Há um elemento de surpresa no desfecho de "Entre as Pernas", aquilo que os americanos chamam de twist - o detalhe que muda tudo, os rumos e o próprio enfoque da narrativa. Esse elemento-surpresa passa, é claro, pela revelaçao da verdadeira identidade sexual de uma personagem-chave, mas nao é só isso. No fim do filme embaralham-se os conceitos de culpado e inocente. E o que une o casal que se forma no fim talvez seja mesmo a culpa, sempre tao forte no inconsciente da civilizaçao ocidental.
"Entre as Pernas" começa com a promessa de um filme carregadamente erótico. Victoria Abril e Javier Bardem, dois vulcoes sempre em erupçao, sao viciados em sexo e, como tal, vao parar num serviço de ajuda a dependentes. O espectador, um tanto voyeuristicamente, mal consegue esperar para ver a dupla em açao. Ao erotismo, propriamente dito, superpoe-se o thriller, com suas sugestoes hitchcockianas (o tema do falso culpado). Há uma morte e o marido de Victoria, um inspetor de polícia, tendo a confirmaçao de que a mulher tem outro, suspeita (ou quer suspeitar) de que esse outro seja o culpado.
O amor redime os doentes de sexo, mas o diretor nao desenha um arco-íris de felicidade no desfecho. A consciência do crime, a culpa estao ali rondando. Nao é um filme realmente bom, mas fornece elementos interessantes para quem se dispuser a analisá-lo. "Entre as Pernas" merece ser conferido.
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