O protesto de dona Dalva Nogueira, 66 anos, que fez um bolo para chamar a atenção do poder público de São Bernardo após um ano de espera para marcar consulta de retorno com o psiquiatra, foi visto pelo especialista como uma ‘brincadeira’. Essa foi a opinião que o médico Drauzio Viegas Junior emitiu durante a consulta com a paciente, que sofre com problemas de ansiedade, realizada finalmente na manhã de ontem, na UBS Baeta Neves. O manifesto foi publicado pelo Diário no dia 19.

A reportagem acompanhou o atendimento juntamente com o marido dela, Gabriel Arcanjo Nogueira, 67. Além do psiquiatra, um médico generalista também participou do encontro.

A senhora entrou nervosa no consultório. Minutos antes, contou que andava com medo de sair de casa e da reação das pessoas. Ao entrar na sala, ela descreveu os problemas que lhe incomodam. Além de dificuldade para dormir por conta do remédio receitado um ano atrás, relatou que, há pouco tempo, começou a ouvir vozes. O psiquiatra indicou a troca da medicação e justificou que a demora na marcação da consulta se deu em virtude de, em 2014, estar em “um outro projeto da Prefeitura”. Afirmou ainda que a ideia é que os pacientes com casos leves sejam acompanhados por equipes multiprofissionais e, havendo algum agravante, aí sim, o encaminhamento é feito pelo especialista.

O médico perguntou como estava a diabetes de Dalva e a resposta mostrou a desinformação do profissional com o quadro da paciente. “Não tenho diabetes, doutor”, disse a idosa.

Quase meia hora depois de um bate papo com a senhora, Viegas Junior atacou a iniciativa de Dalva e do marido ao tornarem pública a demora no atendimento. “Me surpreendeu, dona Dalva, eu não esperava e não pensei que a senhora estava tão mal assim, porque para fazer a brincadeira que fez no jornal (...)”, falou.

O marido disse que a situação era séria e que a reportagem se interessou pelo fato após ele publicar foto do bolo em uma rede social. “Eles (do Diário) fazem o que querem. Eles querem notícia para fazer sensacionalismo e vocês foram usados”, disse, aos risos, completando que no município, existe um Pronto-Socorro Psiquiátrico, com funcionamento 24 horas, na região central, o que nunca havia sido informado à paciente.

A partir de agora, o médico generalista acompanhará a evolução do tratamento e, havendo necessidade, encaminhará dona Dalva ao psiquiatra. Apesar do constrangimento causado pelos comentários de Viegas Junior, ela saiu do consultório leve. “Espero que não tenha mais que esperar tanto tempo por atendimento.”

Procurada para comentar a postura do psiquiatra, a Prefeitura de São Bernardo não se pronunciou.

“Deu bolo na Saúde”, desabafa, após consulta, marido da paciente

Indignado com o posicionamento do psiquiatra Drauzio Viegas Junior ao tratar o protesto pela demora na marcação de uma consulta de retorno como ‘brincadeira’, o marido da paciente Dalva Nogueira, 66 anos, Gabriel Arcanjo Nogueira, 67, escreveu desabafo:

“Já não era sem tempo a consulta. O que não esperava era o modo, entre debochado e arrogante, com que um dos médicos reagiu. Bastou o Diário comprar a briga, para que algo que se arrastava por tanto tempo tivesse um final feliz. Mas nem tanto.

Não posso comemorar que um médico, pela formação e vivência que tem, me jogue na cara que fui ‘usado’ pelo jornal ao fazer a ‘brincadeirinha’ do bolo. Não se trata de batalhar por algo que tenha a ver apenas comigo. Todos temos direitos e deveres, quem está do lado de cá ou do lado de lá do balcão da Saúde. A imprensa é um meio democrático de divulgar o que está certo e denunciar o que está errado. Cidadãos conscientes, unidades bem equipadas e profissionais bem preparados certamente contribuem para que a saúde não dê bolo, de novo.”