Setecidades Titulo
Tragédia pode espalhar medo nas escolas
Bruna Gonçalves
Camila Brunelli
09/04/2011 | 07:52
Compartilhar notícia


A tragédia que se abateu sobre as famílias cariocas e abalou todo o País ainda deve ter consequências além das físicas, principalmente às crianças que frequentam unidades de ensino. Especialistas falam em aumento de bullying contra alunos com perfil parecido ao do atirador, associação da escola a ambientes de medo e piora do desempenho escolar.

O coordenador de Psicologia da Faculdade Alfa e mestre em comportamento agressivo a partir da infância, professor Timoteo Madaleno Vieira, é autor de artigo que aborda a expansão dos massacres nas escolas ao redor do mundo, focando fatores sociais ligados ao desenvolvimento humano.

Para o especialista, o perigo é alimentar o imaginário de outros estudantes, uma vez que deverão tentar identificar um novo potencial agressor - o que pode gerar mais exclusão. "Isso é perigoso. Não podemos procurar por esses traços de personalidade e generalizar", alertou. "É claro que uma pessoa como essa (o atirador do Rio) deve ser mais vulnerável do que outras para determinadas pressões, mas nós não conhecemos a história desse rapaz. Ele deve ter desenvolvido interações que contribuíram para que ele chegasse a esse ponto."

O psicólogo também destacou que é importante esclarecer que é uma minoria dos portadores de transtornos mentais que é agressiva.

"O que sabemos é que ele cometeu esse crime na escola, portanto alguma coisa aconteceu de errado com ele na escola, nas interações que ele desenvolveu no ambiente."

Para Vieira, o trauma deixado deve ter implicações no aproveitamento escolar das crianças que ainda estiverem amedrontadas. Primeiro, porque a capacidade cognitiva de uma pessoa nervosa e com medo é bem menor. Segundo, porque o jovem passa a associar aquele lugar à tragédia e ao medo que está sentindo.

A estudante Thais Watanabe, 17 anos, acredita que medidas de prevenção, como detectores de metal nas escolas, possam melhorar a segurança. "A princípio, acredito que as pessoas ficarão chocadas, mas os resultados deverão compensar."

Barbara Riccomim, 16, estudou meio ano nos Estados Unidos e contou que passou por treinamento específico para situações de perigo instantâneo. "Tocava um sinal, as portas das salas se trancavam e as luzes apagavam. Todos nós deveríamos ficar em silêncio e num canto da sala escura, até sermos liberados", contou. "Acho que aqui deveria ter esse tipo de treinamento também."

Vieira acha que o temor é característico do momento. "Ainda está muito recente. Todo mundo está chocado, mas é importante dizer que esse não é um evento que acontece a toda hora."

 

Estudantes não se sentem mais inseguros

Embora os estudantes da região defendam o aumento da segurança na entrada e saída das escolas, a maioria dos jovens ouvidos pelo Diário não se sente menos segura por conta do que houve no Rio de Janeiro . "Normal, já houve episódios como esse nos Estados Unidos", disse Giulian Lopes, 16 anos, estudante da Escola Municipal de Ensino Prof.ª Alcina Dantas Feijão, em São Caetano.

A secretária de Educação de São Caetano, Magali Selva Pinto, disse que não há projetos para intensificar a segurança na entrada e saída das escolas. Ontem pela manhã, a secretária esteve em reunião com representantes das unidades. "Estamos atendendo os pais que, naturalmente, estão preocupados, e tentando tranquilizá-los", disse a gestora, que considera as escolas do município bem protegidas.

"É uma coisa que não dá para prever", concordou Murillo Cobucci, 15, aluno do Colégio Metodista, em São Bernardo, que é contra colocar detector de metais na entrada da escola. "As pessoas começam a ficar na paranoia, achando que não é um local seguro."

A coordenadora pedagógica Maria Aparecida Baviro, da Escola Estadual Casimiro Poffo, em Ribeirão Pires, afirma que o caso despertou nos estudantes receio de que algo pode acontecer no local onde estudam. "Sabemos que estamos sujeitos a isso."

 

Mães de alunos ainda estão abaladas

Todas as mães de alunos entrevistadas pelo Diário se emocionaram ao falar do ataque no Rio. "Não tem como não se emocionar, vendo uma coisa daquela", disse a dona de casa Marilena Araújo, 51 anos, com lágrimas nos olhos. "Hoje (ontem) de manhã, quando vim deixar meu filho, não senti a mesma tranquilidade dos outros dias."

Para a educadora Marilei Fernandes, 46, esse não deverá ser um caso isolado. "A repercussão acaba fomentando outras pessoas a fazer o mesmo", disse a mãe de Alinne, que fez 16 anos no dia da tragédia. "Ela tinha me dito que o dia dela estava perfeito, até ver aquela notícia."

"Hoje convivemos com tanta violência que, ao sair de casa, você já está sujeita, seja na rua, em locais fechados. Mas no caso do Rio, vemos que a violência não foi apenas o fator predominante. O rapaz já tinha um histórico de uma família desestruturada, além de parecer perturbado. Também precisa ver como era o relacionamento dele na escola, se não sofreu preconceito. Tudo isso interfere", disse a bancária de Sano André Claudia Duarte, 42.

O filho dela, Daniel Duarte, 11, ficou nervoso com as imagens que viu. "Estava esperando para ver os desenhos animados na TV quando deu a notícia. Na escola os colegas comentaram sobre o assunto", disse o garoto, que estuda em um colégio particular.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;