Por volta das 3h30, enquanto os quatro dormiam no quarto no fundo da casa, a terra deslizou e derrubou o muro sobre as meninas. O muro de concreto cedeu e a terra invadiu a casa e cobriu os quatro. Fábio ficou coberto até a cintura e conseguiu salvar a mulher, mas as duas meninas morreram com o impacto da queda do muro e sufocadas com a terra.   

“Fiquei com terra até a cintura e consegui cavar para descobrir o rosto da minha mulher para ela respirar. Como estava longe das meninas, gritei para os vizinhos, que arrombaram a porta para nos ajudar, mas as crianças já estavam mortas porque o muro caiu em cima delas junto com a terra e a caixa d’água”, disse Fábio.   

A casa do desempregado, metade de madeira e parte feita em bloco, era dividida entre a cozinha e o quarto, onde normalmente dormiam o casal e Daiane. Bruna havia passado o sábado com os tios e a prima e quis dormir no local. Vanusa e Fábio dormiam em uma cama de casal e Bruna e Daiane dividiam uma pequena cama.   

Vanusa e Fábio sofreram apenas escoriações leves. “Acordei desesperado com um monte de pedras na minha cara. Quando chove, ficamos preocupados, mas faz cinco anos que moro lá e nunca havia acontecido nada”, disse Fábio.   

“Primeiro escutei um grande estrondo, depois ouvi alguém gritar. Em seguida os vizinhos começaram a correr para a casa do Fábio e chamar os bombeiros, mas quando eles chegaram as meninas já estavam mortas”, disse a dona de casa Maria Conceição Souza, que mora em frente à casa que desabou.   

A casa de Fábio, fica entre as ruas A e Jaciporã. A rua Jaciporã foi pavimentada recentemente e as casas com frente para a rua A ficam com o teto no nível da Jaciporã. Para os moradores, a pavimentação da rua Jaciporã fez com que a drenagem da via jogasse água nos fundos das casas. “Vou atrás dos meus direitos para saber se fui prejudicado por causa dessa rua, mas não há nada que vá reparar as duas vidas perdidas por causa desse desabamento”, desabafou o pai.   

Vanusa chegou a ser medicada e domingo estava sob o efeito de calmantes. O enterro de Daiane e Bruna será nesta segunda às 9h, no cemitério Jardim da Colina, no Jardim Petroni, São Bernardo.  

Mapeamento – De acordo com mapeamento feito pela Defesa Civil de São Bernardo e publicado na edição deste domingo do Diário, a cidade tem oito bairros com problemas de deslizamento. No total, o Grande ABC tem 23 áreas de risco de alagamento e outras 33 que apresentam perigo de desabamento de encostas.