A funkeira Valeska Popozuda, cantora de Beijinho no Ombro, que tem frases como ‘o meu sensor de periguete explodiu’ e ‘late mais alto que daqui eu não te escuto’, participou de evento promovido pela Secretaria de Políticas para Mulheres de Santo André na noite de ontem e causou polêmica.

Com o título de Descobrimos o que Toda Mulher Quer: Ser Ouvida, a iniciativa tinha como proposta alertar sobre problemas cardiovasculares e falar sobre igualdade de gêneros. Mas a escolha da funkeira era o assunto principal entre os que assistiam à palestra. A diretora de uma escola da cidade, que preferiu não se identificar, não concordou com a presença da cantora. “Não entendi a relação dela com o evento, porque acredito que a mensagem que a música passa destoa daquilo que é pregado pela secretaria.”

Já a assistente social Carolina Moreno, 36, disse que a vinda de Valeska foi válida. “A história de vida que ela contou gera mais valor que o conteúdo levado para a mídia.” A funkeira falou sobre a origem de família pobre e as dificuldades enfrentadas por ser mãe jovem e ter de trabalhar.

A secretária de Políticas para Mulheres do município, Silmara Conchão, afirmou que a cantora colabora para chamar a atenção sobre o feminismo. “Ela coloca a mulher como ‘diva’, estimula que se cuide e tenha a coragem e o direito de dizer ‘sim’ ou ‘não’. Esses valores têm a ver com a nossa campanha e a mensagem dela chega a todas as classes sociais. Se ela quiser ficar nua aqui, pode, e os homens e a sociedade devem respeitar o direito dela.” A Pasta arcou com as passagens de avião para trazer a artista do Rio de Janeiro. O valor gasto não foi informado.

A cantora carioca começou a carreira no grupo de funk Gaiola das Popozudas. Um de seus sucessos foi a música Agora sou solteira, que tem trechos como “Sou cachorrona mesmo/ E late que eu vou passar/Agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar”. Silmara disse que o modo de Valeska cantar é mais uma forma de passar a mensagem feminista, embora não seja a ideal. “As feministas radicais podem não entender como alguém defende a causa com a exposição do corpo, mas acho que ela (Valeska) vem para quebrar o preconceito e mostrar que quem faz exposição também pode se afirmar. Gosto de dançar, o corpo é meu e isso envolve só o meu consentimento.”

Valeska disse que seu trabalho ajuda a superar o preconceito. “A mulher evita falar sobre sexo por pressão da sociedade e hipocrisia. A minha música vem para mudar isso. Não quero só que os homens me chamem de ‘gostosa’. Quero as mulheres gritando por liberdade e questionando o porquê de não falar sobre a sexualidade e vivê-la sem dar satisfação.”

Valeska Popozuda por quê?

A escolha da funkeira Valeska Popozuda para falar sobre igualdade de gênero e políticas públicas para mulheres em Santo André é, no mínimo, estranha. Com tantos nomes envolvidos na luta feminista e pelo fim dos rótulos que pesam sobre a mulher na sociedade atual, chamar alguém que vive e cultua o corpo para ‘dar o exemplo’ pode ser considerado por algumas militantes como piada de mau gosto.

Não desmereço a história de vida de Valeska Popozuda, que disse ter vindo de família pobre e, como muitas mulheres, precisou trabalhar para sustentar o filho que teve ainda muito jovem. Mas seu maior sucesso, Beijinho no Ombro, incentiva uma mulher a se voltar contra a outra, a tal ‘piriguete’ que, em seu discurso de ontem, Valeska disse ter total liberdade de existir e se portar como tal. Isso apenas para citar um exemplo. Um tanto quanto contraditório, não? (Camila Galvez - Editora de Setecidades)