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Acidente trava Trecho Sul do Rodoanel apenas 20 dias após sua inauguração
Evandro Enoshita e Tiago Dantas
21/04/2010 | 08:09
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O Rodoanel não passou no seu primeiro grande teste. A colisão entre um caminhão e uma carreta provocou 12 quilômetros de congestionamento, ontem de manhã, na pista sentido Régis Bittencourt do Trecho Sul, na altura de São Bernardo. Passadas três semanas da inauguração da obra, falta sinalização vertical e proteção nas laterais da via. Telefones de emergência ainda não foram instalados e painéis eletrônicos não estão funcionando.

Conhecidos como PMV (Painéis de Mensagens Variáveis), os equipamentos poderiam informar os motoristas sobre o acidente e indicar rotas alternativas. "As pessoas leriam a mensagem do PMV e poderiam evitar o local do acidente, o que iria diminuir o tamanho do engarrafamento", opina o professor de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana) Creso de Franco Peixoto. A Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) prevê que os letreiros entrem em funcionamento a partir do mês que vem.

O secretário de estadual dos Transportes, Mauro Arce, não respondeu aos questionamentos do Diário sobre os transtornos sofridos pelos motoristas.

O acidente aconteceu às 6h30. Uma carreta que puxava um contêiner com material plástico tombou na altura do km 59,5 da pista sentido Régis Bittencourt do Rodoanel após bater na traseira de um caminhão carregado com tonéis de produtos químicos. A via teve algumas de suas faixas interditadas até as 16h, segundo a Polícia Rodoviária Estadual, que contabilizou 12 quilômetros de lentidão por volta das 11h. Os motoristas dos dois veículos sofreram ferimentos leves.

Sem saber das interdições, muitos motoristas ficaram parados no engarrafamento. O percurso da saída da ponte de 1.755 metros sobre a Represa Billings, que geralmente é feito em sete minutos, levava uma hora e meia. Um dos prejudicados pelo congestionamento foi o caminhoneiro Edgar Nogales, 31 anos, que seguia de São Bernardo para Taboão da Serra.

Uma forma de minimizar o impacto do tombamento da carreta seria permitir a passagem dos veículos por uma faixa reversível na pista sentido Imigrantes, segundo o mestre em engenharia de transportes pela USP, Sérgio Ejzemberg. "Deveria haver um sistema de transposição pelo canteiro central", afirma. O professor Peixoto concorda. "Nesse trecho há poucos pontos que permitem desvios. Poderia ser estudada essa solução."

Motoristas perdem compromissos

Presos no congestionamento do Trecho Sul do Rodoanel, no fim da manhã de ontem, motoristas olhavam impacientes para o relógio, enquanto tentavam, em vão, utilizar os celulares para remarcar compromissos profissionais.

O inspetor de solda José Silva de Souza, 36 anos, seguia de Mauá a Paulínia, no Interior. Ele iria realizar um serviço no pólo petroquímico daquela cidade às 12h30 de ontem. Devido ao congestionamento no Rodoanel, ele chegou ao destino com uma hora e 40 minutos de atraso. "Tive que remarcar outro serviço que eu teria para a tarde de hoje (ontem), em São José dos Campos. A idéia do Rodoanel é excelente. Mas a obra foi entregue às pressas. As condições ainda são muito precárias. Não ví sinalização nenhuma avisando sobre o congestionamento", disse Souza.

Outro motorista que olhava desolado para o congestionamento era o condutor de carro funerário Felipe Franco, 32. Ele seguia de São Bernardo em direção a Itapecerica da Serra, onde iria buscar um corpo. Faltavam menos de dez minutos para o meio-dia quando ele falou com o Diário

"Peguei o Rodoanel porque achei que iria ser mais rápido, mas me arrependi e não tenho como voltar atrás. Tinha que buscar meu passageiro ao meio-dia, mas já nem sei que horas vou chegar. Vou precisar me explicar com os familiares do morto", comentou Franco.

Com relação à falta de sinalização vertical, guar-rails e de marcação de quilômetros, a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.) informou que "a rodovia está sinalizada em toda sua extensão, inclusive com placas de regulamentação de limite da velocidade e advertência para condições de chuva ou neblina." A Dersa disse que está colocando defensas laterais onde há necessidade.

Especialista diz que fechar ponte é sensato

A ponte de 1.755 metros do Trecho Sul do Rodoanel sobre a represa Billings, em São Bernardo, ficará fechada para o tráfego toda vez que a velocidade dos ventos for superior a 50 km/h, segundo a Dersa, responsável pela via.

Quando a ventania for mais rápida que 26 km/h haverá operação comboio ou redução de velocidade de trânsito. "É uma atitude sensata. O desconforto para o motorista pode ser grande com ventos fortes", diz o professor de Engenharia Civil da Fei, Creso de Franco Peixoto.

A Dersa informou que "instalou uma estação meteorológica próxima à ponte, equipada para fazer previsão do tempo, temperatura, umidade do ar e monitorar a velocidade dos ventos".

Veículo capotou após atropelar cão que atravessou pista

A família do estudante Leandro Belarmino Pereira, 23 anos, afirma que o excesso de animais que cruzam a pista do Trecho Sul do Rodoanel levou o jovem a ficar seis dias internado no hospital.

Leandro perdeu o controle do carro que dirigia ao atropelar um cachorro no km 38 da pista sentido Régis Bittencourt, por volta das 18h30 do dia 14.

O veículo foi para a lateral da rodovia e caiu numa ribanceira, depois que o pneu furou em um guard-rail que estava no chão. O carro capotou várias vezes. A vítima saiu ontem do hospital, sem nenhuma fratura grave.

"Estive lá domingo e vi vários cachorros atropelados e um cavalo no meio da pista", afirma o comerciante André Luiz Devecchi, 45, padrasto de Leandro. A Dersa informou que recolhe os animais encontrados na via.

Rodovia tem ‘ponto cego' para celulares

A falta de telefones de emergência no Trecho Sul do Rodoanel é agravada pelo fato de que não há sinal para celular em alguns pontos do trajeto da rodovia inaugurada há três semanas.

Para o caminhoneiro Edgar Nogales, 31 anos, nestas condições, trafegar pelo Trecho Sul é ter que contar com a sorte. "Meu rádio não funciona, fica sem sinal, e isso é muito ruim porque se o caminhão quebrar fico sem ter para quem recorrer", afirmou. "Foi um erro ter inaugurado sem a infraestrutura mínima, sem os telefones de emergência", completou.

Já o inspetor de solda José Silva de Souza, 36, teve problemas para remarcar os compromissos perdidos por causa do congestionamento de ontem. "O sinal é péssimo. Tentei fazer várias ligações e não consegui. Se tiver um problema com o carro, a pessoa fica sem mínimas condições de socorro", comentou Souza, que conseguiu remarcar os seus serviços apenas depois de sair do Trecho Sul.

"Pesquisas de concessionárias mostram que até 90% do contato com o serviço de emergência é feito por celulares, o que não tira a importância dos telefones de emergência", afirma o professor de Engenharia Civil da Fei (Fundação Educacional Inaciana), Creso de Franco Peixoto. "Às vezes, este telefone acaba servindo também para as comunidades que vivem ali perto", completa.

A Dersa, responsável pela administração da rodovia, afirmou que prevê entrar em contato com empresas de telefonia móvel para pedir instalação de torres de celular ao longo do anel viário.




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