Ouvidor de Santo André, José Luiz Ribas Júnior ofendeu o Diário por não concordar com o teor de reportagem veiculada no domingo que mostrou o pífio papel social das ouvidorias da região. Também desmereceu a Carta do Grande ABC, documento publicado no dia 11 e que elenca série de preceitos jornalísticos que norteia a cobertura do jornal.

Em ofício com quatro páginas, Ribas afirmou que jornalistas autores da matéria publicada no domingo são antiéticos e não têm moral para exercer a profissão. Classificou também como “falácias” as críticas à atuação da entidade andreense.

“Nota-se um certo afastamento da regularidade que a própria profissão, através de dispositivos legais, éticos e morais exige”, escreveu. “Mas, à revelia do que se espera, preferiram dar sustentação a falácias, o que, inclusive, contrapõe o proposto na tal ‘Carta do Grande ABC’, publicada pelo mesmo veículo.”

Ribas alegou não ter sido procurado pela equipe de reportagem. Entretanto, ele foi contatado por três vezes por telefone celular na sexta-feira, antes da veiculação da matéria jornalística. A Prefeitura de Santo André, a qual a ouvidoria é subordinada, foi acionada por e-mail na quinta-feira, às 18h10, com questionamentos sobre o funcionamento da instituição. Em nenhuma das quatro ocasiões houve retorno.

Curiosamente, ontem, ao reivindicar direito de resposta, Ribas utilizou e-mail particular, dizendo que há “problemas técnicos” com o endereço eletrônico oficial da ouvidoria. É uma pequena amostra das muitas falhas na estrutura e gestão no órgão municipal.

Também ontem, a equipe do Diário voltou a procurar Ribas em seu gabinete e pelo e-mail da instituição. Às 16h58, secretária particular do ouvidor alegou que ele estava em evento externo e que iria retornar aos contatos. Não retornou. Já o e-mail institucional não foi respondido.

Outra contestação do ouvidor foi o fato de os jornalistas não terem consultado planilhas públicas da ouvidoria. Porém, a reportagem utilizou informações do site da entidade, que revela o gasto de R$ 69 mil em locação de imóvel, execução de programas, contratação de serviços jurídicos e festa de comemoração dos 15 anos – sem inclusão de recursos com pessoal.

PALAVRA DO DIRETOR

Com o tom agressivo na carta enviada à Redação, o ouvidor de Santo André, José Luiz Ribas Júnior, não ofendeu apenas os jornalistas responsáveis pela reportagem sobre a pífia atuação das ouvidorias. Ofendeu uma instituição de 57 anos, que não irá retroceder um milímetro na luta por um Grande ABC melhor. E ao chamar um documento de ‘tal Carta do Grande ABC’, menospreza conjunto de princípios que nortearão as ações desta instituição. O ouvidor respondeu com pedras a reportagem séria e contundente, que teve o principal objetivo de trazer à luz como as ouvidorias vêm sendo tratadas pelos seus comandantes e pelo poder público, ao qual estão subordinadas. Ribas mostrou, com esta atitude, que não está preparado para exercer a principal função de um ouvidor municipal, que é ouvir. E corrigir as falhas. Ele deixou claro que não está disposto a ouvir críticas. E entende que não há nada a corrigir na atuação da ouvidoria andreense. Lamentável. O jornal seguirá cobrando quem tem obrigações com a sociedade do Grande ABC, principalmente pelo fato de que, ao fazer mea-culpa de sua própria falta de atuação mais firme em algum momento da história, se legitima para ser um dos principais porta-vozes da região. Doa a quem doer, como está escrito na Carta do Grande ABC.

Sérgio Vieira é diretor de Redação do Diário.