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Shoppings da região não possuem médicos
Deborah Moreira e Evandro Enoshita
Do DGABC
27/02/2010 | 09:06
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O s cinco shoppings centers do Grande ABC não possuem médico de plantão em seus ambulatórios para eventuais atendimentos de emergência. Cerca de 165 mil pessoas passam por esses locais diariamente. Pela Lei Estadual 9.791, de 1997, os estabelecimentos são obrigados a manter "departamentos médicos (...) dirigidos" por estes profissionais, além de manter ambulância e equipe de auxiliares habilitados a prestar atendimentos imediatos.

O Diário esteve nos cinco estabelecimentos do gênero na região e constatou que faltam médicos em todos. Em um deles, o Shopping Metrópole, de São Bernardo, não há nem enfermeiro e, durante a visita, o ambulatório estava fechado.

"É importante a presença de, pelo menos, um médico e um enfermeiro, além de uma ambulância para os casos mais graves", disse o cardiologista José Luis Aziz, professor da Faculdade de Medicina do ABC.

Além da obrigatoriedade de manter local com profissionais de Saúde, os shoppings também são obrigados, pela Lei 12.736, de 2007, a ter um desfibrilador "à disposição durante todo o período em que esses locais registrarem a presença de público".

"Em caso de ataque cardíaco fulminante, se o equipamento for usado no primeiro minuto do infartado, há 90% de chance de reversão no quadro. A cada minuto que passa, a chance diminui em 10%", explicou Silvio Reggi, cardiologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O Shopping Praça da Moça, em Diadema, possui equipamento do gênero. "Temos dois desfibriladores. Aqui tem tudo, menos o médico. Sem ele, não podemos prescrever nenhum tipo de medicamento", relatou um enfermeiro que trabalha no local, pensando que conversava com uma paciente. Nos outros shoppings, segundo relato dos funcionários, o desfibrilador também é encontrado.

Diversos profissionais que trabalham nos centros de compras afirmaram que é comum clientes e funcionários apresentarem problemas de saúde e recorrerem ao ambulatório.

Uma vendedora que não quis se identificar afirmou que já precisou várias vezes do atendimento no shopping onde trabalha em Santo André.

"Há 15 dias, estava com diarreia e vômito, e eles não puderam fazer nada. A loja me dispensou, e fui para o pronto-socorro", contou. "Isso sem contar situações mais simples, como cólicas ou dores de cabeça, que se resolveria com um comprimido. Mas nem isso eles podem dar (sem médicos que receitem)."

 

 

Posto permanece fechado para clientes e funcionários

 

O Shopping Metrópole, de São Bernardo, não mantém o ambulatório aberto durante o horário de funcionamento. O Diário pediu a um segurança que lhe fosse indicado o local para medir pressão. O profissional respondeu que o mais indicado seria ir à farmácia, onde seria necessário pagar R$ 2 para utilizar o equipamento.

"O ambulatório fica do lado de fora (do shopping) e está sempre trancado. Quando precisamos, é a gerente que nos leva no PS (Pronto-Socorro), ou vamos por nossa conta", relatou a atendente de uma loja que preferiu não se identificar. O posto de atendimento está localizado na saída para a Avenida Pereira Barreto. "Se alguém enfarta aqui, nem sei o que fazer", exclamou uma colega.

Outras funcionárias declararam que já foram atendidas por bombeiros no local, como a vendedora Meire da Silva, 35 anos. "Desmaiei porque estava sem comer, e logo (os bombeiros) chamaram uma ambulância."

O Metrópole afirmou que possui equipe treinada e habilitada para usar o desfibrilador instalado no local e que possui contrato com empresa especializada em remoções. Todos os shoppings disseram ter todos os equipamentos exigidos para primeiros socorros. (Deborah Moreira).

 

 

Sinalização confusa atrapalha acesso a atendimento

 

Além de não possuírem médicos de plantão em suas instalações, alguns shopping centers da região têm sinalização confusa sobre a localização dos ambulatórios. Enquanto outros simplesmente não possuem placas indicativas.

É o caso do ABC Plaza Shopping, em Santo André. Não há menção ao posto de atendimento médico na sinalização que é pendurada no teto do centro de compras. Para chegar até o ambulatório, somente com orientação dos seguranças. E mesmo seguindo as indicações dos vigilantes, achar o posto médico é tarefa difícil, segundo constatou a reportagem. Na porta que dá acesso ao local, não há qualquer aviso. A placa indicativa é vista apenas quando o paciente está na porta da enfermaria.

Já no Shopping ABC, também em Santo André, as placas de sinalização existem, mas terminam no terceiro piso, dois andares abaixo do ambulatório. E para chegar ao posto do local também é preciso recorrer aos seguranças.

Nos demais centros de compra visitados, não houve dificuldade em encontrar os departamentos médicos.

Desfribilador - Segundo os médicos ouvidos, é importante que os grandes centros de compras mantenham mais de um desfibrilador automático, e em locais de fácil acesso. "Se um shopping tem diversos pisos, é preciso que haja um equipamento em cada andar", disse o cardiologista José Luis Aziz, da Faculdade de Medicina do ABC. (Deborah Moreira e Evandro Enoshita).

 

 

Instituto defende importância de legislação

 

Para a advogada do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) Daniela Trettel, a existência da Lei Estadual 9.791, de 30 de setembro de 1997, que obriga os shoppings centers a manterem ambulatórios, médicos, auxiliares e ambulâncias em suas instalações, é importante do ponto de vista do consumidor. "Estes centros de compras são locais com grande circulação de pessoas, por isso é interessante que haja esse tipo de equipamentos", destacou Daniela.

A advogada afirmou que a fiscalização do cumprimento da lei cabe aos órgãos da área de Saúde, como a Vigilância Sanitária e as secretarias, municipal e estadual, de Saúde. As prefeituras de Diadema e Santo André afirmaram que realizam fiscalizações periódicas nos shoppings. Mauá e São Bernardo não retornaram. (Evandro Enoshita).




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