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Empresário afirma ter
pago R$ 500 mil a juiz
André Vieira
11/06/2011 | 07:35
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Se o esquema de coação e corrupção do juiz Gersino Donizete do Prado continuasse, o empresário que o denunciou ao Conselho Nacional de Justiça iria levar a companhia que representa à falência. Em três anos, o magistrado recebeu cerca de R$ 500 mil em propinas e multiplicou por cinco suas exigências de pagamentos mensais, de R$ 4.000 para R$ 20 mil.

Os nomes do denunciante e da empresa que oficiaram a reclamação disciplinar contra Donizete do Prado serão mantidos em sigilo. Ex-titular da 7ª Vara Cível de São Bernardo, o juiz está sendo investigado pela corregedoria e foi afastado em 2 de junho de suas funções por decisão do Órgão Especial do Tribunal de Justiça.

As relações entre o magistrado e o denunciante começaram em jantar realizado em condomínio de luxo de São Bernardo, em que o empresário falou sobre os problemas da companhia. Em dívidas, teria o futuro decidido em duas assembleias de credores.

As assembleias deliberaram pela continuidade das atividades e a decisão sobre a recuperação judicial da empresa foi homologada pelo juiz. Depois de nove meses com as portas fechadas, com máquinas paradas e protestos de trabalhadores cobrando atrasados, a empresa voltou a operar.

Era 23 de novembro de 2007 quando a companhia, que já empregou até 2.500 funcionários, recomeçou com apenas oito empregados e realizando somente duas das muitas etapas industriais que tinha capacidade.

Dois meses depois, com a ameaça de que poderia quebrar a empresa, o juiz teria, segundo o denunciante, dado início ao esquema de coação e corrupção, denunciado ao CNJ em abril e revelado pelo Diário há uma semana.

Os pedidos começaram em janeiro de 2008 com retiradas semanais de R$ 1.000. Os pagamentos foram feitos até o mês passado, já multiplicados por cinco. No início, a entrega era feita em hotel no Centro de Santo André, depois passou para uma cafeteria, até que, em 2009, começou ser feita direta no Fórum.

A proprina era entregue antes do almoço, às 11h30, e o magistrado ligava cobrando sempre que havia qualquer atraso, mesmo que fosse de poucas horas, afirma o empresário denunciante.

No gabinete, o pagamento era feito em mãos, com dinheiro, transportado dentro de envelope. Em sua mesa, o juiz levantava alguns livros, e o envelope era colocado embaixo, explica o denunciante.

Mas as propinas semanais se expandiram e o empresário passou a ser obrigado a custear despesas pessoais do juiz em grifes de roupas e joias, pagar por festa de aniversário e até um 13° de propina - R$ 52 mil em dezembro de 2010.

A senha para os pedidos era o chamado do juiz para uma reunião. Sem cerimônia, explica o denunciante, Donizete do Prado dizia o queria.

Segundo o denunciante, a empresa tirava dinheiro da folha dos funcionários, que recebiam na sexta-feira, mas acabavam só sendo pagos na segunda, porque o juiz precisava receber primeiro.

O empresário também será cobrado na Justiça pela participação no esquema e sustenta em denúncia que não havia mais condições financeiras, pois a extorsão aumentava. As provas, contundentes e materiais, na avaliação do denunciante, estão com o CNJ.

 

Empresa teve de contratar advogados por imposição

 

A defesa da empresa na Justiça, antes feita por representação de sua escolha, teve de ser substituída por escritórios impostos pelo juiz Gersino Donizete do Prado. Dessa forma, sustenta o empresário, o magistrado mantinha “o controle total do processo e o sigilo de seus pedidos de pagamentos.”

A primeira indicação foi de advogado de Marília, no Interior, que pressionava o denunciante para que firmasse contrato de R$ 250 mil mensais pelos serviços.

Afastado, o primeiro indicou um parente, advogado no Guarujá, no Litoral, que negligenciou a defesa da empresa, perdendo prazos de recursos. Ele também levava para os sócios as ameaças de coação do juiz.

A empresa já não trabalhava mais com nenhum desses advogados.




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