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Voluntariado move a Santa Casa de São Bernardo
Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
03/04/2005 | 19:50
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Filantrópicos por excelência. Mas também com muita persistência. É assim que se autodefinem os 120 voluntários da área médica que trabalham na Santa Casa de Misericórdia de São Bernardo. Em teoria, a unidade existe há 37 anos num terreno com 51 mil m² da avenida Robert Kennedy, no bairro Assunção, na época uma doação feita pelo então prefeito Aldino Pinotti. Mas na prática a Santa Casa só passou a prestar atendimento efetivo à população carente da cidade há pouco mais de quatro anos. Parou de funcionar no segundo semestre do ano passado por motivo de reformas, e retomou as atividades recentemente, no final de janeiro.

Tudo isso sem receber subsídios dos governos municipal, estadual ou federal. A unidade só sobreviveu por conta da ação do voluntariado. A quase totalidade de colaboradores é formada por médicos, dentistas, psicólogos e fisioterapeutas, que reservam pelo menos um período de um dia da semana para trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de São Bernardo.

Atualmente, o local oferece atendimento ambulatorial em 20 especialidades médicas. Antes do período de reformas ocorrido no ano passado, sete mil pessoas eram atendidas em média por mês no local. Atualmente, como as atividades ainda estão sendo retomadas, esse número baixou para cerca de 500 atendimentos.

Aos 24 anos, a fisioterapeuta Ivanira Lins Tamagnini, é uma das voluntárias da Santa Casa. "Tornei-me voluntária por influência da minha mãe, que é enfermeira. Quando pequena eu vinha na Santa Casa com ela, e nunca me afastei. Sem dizer que a experiência que tive aqui durante a faculdade foi fundamental para minha formação", diz Ivanir, que estudou na Uniban (Universidade Bandeirante) de São Bernardo.

Durante a entrevista que concedeu ao Diário, a fisioterapeuta atendia a copeira Lúcia dos Santos Ferreira, 40 anos, afastada do serviço porque adquiriu doenças ocupacionais. Ela sofre de fibromialgia e reumatismo, e apesar de receber auxílio-doença do INSS, jamais conseguiu fazer as sessões de fisioterapia oferecidas pelo instituto de previdência do governo para amenizar as dores que sente. "A fila de espera do INSS é interminável. Por isso procurei a Santa Casa. O atendimento me passa confiança e serve de incentivo para a gente levar adiante o tratamento."

O caso de Lúcia é acompanhado por um reumatologista do Centro de Especialidades da Prefeitura de São Bernardo, que no entanto não dispõe de fisioterapeutas. Na Santa Casa, a fila de espera para fisioterapia é de cerca de 400 pacientes. Trata-se de uma das especialidades mais procuradas na unidade.

"Situações como a da Lúcia é uma das mais comuns por aqui. A carência nessa área é muito grande, e só tende a prejudicar ainda mais o problema que o paciente apresenta", diz Kely de Lima Cippiciani, 28 anos, também fisioterapeuta voluntária.

Dedicação – Um dos voluntários mais antigos é o cirurgião e gastroenterologista Conrado Zambrini, que está na unidade há 17 anos. Desde 1997, após um longo período em que o atendimento ficou desativado, o médico ocupa o cargo de provedor da Santa Casa. Ele encabeça a luta pelo credenciamento da unidade ao SUS (Sistema Único de Saúde), o que na prática significa o repasse inédito de subvenções para a contratação de outros profissionais e ampliação dos serviços.

"As instituições filantrópicas são parceiras número um do atendimento público à saúde. Isso é constitucional", afirma Zambrini. "As Santas Casas absorvem hoje 68% da demanda não atendida pela rede pública em todo o Brasil. Há unidades que se tornaram expoentes de referência na medicina". Como exemplos o médico cita as Santas Casas de São Paulo, Santos, Sobral (RJ) e Santa Maria (RS). "Outras ainda lutam para conquistar espaço. A de São Bernardo é uma delas."

Para ser credenciada ao SUS, a Santa Casa depende do aval da Prefeitura, já que São Bernardo tem plena gestão no atendimento à saúde. O médico Conrado Zambrini conta que nos últimos anos tentou inúmeras negociações com a Secretaria de Saúde do município. Todas foram descartadas pela Prefeitura, sob a alegação de que as especialidades oferecidas pela Santa Casa já existem no município, e que por si só, atendem bem a demanda da cidade.

"Todo mundo sabe que a realidade é bem diferente do que afirma a Prefeitura. As filas de espera sempre existiram e, enquanto a Secretaria de Saúde não reconhecer isso, o credenciamento da Santa Casa ao SUS será dificultado", conclui o médico.

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Secretaria de Saúde informou que a Santa Casa não dispõe de estrutura para atendendimento na área de Neurologia e para realização de exames de eletroneuromiografia e eletroencefalograma, conforme havia requisitado em função da demanda do município nessa especialidade. Por outro lado, a mesma nota salienta que a Prefeitura dispensa o convênio oferecido nas áreas de otorrinolaringologia e nefrologia, por já efetuar atendimentos em ambas as especialidades.




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