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Catástrofe no Japão gera oportunidades
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
17/03/2011 | 07:22
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Depois de terremotos e maremotos, o Japão vai precisar se reerguer. E as empresas brasileiras, inclusive as do Grande ABC, deverão ter oportunidades de negócios com o país asiático, após o início do processo de reconstrução, o que deve demorar ainda alguns meses, na avaliação de especialistas.

Representantes do setor industrial citam que é necessário que a usina nuclear de Fukushima fique sob controle e passe o período inicial de ajuda humanitária. Depois disso, os setores que podem ter incremento nos negócios são, sobretudo produtores de itens básicos, como minério de ferro e carne de frango - que respondem juntos por 53% das exportações (em valor) do Brasil para aquele país. "Em um segundo momento, de reconstrução, haverá necessidade intensiva de aço, alumínio e ferro, por exemplo", afirma o gerente do departamento de pesquisas e estudos econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), André Rebelo.

Para a região, pode haver alguma melhora nas encomendas, que ainda são incipientes para aquele mercado. Atualmente, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (que lista só os 30 principais destinos das exportações de cada município), nos dois primeiros meses do ano apenas em duas das sete cidades (Diadema e Mauá) o país asiático aparece no ranking, proporcionando receitas de US$ 1,5 milhão. Nas outras, nem aparece na lista dos 30 destinos.

O diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Caetano, William Pesinato, avalia que o País pode fornecer peças para montadoras japonesas. Isso porque os tremores abalaram indústrias do segmento. "Contratos de venda de autopeças do Japão para outros países podem vir para o Brasil", cita.

Na avaliação do professor de Economia da PUC (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Antonio Correia de Lacerda, quando o processo de reconstrução estiver em plena atividade, seria oportuno que o governo do Brasil definisse com autoridades japonesas a visita de uma missão empresarial brasileira. "Além dos itens básicos, temos condições de oferecer produtos e serviços com maior valor agregado", comenta. "A engenharia nacional é muito boa e poderia ampliar sua participação internacional, com presença no Japão", aponta. (com AE)

 

Fabricantes temem risco de falta de peças japonesas

Enquanto as exportações da região para o Japão são incipientes, as importações de produtos japoneses para a região são significativas. Somaram US$ 33 milhões no bimestre, o que coloca o país asiático no ranking entre os dez maiores em vendas de itens para o Grande ABC.

Uma das preocupações de empresas daqui é com o suprimento de peças, fornecidas por fábricas de lá e que abastecem, por exemplo, montadoras de veículos. É o caso da Toyota, que tem fábrica em São Bernardo. Contatada pela equipe do Diário, a companhia informou que acaba de renovar sua linha de automóveis e que está estocada de peças. Por isso, por enquanto, não há risco de desabastecimento.

O vice-diretor do Ciesp de Diadema, Anuar Dequech Júnior, avalia que a economia brasileira pode ser prejudicada, em razão do forte volume de importação. "Tudo vai depender de quando o Japão sairá dessa parada geral", afirma.

 

Desastre ocorre em cenário de tensão no setor financeiro

Pedro Souza

A sequência de catástrofes ocorrida no Japão, que persiste com o capítulo do vazamento nuclear, ocorre em momento de tensão no mercado financeiro. E no curto e médio prazo, as negociações da BM&FBovespa (Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo) tendem a ser impactadas.

O mercado já estava tenso com sobras da crise financeira mundial que afetam os mercados da Europa e o impasse no Norte da África, que afeta as negociações de commodities, explicou o professor de Finanças José Ricardo Escolá de Araújo, que ministra aulas na pós-graduação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), na FGV (Fundação Getulio Vargas), e é consultor da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Como o Japão é a terceira maior economia do mundo, muitos mercados dependem, em parte, de sua parceria comercial e financeira.

"Conforme a radiação vai se espalhando, pode gerar uma paralisia na economia japonesa, contaminando o mercado financeiro do país e, consequentemente, o mercado financeiro mundial", avaliou o professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite. Porém, ele destacou que o nível de gravidade ainda é incerto, o que dificulta análises concretas sobre os abalos do desastre no Brasil.

 

Impacto no mercado deve ser pequeno

O terremoto e o tsunami que destruíram cidades do Norte nipônico podem tirar recursos do mercado financeiro brasileiro, argumentou o professor de Finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Eduardo Vieira dos Santos Paiva.

"Com a globalização financeira, as perdas na Bolsa de Valores do Japão podem assustar os gestores de recursos", disse Paiva, lembrando que as carteiras desses investidores institucionais perdem valor. Com isso, a estratégia desses aplicadores poderia mudar. "Pode haver movimento de saída dos países emergentes, como o Brasil, para não correr mais riscos. Ou voltar toda a carteira para o mercado financeiro dos Estados Unidos", acrescentou.

Com menos recursos, a tendência é que o mercado acionário brasileiro tenha desaquecimento e volatilidade. Porém o professor de Economia do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, não espera queda brusca. "Eu não acredito que o Ibovespa caia abaixo dos 60 mil pontos, como ocorreu na crise financeira mundial de 2008."

O diretor da Título Corretora, Marcio Cardoso, concorda com a manutenção do movimento aquecido do mercado de ações da BM&FBovespa . "Hoje (ontem) o volume negociado chegou a R$ 8,6 bilhões. É um resultado muito bom. Mas a verdade é que a volatilidade dá medo", disse.

Balistiero destacou que se houver queda real no mercado acionário brasileiro, a atividade econômica do País corre risco de ser afetada.

 

 




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