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S.Caetanto já teve 'prisão para ladrões de galinha'
Cláudia Fernandes
Do Diário do Grande ABC
08/09/2001 | 18:05
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Quando a polícia batia na porta da família Gomez, na Vila Bela – em São Paulo, divisa com São Caetano –, Paulinho já tapava a respiração e esperava pelo pior. Seu pai, espanhol severo, havia chamado mais uma vez o delegado, o temido senhor Salles, para levá-lo. Lá ia ele acompanhado de dois policiais desarmados para a cadeia pública da rua Heloísa Pamplona, no bairro Fundação, em São Caetano. A cena foi vivida dezenas de vezes, entre 1929 e 1932, quando Paulinho ainda era um adolescente. O prédio da antiga delegacia da cidade continua lá até hoje, mas fragmentado em casas, todas habitadas. Inclusive a de Paulinho, que hoje já é o Paulo Gomez Gonzalez, 74 anos. Ele construiu a sua casa, para casar, em cima do antigo quintal da delegacia.

Os crimes cometidos por Paulinho eram pura molecagem. Ele e os amigos furtavam as panelas da mulherada da vizinhança que, em busca de brilho, colocava o alumínio para secar ao sol. Os garotos prensavam o metal e vendiam o material ao ferro-velho, que, por sinal, era do pai de Paulinho. Quem vendia, era sempre um amigo.

As punições na cela eram literalmente pesadas. “O senhor Salles fazia a gente carregar pilhas de tijolos de um canto da cadeia para outro. Quando acabávamos, ele mandava carregar tudo de novo para o outro lado”, lembra o franzino seo Paulo.

As pequenas infrações que cometia era para conseguir dinheiro para ir às sessões de cinema no Cine Central, comprar o sabor do momento, a recém-lançada tubaína e comprar pastel. Assim como o seu, os crimes dos outros presos que iam para um dos três xadrezes da cadeia, onde hoje mora uma família, eram sempre banais. “Um dos delitos mais comuns era deflorar uma mulher e depois não querer casar. O pai da moça denunciava ao delegado e o rapaz só saía de lá casado”, relembra. A lotação mesmo das três celas acontecia nos fins de semanas, quando o delegado mandava pegar os bêbados das ruas. No dia seguinte, já sóbrios, todos eram liberados.

Corretivo – Como hoje, naquela época já era proibido prender menores de 18 anos. Por esse motivo, quando um moleque ia para a cela não ficava mais de 15 dias preso. “Meu pai queria me dar um corretivo e acreditava que, com isso, eu ia endireitar. Quando a gente chegava, o delegado e o seu filho, o Waldemar, mandavam a gente tirar a roupa e encostar o corpo na grade da cela, de madeira grossa e fria. O autoritário senhor Salles tirava da boca um grosso charuto e queimava a nossa barriga.” A ironia, lembra seo Paulo, é que o tão imponente Waldemar morreu bêbado, afogado na Billings.




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