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Câmera diminui violência nas escolas
André Vieira
Do Diário do Grande ABC
22/05/2011 | 07:23
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A utilização da tecnologia como forma preventiva de segurança nas escolas está longe da realidade do Grande ABC. Nenhuma prefeitura tem hoje plano integrado de monitoramento por câmeras nas unidades de ensino, embora adotem outros métodos para evitar violência e vandalismo.

Enquanto a região observa em câmera lenta, Votorantim, no Interior, dá exemplo de como é possível modernizar a vigilância.

No município - a 100 quilômetros da Capital -, desde o começo do ano todas as 45 escolas municipais (são só dez a menos do que Diadema) são monitoradas 24 horas pelos olhos eletrônicos.

A ideia surgiu em 2009, em conferência municipal, e desde então passou a ser discutida com a sociedade.

A população é de 108 mil habitantes, pouco mais do que Ribeirão Pires. O orçamento de Votorantim em 2011 é de R$ 162 milhões - somente R$ 15 milhões a menos do que terá Ribeirão Pires nos cofres.

Funcionamento

Ao todo a cidade do Interior tem cerca de 300 câmeras instaladas nas áreas comuns das escolas. Os aparelhos também estão do lado de fora, nos portões e nas ruas vizinhas.

As imagens são acompanhadas por Central de Monitoramento. Ao sinal de algo suspeito, uma das equipes de ronda se desloca para o local em até cinco minutos. A polícia também é comunicada.

A intenção do serviço, explicou o prefeito de Votorantim, Carlos Augusto Pivetta (PT), que recebeu a equipe do Diário em seu gabinete, é coibir a violência e evitar a destruição do patrimônio público.

Logo no primeiro dia, um traficante tentou mexer na posição das câmeras e foi identificado. Usuários de drogas também foram flagrados. O serviço é terceirizado e custa R$ 170 mil por mês - R$ 2 milhões por ano.

A instalação e manutenção dos equipamentos e a disposição das equipes - são quatro motos e dois carros - são responsabilidade da empresa.

Pelos cálculos da administração, se cada escola tivesse vigias de plantão o gasto seria de R$ 250 mil.

Apesar de incipiente, o prefeito disse que a experiência tem sido positiva, sobretudo no combate ao vandalismo e o tráfico de drogas.

"Roubo de merenda, furtos e arrombamentos eram rotina. Isso praticamente acabou", contou Pivetta.

Para não interferir na ação de professores e diretores, não há câmeras dentro das salas de aula. Segundo o prefeito, mesmo que não tenham sido planejadas para tal, o sistema tem resolvido outros problemas. "Como da diretora que não parava dentro da escola, da funcionária que saía para a manicure e dos ambulantes que entravam para vender produtos", revelou Pivetta.

Imagens podem servir para debates em sala de aula

A utilização da câmera na escola não é o antídoto que vai exterminar a violência, concordam os especialistas, mas pode funcionar como importante ferramenta para coibir crimes e ainda oferece material para debates em sala de aula.

Diretora do Instituto Sou da Paz, Melina Risso afirmou que a tecnologia pode funcionar como aliada da segurança pública. "Mas nem por isso pode ser considerada como única saída, ou a medida salvadora."

Para Melina, ações eficazes precisam se integrar em contextos mais amplos. Especificamente no ambiente escolar, a especialista citou a criação de grupos de mediação de conflito como outra alternativa para resoluções de problemas.

Levar para da sala da aula imagens de comportamentos inadequados e estimular a reflexão dos alunos, em vez de apenas flagrar e punir vândalos e agressores, é outra vantagem da câmera na opinião da diretora da faculdade de Educação da PUC (Pontifícia Universidade Católica), Neide Noffs.

Cidade entrega às mães cheque para comprar uniforme

Votorantim garante uniforme escolar para todos os cerca de 12 mil alunos da rede pública, mas não precisa se ocupar em medir o tamanho das crianças, lançar licitação, negociar prazos com empresas ou preparar a logística para receber, armazenar e distribuir os kits.

