As proporções atingidas por Fahrenheit eram, até então, inimagináveis para um documentário. É o caso, por exemplo, da bilheteria, digna de um blockbuster: já são US$ 103 milhões somente nos Estados Unidos. E isso não se deve apenas à postura de Moore, falastrão e militante em tempo integral, mas a um árduo trabalho de pesquisa de imagens e documentos e a uma montagem impecável que faz com que o espectador experimente todo o tipo de emoções durante a projeção.
Muitos devem chorar na cena em que Moore entrevista uma assistente social que perdeu um filho no Iraque. Outros ficarão atônitos com a reação de Bush após ser informado sobre os atentados. E todos irão gargalhar quando o secretário-adjunto da Defesa, Paul Wolfowitz, umedece o pente na boca para ajeitar o cabelo antes de uma entrevista.
Moore começa o filme com a tela negra para retratar os atentados ao World Trade Center. Ele ti-nha imagens chocantes (pessoas se jogando dos prédios e pedaços de corpos), mas usou apenas o som do desespero. Depois, o cineasta explica a teoria do famoso discurso do Oscar, sobre as eleições “fictícias” que colocaram Bush no poder, levantando dados da fraude – a Suprema Corte teria definido a questão, não o povo.
‘Bin Laden atacará’ – Em seguida, Moore usa uma seqüência de imagens captadas pela TV norte-americana para lembrar que Bush ficou 42% do tempo em férias até o fatídico 11 de setembro. O presidente joga golfe, pesca e, nesse meio tempo, dá entrevistas constrangedoras, que levantam dúvidas sobre sua capacidade de go-vernar a nação. Diz que trabalha na casa de campo, mas simplesmente não lê um relatório do FBI cujo título é Osama Bin Laden Atacará Dentro dos EUA, entregue a ele em agosto de 2001.
Fahrenheit mostra ainda uma bizarra ligação entre a família Bush e Bin Laden em empresas de petróleo, e um documento que prova que vários vôos foram fretados em 13 de setembro de 2001 para que todos os Bin Laden residentes nos Estados Unidos saíssem do país, num dia em que o espaço aéreo norte-americano estava fechado. Moore também responsabiliza o governo Bush pela paranóia norte-americana pós-ataques. A nação teria sido mantida apavorada em função dos constantes alertas do FBI e, por isso, ficou passiva diante do Ato Patriótico, que infringe direitos civis básicos em nome da “segurança”.
São 122 minutos de nitroglicerina pura, com a parte final dedicada à Guerra do Golfo, quando jovens da periferia foram recrutados por ser esta talvez a única opção para os mais pobres. Moore foi para a porta do Congresso perguntar aos congressistas se eles enviariam seus filhos para a guerra. É uma abordagem nada elegante, mas desafiadora, que fez do cineasta o maior representante do cinema-denúncia atual.
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