Cultura & Lazer Titulo
Jeito paulistano de viver e de sofrer
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
31/03/2004 | 20:29
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Uma lenda – lorota ou verdade? – é colocada em questão, propositalmente, no Dia da Mentira. Nesta quinta estréia no Teatro dos Arcos, em São Paulo, a comédia O Monstro de Pirataraca, de Fábio Torres. Erné Vaz Fregni dirige Noemi Gerbelli, Alfredo Rollo, Alice Kopp e Márcio Araújo.

O tal monstro, uma cobra de 15m de comprimento e 3m de diâmetro que habitaria o Rio Tietê, seria fruto das histórias do explorador alemão Ulrico Schmidel (1510?-1579?), que embrenhou-se na América do Sul em 1536 a partir do Rio da Prata e permaneceu no continente até 1552. Schmidel publicou seu livro, que contém relatos de cidades, ilhas e perigos extraordinários misturados a descrições verídicas de rotas, em 1567, na Alemanha.

Na peça, personagens se encontram no parapeito do 13º andar de um prédio paulistano. São três apartamentos. Num deles moram Rodrigo (Araújo), um migrante nordestino e sua mulher, Eliane (Alice), uma tradutora. No do meio vive a professora de história, aposentada, Elvira (Noemi). No terceiro surge Tiquinho (Rollo), entregador de pizza e ladrão nas horas vagas.

Elvira tem uma desilusão amorosa e vai para o parapeito tentar o suicídio, mas vacila diante do abismo. Rodrigo, que defende uma tese sobre o monstro mas não encontra trabalho e é sustentado pela mulher, vê a vizinha num telejornal sensacionalista e vai ao seu encontro enquanto Eliane permanece alheia. Tiquinho também se intromete na história.

“A solitária Elvira revela preconceito contra o migrante e compara o ladrão a baratas. A tese de Rodrigo faz alusão ao aspecto monstruoso da cidade grande”, afirma a diretora. “Essa metáfora é frisada no texto, que contém diálogos ágeis. A peça mostra com humor o lado paulistano do sofrimento, da angústia”, diz Noemi, de São Bernardo.

Os três apartamentos são retratados de maneira leve, com poucos objetos e sem paredes. A iluminação dá tratamentos distintos para cada ambiente. “O de Elvira tem tons amarelados; o do casal, avermelhados; o do ladrão, azulados”, afirma a diretora. A postura física dos atores indica a existência do parapeito, que não aparece em cena. “É um trabalho de corpo difícil”, diz Erné.

O Monstro de Pirataraca – Comédia. De Fábio Torres. Direção de Erné Vaz Fregni. Com Noemi Gerbelli, Alfredo Rollo, Alice Kopp e Márcio Araújo. Quintas a sábados, às 21h, e domingos, às 20h. No Teatro dos Arcos – r. Jandaia, 218, São Paulo. Tel.: 3101-7802. Ingr.: R$ 10. Até 23 de maio.




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