Desde de 2005, a prefeitura entrega cheque nominal às mães dos estudantes, que escolhem um dos estabelecimentos da rede credenciada pela administração e compram as peças. Depois, só apresentam nota fiscal à escola.

O cheque para compra do uniforme de inverno, no valor de R$ 50, será distribuído no dia 27. No começo do ano, as mães recebem para a aquisição do uniforme de verão.

Como os cheques são descontados no comércio local, a administração justifica que a medida é uma forma de também aquecer a economia. Cada uma das etapas do programa movimenta mais de R$ 500 mil em negócios e incentiva a concorrência entre as lojas, que fazem promoções para atrair as mães.

São Bernardo e São Caetano planejam vigilância eletrônica

A ideia de monitorar escolas com vigilância eletrônica divide prefeituras entre as que planejam o serviço, como São Bernardo e São Caetano, e as que entendem não ser necessário, como Diadema e Ribeirão Pires.

São Bernardo quer investir R$ 200 milhões e espalhar duas centenas de equipamentos pela cidade, mas só tem oito até agora - sete estão perto de escolas no Alvarenga, que já flagraram crimes ambientais e roubos.

São Caetano instalou recentemente 60 câmeras, algumas perto de escolas. A administração estuda criar monitoramento específico em toda rede de ensino. Uma escola na cidade tem o serviço, mas fez por conta própria, com recursos da Associação de Pais e Mestres.

Diadema tem contrato com empresa que faz vigilância com dois homens em cada uma das 55 unidades de ensino, cobrindo as necessidades, segundo a Prefeitura.

Em Ribeirão Pires, são 33 escolas, que recebem ronda escolar. Algumas têm vigias. A Prefeitura aposta em ações pedagógicas para diminuir violência e vandalismo.

Mauá e Rio Grande da Serra não responderam. Santo André, que também não forneceu informações, trocou em 2005 a vigilância privada por sensores e câmeras, mas o projeto não prosperou.

Em Votorantim, os pais de alunos citaram o aumento da sensação de segurança como maior vantagem do serviço.

Praia Grande é referência em monitoramento

Antes de Votorantim pensar em instalar câmeras de segurança, uma cidade ainda mais perto do Grande ABC e da Capital já tinha um plano estruturado e reconhecido de monitoramento.

Em Praia Grande, no Litoral Sul, o projeto que começou em 2002 conta hoje com 1.530 equipamentos.

Os aparelhos estão em prédios públicos, na orla da praia, nas vias mais movimentadas, em viadutos e, claro, nas escolas.

Segundo o inspetor da GCM (Guarda Civil Municipal) de Praia Grande, Alexandre Nascimento Silva, a cidade tem cerca 600 olhos eletrônicos espalhados pelas mais de 60 unidades de ensino - média de dez equipamentos para cada prédio.

Alguns dos primeiros aparelhos adquiridos pelo município, há nove anos, foram colocados nas escolas.

Toda unidade de ensino aberta pela prefeitura desde então já começa a funcionar com o sistema.

As câmeras estão, geralmente, na parte externa das escolas, mas também em corredores internos por onde circulam alunos, nas salas das secretarias e também nas cozinhas", explicou o inspetor.

Os equipamentos de vigilância são complementados por sistema de alarme - sobretudo, em portas e janelas -, que dispara na Central de Monitoramento quando algo suspeito é percebido.

A central é operada por guardas-civis, que são responsáveis pela comunicação com a GCM e as polícias Militar e Civil.

"A função é preventiva. Mais do que outros problemas, após a adoção do serviço conseguimos fazer com que os atos de vandalismo fossem reduzidos a quase zero", garantiu Silva.

O inspetor da GCM contou que é comum diretores de escolas solicitarem ainda mais câmeras do que as que já estão disponíveis.

Silva entende que o modelo de Praia Grande pode servir de exemplo e já é visitado por outros municípios.

Qualquer cidade que queira investir consegue fazer igual. O serviço ajuda não só a prevenir os crimes, mas também na investigação. Mas é lógico que não resolve todos os problemas.




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