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Câmeras de vídeo reduzem privacidade nas ruas
Reynaldo Gollo
Da Redaçao
10/06/2000 | 17:07
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A frase do livro 1984, de George Orwell, em inglês, tem duplo sentido. "Big Brother is watching you" pode ser entendida como "o Grande Irmao está cuidando de você", mas também pode ser lida como "o Grande Irmao está de olho em você". A sutil diferença entre zelar e vigiar traz a discussao sobre os sistemas de vigilância por vídeo que começa a se espalhar pela ruas da regiao.

Na ficçao, câmeras se espalhavam por cidades de um futuro opressor e de controle total sobre as vidas das pessoas - controlando até o passado. A violência moderna acentua a questao do desenvolvimento das relaçoes humanas que parece nao acompanhar a velocidade do desenvolvimento da tecnologia.

Seguindo exemplo da cidade de Vinhedo (interior do Estado) - que, por sua vez, seguiu o exemplo de várias cidades européias e norte-americanas -, Ribeirao Pires foi a primeira da regiao a instalar câmeras para vigiar suas ruas centrais.

Santo André monitora 24 horas por dia sua principal via comercial, a rua Coronel Oliveira Lima, além de garantir com o mesmo método a segurança no seu espaço público de lazer mais importante, o Parque Duque de Caxias.

Rudge Ramos e Vila Vivaldi, bairros de Sao Bernardo, vigiam suas ruas pela tela de monitores.

Estamos trocando privacidade por segurança? "Em túneis e vias centrais de grande movimento, acho razoável", diz o escritor e deputado federal Fernando Gabeira. "Mas, se a prática for levada para ruas de áreas residenciais, se estará rompendo com a privacidade."

Segundo Gabeira, é mais uma distorçao da diferença de classes. "Ricos têm muros mais altos, mas pobres vivem em vilas ou favelas apertadas, mais expostos em sua intimidade."

"As câmeras nas ruas nao me incomodam, mas acho que está havendo uma paranóia muito grande das pessoas", acredita o multimídia Marcelo Tass, apresentador do Vitrine, programa que discute a comunicaçao na TV Cultura. "Eu concordo que vivemos em uma época muito complicada, mas isso nao é soluçao. Dá uma falsa sensaçao de segurança, mas nao impede a açao dos bandidos. O problema continua sendo a miséria, o salário baixo."

O professor univesitário Luiz Roberto Alves também nao se incomoda, mas sabe que nao o faz por uma questao mais séria. "Estamos tao violentados pela violência, que nao levamos em conta os discurso sobre a privacidade, como o de Orwell. Estamos olhando felizes para aqueles que nos guardam. Lamento nao termos o direito de questionar mais essa vigilância."

Mas Alves acredita que os efeitos positivos serao breves, pois os profissionais liberais do crime têm recursos para se equipar melhor que as autoridades. "Eles (os criminosos) darao resposta a essa nossa tecnologia. Temos de mudar a sociedade e sair dessa questao de quem vai ganhar a batalha (sociedade x crime)."

Se vao conseguir se tornar invisíveis às câmeras, é difícil saber. Mas, com certeza, já dominam essa tecnologia. No mês passado, os funcionários de um desmanche de carros roubados em Utinga, Santo André, conseguiram se safar da chegada da polícia por uma passagem nos fundos para um terreno baldio. Partiram rápidos deixando a comida na mesa. Tal agilidade foi possível devido a um sistema de vídeo monitorando a rua e a movimentaçao da polícia. O Grande Mano tava de olho em nós.




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