Davi foi o nome mais registrado pelos cartórios do Grande ABC em 2014. Pais de 1.093 bebês que nasceram no ano passado decidiram batizar seus filhos com a nomenclatura do considerado maior rei de Israel e que em hebraico significa querido e amado. O topo da lista divulgada pela Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo) durante a semana inclui ainda outros dois nomes bíblicos: Maria e Ana, com 956 e 940 registros, respectivamente.

Os dados da região seguem tendência observada em todo o Estado. De acordo com a associação, os nomes Maria e Ana se mantêm entre os mais escolhidos para nomear crianças há pelo menos nove anos. Em 2014, nasceram 23.500 Marias e 19.270 Anas. Já Davi figura em 3º lugar no ranking estadual, com 18.348 batismos. Entre as seis cidades do Grande ABC que tiveram os números contabilizados (Rio Grande da Serra não entrou no levantamento), apenas em São Caetano o nome não foi o mais escolhido. Por lá, os pais preferiram Maria.

A lista de preferências em 2014 inclui ainda outros nomes considerados tradicionais, como Miguel (909 crianças), Arthur (766), Gabriel (498) e João (363). Os registros dos cartórios de Rio Grande da Serra não entram na estatística porque, segundo a associação, o sistema só considerou denominações que tivessem pelo menos dez registros e, na cidade, poucos alcançaram essa marca.

A escolha dos nomes dos filhos depende de muitos fatores e tendências, de acordo com o filósofo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Ives Alejandro Munoz. “Já foi o tempo das homenagens a avôs ou avós. A mídia tem papel decisivo. Mocinhos e vilões de novelas ou filmes sempre estiveram entre os mais usados ou evitados. Hoje, com a internet, as opções podem ser mais vastas.”

Para a professora de psicologia da Fundação Santo André Ivete Pellegrino, a moda também influencia as decisões. Nesse caso, a televisão é atualmente a principal fonte ditadora de padrão. Segundo ela, isso explica o fato de nomes que antigamente eram comuns, como Marlene (11 registros no ano em todo o Estado), Deise (12), Geraldo (14), Osmar (15), Regina (18) e Rui (20) hoje estarem em desuso.

Homenagens aos ídolos também têm forte poder de influência. Cabe ressaltar que o auge do nome Davi pode estar relacionado ao fato de essa ter sido a escolha do jogador de futebol Neymar para batizar seu primeiro filho. “Crianças com nomes de celebridades podem carregar no imaginário dos pais uma imagem mais positiva, de sucesso ou realização”, acrescenta Munoz. 

Significado reforça decisão dos pais

A auxiliar administrativo Rosilda Alves, 35 anos, garante que sempre teve em mente o nome desejado para batizar o terceiro filho com o marido, Dayvid Robert. O pequeno Davi, hoje com quatro meses, nasceu em setembro para ampliar a família, que também conta com os irmãos Juan, 11, e Luara, 9.

Apesar de não ter levado em consideração nomes de artistas ou em alta em razão da moda, ela afirma ter pesquisado sobre o significado. “Gostei de saber que é um nome bíblico, que a sabedoria estava entre as suas características”, observa. A batalha de Davi e Golias, quando o guerreiro derrotou o gigante oponente, é uma das histórias mais conhecidas da Bíblia.

A moradora do bairro Eldorado, em Diadema, garante que não escolheu nome bíblico por causa da religião, tendo em vista que ela e o marido seguem a umbanda. “Apesar de não ser a minha religião, me atraiu saber o significado e também o fato de ser bem parecido com o nome do meu marido”, comenta. Rosilda ressalta ainda que, para ela, nomear uma pessoa é uma das coisas mais importantes da vida. “Não é só escolher pela beleza. Trata-se de sentir interiormente”. Ela acredita que acertou na escolha, tendo em vista que observa no filho características famosas do rei Davi, como personalidade forte. “Ele olha dentro do olho das pessoas quando conversamos com ele”, comenta. NF