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Professor deve aprender a ensinar aluno

Diadema inicia o ano letivo novo modelo de ensino, sob responsabilidade da empresa Planeta Educação Gráfica e Editora Ltda

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
12/02/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


O professor de hoje precisa aprender a ensinar. E a tecnologia não basta para garantir o aprendizado dos alunos. Com essa ideia em mente, Diadema inicia o ano letivo novo modelo de ensino, sob responsabilidade da empresa Planeta Educação Gráfica e Editora Ltda, com atuação desde 1976 e que atende cidades em todo o País.

A companhia foi admitida no fim do ano passado, por período de 60 meses, após vencer licitação de projeto do Executivo pedindo a implantação e desenvolvimento de ações que promovam a melhoria dos índices educacionais. Para executar a missão, receberá, anualmente, R$ 5,1 milhões da Prefeitura. Em Diadema são 59 escolas municipais, com 32 mil alunos.

Os números mais recentes do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mostram que é preciso melhorar a qualidade. Em 2011, a cidade registrou 5,4 pontos, enquanto a evolução no último levantamento, de 2013, foi mínima: subiu para 5,9.

O presidente da Planeta Educação, Luis Namura Poblacion, aponta que, embora atualmente os governos tenham que destinar no mínimo 25% do Orçamento para a área da Educação, os recursos de nada servem se não houver boa gestão.

Em entrevista exclusiva ao Diário, ele salienta que os professores estão mal preparados. “Mas não é porque querem, e sim porque as universidades não preparam. Eles sabem muito sobre teorias educacionais, mas a prática educativa deixa a desejar.”

É justamente esse ponto, a transmissão do conteúdo, que a Planeta Educação tem como foco. A empresa aposta em metodologia da universidade norte-americana Harvard. Nela, monitores auxiliarão professores para que o conteúdo passado seja efetivamente absorvido pelos alunos, de forma leve. Leia mais abaixo.

 

Fala-se sempre em gastos significativos com a Educação, mas os resultados, quando se concretizam, não são muito satisfatórios. A que atribui isso?

Lá atrás se dizia: falta dinheiro. Mas agora falta gestão. Não adianta colocar o dobro de recurso. É um conjunto de coisas que precisam ser feitas e a primeira é saber quais são os problemas.

 

No caso de Diadema, cidade onde vocês estão iniciando o trabalho, quais são os problemas identificados?

Um deles é a melhoria da gestão da escola. Temos softwares de gestão extremamente poderosos, ganhamos uma competição da Microsoft como o melhor software de gestão das Américas. E o outro problema é a gestão da sala de aula. São essas as duas coisas que viemos fazer. O professor precisa aprender como ensinar.

 

Como esse trabalho será desenvolvido?

Trouxemos metodologia da Universidade de Harvard que ensina como dar aula. O que os professores normalmente sabem fazer é: eles conhecem uma matéria e querem transmitir. Quando o docente se comunica, tem que dominar o conteúdo e a forma. Dominar o conteúdo espero que já dominem, mas dominar a forma, que se chama didática, isso está muito difícil porque o aluno mudou, então, a didática tem de mudar. É isso que vamos desenvolver: além das habilidades cognitivas, também um conjunto de habilidades socioemocionais.

 

E como isso será feito?

Por exemplo, faço uma pergunta para uma sala de 40 alunos: ‘Quem descobriu o Brasil?’ Dois ou três querem responder, um engraçadinho vai querer brincar e o resto não está nem aí. O professor escolhe um, que responde, aquele que sabia e não foi escolhido fica chateado, o engraçadinho já fez a piada e liderou a turma, todo o mundo riu e ninguém aprendeu nada. Vamos fazer diferente: há uma dupla de alunos e o professor fala: em 30 segundos, discuta com o colega quem descobriu o Brasil. Depois ele replica e fazemos esse bate e volta. Ao cargo de dois minutos, se eu estiver em uma sala com 1.000 crianças, fiz todas participarem porque mudei a abordagem. Esta metodologia foi desenvolvida durante 30 anos na Universidade de Harvard e é o que traz para a escola hoje uma abordagem didática totalmente diferente, que ensina a falar, a escutar, a respeitar o outro, a promover um ambiente muito mais rico.

 

O senhor acredita que os docentes atualmente estão mal preparados?

Totalmente, mas não porque eles queiram, e sim porque as universidades não preparam. Eles sabem muito sobre teorias educacionais, mas a prática educativa deixa a desejar.

 

Como será o trabalho com os professores da rede? Eles passarão por processo de capacitação?

Mais que isso. Quando se dá informação por meio de uma palestra e cursos de formação, falta o acompanhamento para fazer a transformação acontecer na prática da aula. É preciso acompanhar a execução para garantir o sucesso.

 

E como será esse acompanhamento na cidade?

Montamos escritório em Diadema, contratamos pessoas do município, capacitamos na nossa metodologia e, junto com os nossos técnicos, que vêm de São José dos Campos, onde fica nossa sede, acompanhamos durante quatro anos, até que a autossuficiência na execução do método seja adquirida pelos professores daqui. Antes disso, um mediador estará na sala de aula, junto com o professor.

 

Além dos monitores auxiliando os professores, eles também receberão formação extraclasse?

Sim, no esquema chamado de HTPC (Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo), com 360 horas de formação, que vão ter duração total de dois anos. São mais ou menos 250 técnicas que são passadas para os professores, aos poucos. Não adianta ensinar tudo em um mês que eles esquecem.

 

Alguns professores têm seus vícios no método de ensino. Como lidar com uma possível resistência em aprender uma nova maneira de lecionar?

Se apresentamos uma proposta na qual o professor vê resultados densos em outros locais, ele começa a querer acreditar. Usamos um livro guia, chamado A Empresa de Mente, Corpo e Alma, de Roberto Tranjan. Mente é o planejamento, corpo são os recursos e alma é a relação entre as pessoas, então, a gente cuida com carinho da relação com as pessoas que vão receber o projeto, trazendo as palestras e mostrando que, se elas conhecerem, terão um diferencial. Pedimos que nos deem a oportunidade de dar uma aula e, ao fim dela, pedimos para que digam se acrescentou. Se não, indicamos que peçam ao prefeito que pare o projeto.

 

Desde fevereiro, a Prefeitura de Diadema implantou o sistema Sesi (Serviço Social da Indústria de São Paulo) de ensino, por meio de convênio. A Planeta Educação atuará em conjunto com o Sesi?

O Sesi dá o conteúdo, nós damos a forma. Não estou vendendo conteúdo, não é essa a nossa missão. O que fazemos é transformar esse material de ensino em algo palatável, inteligível e que seja útil para a vida do aluno.




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