A estudante Nayara Silva, 15 anos, não vai participar da reconstituição do maior caso de cárcere privado do Estado. É o que garantiram ontem os advogados da família, José Nildo Alves Cardoso e Marcelo Augusto de Oliveira.

"A Nayara ainda está muito abalada psicologicamente e não quer retornar ao local de crime. Essa é a vontade dela e da família. Também temos laudo de uma psicóloga que atesta a sua condição psíquica", afirmou o advogado Cardoso.

Ele e o colega Oliveira são integrantes do Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) de Santo André.

Segundo o Código de Processo Penal, a testemunha é obrigada a participar de reconstituição. Entretanto, a qualificação de Nayara é questionada pelo advogado.

"Mais do que testemunha, a Nayara foi vítima do crime, tanto que foi ferida por uma bala no rosto. Na condição de vítima, ela não é obrigada a participar da reconstituição. Ela só vai voltar ao local se tiver alguma ordem judicial. Mesmo assim, vamos tentar reverter qualquer decisão nesse sentido", disse Cardoso.

Quando recebeu o inquérito finalizado pela polícia há duas semanas, o promotor do Júri de Santo André, Antônio Nobre Folgado, afirmou que Nayara era uma testemunha-chave para o caso e que, nessa condição, seria obrigada a participar da reconstituição.

Na visão do advogado criminalista Fernando Castelo Branco, Nayara não teria obrigação de atuar.

"Ela é mais uma vítima do que testemunha. Se ela não quiser participar, não deveria ser forçada. A vítima não deve ser constrangida. A polícia pode usar na encenação outra pessoa e reproduzir os acontecimentos conforme o depoimento formal prestado por Nayara", afirmou o criminalista.

O delegado seccional de Santo André, Luiz Carlos dos Santos, ficou surpreso com a posição dos advogados de Nayara.

"Ela receberá intimação para comparecer à reconstituição. Vamos tentar entrar em um acordo. Se ela colaborar, vai fornecer mais elementos para manter o Lindemberg (Alves Fernandes, 22 anos, autor do cárcere privado) preso. Ela me parece recuperada psicologicamente, mas não queremos causar qualquer prejuízo nesse sentido", afirmou o delegado.

A reconstituição ainda não tem data marcada, mas deve ocorrer na próxima semana.

A polícia precisa ter em mãos laudos do IC (Instituto de Criminalística), que ainda não foram concluídos, para marcar data da reconstituição. Uma das principais dúvidas é se houve ou não um tiro antes da invasão do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais).