A denúncia que chega é grave. Um adolescente está sendo aliciado por criminosos e começa a se com o tráfico de drogas da cidade. Sabendo do caso, o Conselho Tutelar precisa verificar a situação de risco a que está submetido o jovem. Nem sempre há veículo ou motorista disponível para fazer a viagem. Vencida a dificuldade de transporte, o adolescente é levado para um prédio sem as condições necessárias para recebê-lo. Mas ele ainda não está protegido, nem o grupo que o acolheu, já que o imóvel não tem qualquer profissional na vigilância. O que há de mais imediato e paliativo é feito: as portas são trancadas.

A história aconteceu com o Conselho Tutelar de Rio Grande da Serra, mas pode se repetir no Grande ABC, pois nem todos os conselheiros têm infra-estrutura mínima para garantir o cumprimento do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). As mortes dos irmãos João Vitor e Igor Giovanni, de 13 e 12 anos, esquartejados e queimados em Ribeirão Pires; o assassinato de Eloa Cristina da Silva, 15, depois de ficar refém do ex-namorado em Santo André, e o homicídio cometido por uma garota de 13 anos contra sua madrasta em Paranapiacaba colocaram em evidência a atuação dos conselhos.

O Diário esteve nas sedes dos conselhos da região e constatou a falta de estrutura na maioria. Mauá tem três conselhos com 15 pessoas atuando no mesmo prédio. Uma das sedes de Santo André sequer tem identificação na fachada. Diadema tem unidades apertadas e mal instaladas e São Caetano exige formação universitária, mas não tem salas individuais.

Além de Rio Grande da Serra, que sofreu recentemente com a falta de estrutura, a situação precária em São Bernardo é emblemática. A sede dos dois conselhos, com cinco membros cada, funciona no mesmo imóvel na Avenida Armando Ítalo Setti, próximo ao Paço Municipal, na região central.

O espaço é diminuto para dez profissionais trabalharem. Não há salas nem computadores individuais. Os computadores não são ligados em rede e não há conexão com a internet. Nos corredores e mesmo dentro dos espaços onde o atendimento é prestado, pedaços do teto estão soltos ou prestes a se desprender. Em laudo, o Corpo de Bombeiros exigiu manutenção. Sem informar prazo, a Prefeitura afirmou que o conselho terá nova sede.