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Paciente aguarda consulta há um ano em São Bernardo

Dalva Nogueira, 66 anos, que sofre de ansiedade e não consegue agendar retorno com psiquiatra, fez bolo para ironizar aniversário

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
19/02/2015 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Dalva Nogueira, 66 anos e moradora do bairro Baeta Neves, em São Bernardo, fez questão de preparar bolo com direito a velinhas para lembrar aniversário que ninguém deseja comemorar. Neste mês, ela completou um ano de espera para marcar consulta de retorno com o psiquiatra que a atende desde 2011 na UBS (Unidade Básica de Saúde) da região.

Com problemas de ansiedade, dona Dalva passou com o especialista pela última vez no dia 14 de fevereiro do ano passado. Até então, as idas aconteciam, geralmente, de dois em dois meses. Fazendo uso de medicamentos controlados, ela necessita de reavaliação para a eficácia do tratamento. “Não estou conseguindo dormir muito bem desde que ele trocou o remédio e queria falar sobre isso”, queixa-se ela.

A cada três meses, o médico precisa fazer uma receita para que a paciente possa retirar as medicações que utiliza na Farmácia de Alto Custo do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, e a prescrição tem sido feita sem que o psiquiatra a avalie. “Levo o LME (Laudo para Solicitação de Medicamentos) na UBS, colocam na pastinha do médico e volta assinado para eu retirar o remédio no Mário Covas”, fala o marido de Dalva, Gabriel Arcanjo Nogueira, 67. “Ela também toma medicação receitada por um endocrinologista e isso pode interferir nos remédios prescritos pelo psiquiatra e vice-versa. Isso me deixa preocupado”, completa.

Como se não bastasse a demora, Nogueira ressalta outro agravante: a falta de comunicação entre os funcionários da UBS Baeta Neves. “Em dezembro, depois de várias tentativas de marcar a consulta, um funcionário da sala de acolhimento, que fica ao lado da recepção, me deu um papel pedindo a marcação com urgência para janeiro. No dia 5 do mês passado, quando cheguei na recepção, me falaram que o psiquiatra estava de férias. Como uma informação importante como essa não circula dentro da própria UBS? Achei gravíssimo”, exclama ele.

A ausência do médico acarretou mais um problema. “Fui informado de que outro psiquiatra daquela UBS não poderia preencher o LME para que eu pegasse os medicamentos”. Segundo Nogueira, o Hospital Mário Covas liberou os remédios, mas com o compromisso do receptor de que, na próxima retirada, ele retornasse com o pedido assinado pelo especialista.

Há exato um ano e cinco dias, Dalva, que sofre de ansiedade, deseja ser vista, ouvida e poder ter a qualidade de vida que almejou quando procurou ajuda médica. “Essa demora é uma falta de consideração com o ser humano”, lamenta ela.

Procurada, a Prefeitura de São Bernardo prometeu que se pronunciará sobre o caso hoje.

Problema requer acompanhamento periódico, afirma especialista

Problema tido como o mal do século 21, a ansiedade, assim como os demais tipos de transtornos mentais, precisa de acompanhamento periódico para melhora do quadro, segundo a psiquiatra Alessandra Diehl. “É importante que as consultas sejam periódicas, pois visam ver se a dosagem da medicação está correta, se o diagnóstico está mantendo o nível, se a pessoa precisa aumentar, diminuir ou suspender o medicamento”, ressaltou a especialista.

No caso de Dalva Nogueira, 66 anos, o remédio utilizado por ela tem acarretado dificuldades para dormir, razão pela qual ela queria conversar com o médico para buscar outra alternativa. Alessandra salienta que a ausência de acompanhamento pode intensificar o distúrbio. “A tendência é se tornar crônico ou essa paciente aumentar a dose do remédio por conta própria em busca de alívio. São coisas que poderiam ser revistas pelo psiquiatra. É uma pena essa paciente ficar um ano esperando por um retorno de consulta.” 




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