos poucos subsídios que a agricultura ainda tinha neste País", disse. Atualmente, o Procera empresta dinheiro aos assentados com desconto de 50% sobre o valor do financiamento, o chamado rebate.

Delwek Matheus afirmou que o Ministério de Política Fundiária, ao propor a descentralizaçao da reforma agrária, está abrindo mao da responsabilidade da Uniao em desapropriar terras de latifundiários e fazer novos assentamentos de maneira mais rápida. "A Uniao está se retirando da responsabilidade de realizar a infra-estrutura social, passando a reforma agrária para Estados e municípios, mas sem repassar dinheiro", disse. Delwek afirmou que o governo federal só resolveu chamar os movimentos sociais depois que já tinha formalizado toda a nova política de reforma agrária de forma "autoritária". Delwek afirmou que o MST poderá participar de futuras reunioes com o governo federal, mas nao para falar sobre o Novo Mundo Rural, para nao dar a impressao, disse ele, que o movimento "se submete à propaganda do governo federal".




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